5 questões sobre Saúde Coletiva comentadas

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Aqui, já falamos bastante sobre a eficácia do estudo por questões durante a preparação para a residência médica. Por isso, hoje, continuamos nossa série com cinco questões sobre Saúde Coletiva comentadas, testando seus conhecimentos e dando uma mãozinha para qualquer dúvida que surgir.

Para quem quer aprimorar a memorização de conteúdos e ganhar expertise sobre as provas de residência das diferentes instituições, essa é a estratégia certa. Agora, confira as cinco questões sobre Saúde Coletiva que separamos para você!

Questão 1

IAMSPE 2019 – O indicador do nível de saúde de uma determinada população que inclui os óbitos em todas as idades em um determinado ano é:

a. o coeficiente de mortalidade geral.

b. a esperança de vida.

c. o coeficiente de mortalidade específica.

d. o coeficiente de letalidade.

e. a razão de mortalidade proporcional.

Comentário:

Nessa questão conceitual de Saúde Coletiva sobre os indicadores de morbimortalidade, os avaliadores querem saber qual deles inclui os óbitos em todas as idades em determinado ano e população. Vamos olhar cada alternativa:

a. correta: o coeficiente de mortalidade geral representa as mortes da população geral em um determinado local e período. Exatamente o que a questão trouxe!

b. incorreta: a esperança de vida ao nascer (ou expectativa de vida ao nascer) é o número aproximado de anos que um grupo de indivíduos nascidos no mesmo ano vai viver as mesmas condições desde o nascimento forem mantidas. Ele não determina óbitos, mas anos de vida.

c. incorreta: para ser um coeficiente de mortalidade específica, teria que avaliar uma determinada parcela da população. Isso é tido de acordo com alguma característica (faixa etária, sexo, causa do óbito, etc), como a mortalidade infantil. No caso, como a questão fala que todos os óbitos foram observados, trata da mortalidade geral mesmo.

d. incorreta: enquanto o coeficiente de mortalidade observa as mortes de acordo com a população geral, aqui, observam-se as mortes entre pessoas com uma doença. Por isso, essa não poderia ser a resposta correta. Relembrando que, para calcular o indicador, no numerador, fica o evento a ser observado, no caso, o número de óbitos pela doença. Já no denominador, fica a população em risco, que são as pessoas com a doença, já que é avaliado o risco de ter a doença e morrer.

e. incorreta: a razão de mortalidade proporcional é outro nome para o indicador de Swaroop-Uemura, que mensura a proporção de pessoas que morreram com 50 anos ou mais em relação ao total de óbitos. No numerador, os óbitos em maiores de 50 anos. No denominador, o total de óbitos. Mais uma vez, como se avalia apenas uma parcela dos óbitos, essa não poderia ser a resposta da questão.

Visão do aprovado: para essa questão de Saúde Coletiva, o que podia ajudar era pontuar cada item que o indicador deveria mostrar:

1 – óbitos em todas as idades.

2 – óbitos em um período determinado (1 ano).

3 – óbitos em uma população.

A partir disso, fica mais fácil entrar nas alternativas. Além disso, dois conhecimentos poderiam ajudar na resolução: conhecer os conceitos de cada indicador e lembrar as fórmulas.

Nível de dificuldade: fácil

Gabarito: A

Questão 2

Einstein 2018 – Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 ou mais anos de idade, em 2015, foi de:

a. 3%.

b. 5%.

c. 8%.

d. 11%.

e. 15%.

Comentário:

A taxa de analfabetismo no Brasil, em 2015, entre pessoas de 15 anos de idade ou mais foi de 8%. Vamos aproveitar um pouco essa temática da pergunta sobre Saúde Coletiva e fazer algumas considerações.

Reduzir essa taxa está entre as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), lei nº 13.005/2014, que estabelece as ações para melhorar a educação no país até 2024, desde o ensino infantil até a pós-graduação.

Pela lei, no ano de 2015, o Brasil deveria ter atingido a marca de 6,5% de analfabetos entre a população de 15 anos ou mais. Em 2024, essa taxa deverá chegar a zero.

Os dados de analfabetismo no Brasil são medidos trimestralmente pela PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE, questionário que investiga características socioeconômicas.

No último dado divulgado, de 2019, a taxa de analfabetismo estava em 6,6% (que corresponde a 11 milhões de pessoas). Então, olhando cada alternativa, a correta é a C.

Visão do aprovado: essa pergunta de Saúde Coletiva vai direto ao ponto, não explorando outras dimensões do problema, mas serve para aprofundar alguns pontos importantes sobre o assunto.

Sempre é bom lembrar que essa taxa é diferente de acordo com a região, o gênero, a idade e a etnia. Segundo o senso de 2019, a região Nordeste apresentou a maior taxa de analfabetismo (13,9%). Isso representa uma média aproximadamente 4 vezes maior que as estimadas para as regiões Sudeste e Sul (ambas com 3,3%). Na região Norte, essa taxa foi 7,6 %. No Centro-Oeste, 4,9%.

Para as pessoas pretas ou pardas (8,9%), a taxa de analfabetismo foi mais que o dobro da observada entre as pessoas brancas (3,6%). A taxa de analfabetismo para os homens de 15 anos ou mais de idade foi 6,9%. Para as mulheres, 6,3%.

Nível de dificuldade: difícil

Gabarito: C

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Questão 3

Unicamp 2017 – Foi avaliada a taxa de mortalidade neonatal precoce em duas maternidades, uma em hospital universitário (12 por 1.000 nascidos vivos) e outra em uma pequena cidade do interior (8 por 1.000 nascidos vivos). Em relação às conclusões quanto à qualidade dos serviços, é CORRETO:

a. a taxa de mortalidade neonatal precoce não se relaciona diretamente com a qualidade dos serviços hospitalares, mas com a mortalidade infantil pós-neonatal.

b. a taxa de mortalidade neonatal precoce é a razão entre as mortes nos primeiros 28 dias a cada 1.000 nascidos vivos.

c. a maternidade do hospital universitário apresenta maior risco de morte entre os nascidos vivos da cidade.

d. não é possível comparar as taxas antes de padronizá-las segundo complexidade do atendimento.

Comentário:

O enunciado indica uma diferença, em números absolutos, na taxa de mortalidade neonatal precoce em duas maternidades. Essa é a única informação do enunciado. Veja as alternativas:

a. incorreta: ambas as taxas se relacionam com a qualidade dos serviços hospitalares, mas não exclusivamente.

b. incorreta: relembre a definição de taxa de mortalidade neonatal precoce: estima o risco de um nascido vivo morrer durante a primeira semana de vida.

– Número de óbitos de 0 a 6 dias completos de vida, por 1.000 nascidos vivos;

– Em determinado espaço geográfico;

– No ano considerado.

c. incorreta: a maternidade do hospital universitário apresenta uma maior taxa, em números absolutos, de mortalidade neonatal precoce. Isso não reflete maior risco de morte, pois não dá para saber a complexidade de cada local. Existem outros fatores a serem levados em conta.

d. correta: a diferença nas taxas de mortalidades neonatal precoce não são reflexo apenas da qualidade do atendimento. Baixa escolaridade materna, idade gestacional até 36 semanas, relato de realização de menos de 6 consultas de pré-natal, gestação múltipla, parto vaginal e baixo peso ao nascer do recém-nascido são fatores que a influenciam. Para realizar uma comparação entre as duas maternidades, é necessário levar esses fatores em consideração.

Visão do aprovado: muito cuidado para não comparar o incomparável. Hospitais universitários atendem a regiões inteiras, com várias cidades e, normalmente, casos de maior complexidade, já com maior risco de morte. Maternidades de cidades pequenas, normalmente, absorvem casos de risco habitual (baixo), que já possuem menos risco de morte. A questão queria esse discernimento.

Nível de dificuldade: fácil

Gabarito: D

Questão 4

Unesp 2021 – Assinale a alternativa que representa graficamente a evolução de óbitos diários por COVID-19 ocorridos no Brasil de fevereiro a novembro de 2020 (as barras representam o número de óbitos diários):

a. Alternativa A

b.Alternativa B

c. Alternativa C

d.Alternativa D

Comentário: essa é uma das questões sobre Saúde Coletiva que traz gráficos. Eles apresentam os óbitos diários por COVID-19 no Brasil entre fevereiro e novembro de 2020. Não foi uma questão fácil, principalmente porque alguns gráficos são bem parecidos!

Vamos ressaltar uma coisa: o gráfico é dos óbitos, porém, o número de óbitos seguiu um padrão bem semelhante ao gráfico de incidência da doença. Então, é possível interpretar sem medo.

Para ajudar na compreensão, observe a figura anexada. Esse é o gráfico retirado do site do Ministério da Saúde, mostrando os óbitos até o dia 27/01/2021. Olhando a curva em um período maior, é possível observar melhor o comportamento da pandemia.

Perceba que ela se comporta realmente com o padrão de ondas: a primeira onda entre março e meados de novembro, e a segunda iniciando-se pelo final de novembro. Nessa questão, era essencial se atentar para o período dado (fevereiro a meados de novembro).

Então, como se observou a diminuição no número de casos no início de novembro, ao final da primeira onda, procure uma alternativa que tenha a curva nesse padrão de aumento, pico e decréscimo.

a. correta: exatamente o comportamento que se procura. Caso não esteja vendo um pico, lembre-se que se passaram várias semanas com o número altíssimo de óbitos. Isso foi fruto da lentidão na tomada de ações de saúde pública. Assim, chegou a atingir uma espécie de platô na curva. Porém, se observar o gráfico todo, é possível ver que houve um momento com maior número de óbitos em junho. Nesse momento, medidas mais rígidas de isolamento foram tomadas, o que diminuiu os casos e, consequentemente, os óbitos. Porém, as medidas não se mantiveram por tempo suficiente, e os óbitos voltaram a aumentar. Daí, foram diminuindo de forma bem arrastada.

b. incorreta: essa seria possível de selecionar se, em outubro, os casos já tivessem começado a aumentar novamente. Porém, não foi o que ocorreu. Além disso, alguns dias tiveram mais de 1.500 óbitos. Então, essa não poderia ser a resposta da questão, já que a linha superior mostra apenas 1.250 óbitos.

c. incorreta: a primeira onda ocorreu de forma bem mais arrastada que o que está sendo mostrado aqui. No gráfico, é como se a primeira onda tivesse acabado em julho. Depois, tivesse tido uma breve segunda onda entre julho e agosto, enquanto uma terceira fosse iniciada em novembro. Além disso, tudo indica que esse segundo aumento no número de casos foi igual ou pior que o primeiro. Então, não teria essa segunda onda mais leve, como mostrado no gráfico dessa alternativa. Ela também poderia ser descartada pelo número de óbitos. Não se chegou a ter dias com muito mais que 1.500 óbitos. O máximo foi 1.595 óbitos.

d. incorreta: essa era a mais fácil de confundir porque mostrou esse comportamento de aumento, pico e decréscimo. Porém, ao final da curva, já dava para ver uma leve tendência de crescimento com alguns dias com um número maior de casos. Além disso, essa é mais uma alternativa da questão que mostra número diário de óbito maior que observado na realidade, chegando perto da linha de 3.000 óbitos. Outra coisa interessante é que esse gráfico mostra os óbitos diariamente, pois a curva nunca fica tão cheia como essa. Fica um sobe e desce constante, pois há muitos fatores envolvidos, de modo que o número de óbitos não é padronizado de um dia para o outro. Para ver um gráfico mais “limpo”, pode-se observar os óbitos por semana. Assim, as colunas são mais padronizadas.

Visão do aprovado: já era esperado que as bancas cobrassem alguma coisa sobre a pandemia da COVID-19 na prova de Saúde Coletiva. É interessante que os candidatos estejam atualizados com o que acontece no mundo, até pelo papel como profissionais de saúde. Além disso, foi necessário saber aplicar esses conhecimentos na forma gráfica. Por isso, fazer exercícios com interpretação de gráficos ajuda bastante e melhora a resolução das questões sobre Saúde Coletiva!

Nível de dificuldade: difícil

Gabarito: A

Questão 5

FMABC 2018 – Após a transição demográfica de um país, quais mudanças se pode esperar na população quando há diminuição da natalidade?

a. aumento na mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis

b. aumento da expectativa de vida

c. a população fica mais urbanizada e escolarizada

d. redução na proporção de crianças na população

Comentário: a teoria da transição demográfica foi elaborada pelo demógrafo estadunidense Frank Notestein, em 1929, sendo amplamente utilizada desde então. Basicamente, ela analisou o crescimento populacional da sociedade, com foco na Europa e na América do Norte, a partir do processo de industrialização.

Antes da Primeira Revolução Industrial, as sociedades estavam condicionadas a passar por elevadas taxas de natalidade, compensadas por uma igual mortalidade populacional.

No entanto, as taxas de mortalidade, em função das melhorias sociais e sanitárias, caíram, o que fez com que o número médio da população aumentasse aceleradamente, gerando um temor generalizado sobre o excesso de pessoas no mundo.

Uma dessas preocupações foi a própria Teoria Malthusiana, que afirmava que a população cresceria em uma velocidade maior que a produção de alimentos, o que resultaria em problemas como a fome e a miséria.

O que ocorre é que as taxas de natalidade só costumam cair após certo tempo, o que, consequentemente, gera a redução gradativa do crescimento populacional e até o envelhecimento demográfico, tal como ocorre atualmente na Europa.

O enunciado pergunta qual é a consequência esperada com a diminuição da taxa de natalidade. Reforçando: essa queda é resultado da baixa na taxa de fecundidade, secundária ao maior grau de instrução da mulher, ao planejamento familiar, à inserção da mulher no mercado de trabalho, ao acesso ao planejamento familiar, etc. Agora, vamos analisar as alternativas:

a. incorreta: o aumento da mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis é consequência das mudanças de estilo de vida, alimentação e saneamento básico. Não é possível afirmar que a queda na natalidade levará a esse aumento.

b. incorreta: novamente, não é possível fazer essa ligação direta (queda da natalidade e aumento da expectativa de vida). Por outro lado, acesso a melhores condições de saúde, moradia, saneamento e desenvolvimento de tecnologias na área da saúde, principalmente, podem elevar o número de anos vividos pela população.

c. incorreta: outra vez, não dá para fazer a correlação de causa e efeito. A urbanização depende de outras condições (oportunidade de emprego, melhor estrutura e qualidade de vida na cidade). A escolaridade depende de políticas públicas específicas.

d. correta: essa é a única ligação direta de causa e efeito que dá para fazer com a queda na taxa de natalidade.

Visão do aprovado: perceba que, nas alternativas incorretas, não há correlação de causa e efeito. Então, a dica é ler com calma e pensar sobre o que pode influenciar cada um dos itens.

Nível de dificuldade: fácil

Gabarito: D

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Acertou todas? Precisou relembrar algum conceito? Ao estudar pelas questões sobre Saúde Coletiva, você descobre quais são os assuntos que realmente domina e os que precisam de mais atenção durante o seu preparo para as provas de residência médica.

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JoanaRezende

Joana Rezende

Carioca da gema, nasceu em 93 e formou-se Pediatra pela UFRJ em 2019. No mesmo ano, prestou novo concurso de Residência Médica e foi aprovada em Neurologia no HCFMUSP, porém, não ingressou. Acredita firmemente que a vida não tem só um caminho certo e, por isso, desde então trabalha com suas duas grandes paixões: o ensino e a medicina. Siga no Instagram: @jodamedway