Salve, galera! Tudo certo? Esperamos que sim, porque hoje o papo é bem relevante: vamos falar sobre abdome agudo hemorrágico, abordando seu conceito, quadro clínico e principais sintomas, além de te ensinar como fazer o tratamento. Cola aqui comigo que eu vou explicar tudo o que você precisa saber.
Bora lá?
Sempre bom começar pelo começo, né? E pra já ficar bem clara, vamos à definição dessa grave doença.
Resumidamente, casos de abdome agudo hemorrágico são casos de dor abdominal associados ao quadro clínico de choque hemorrágico por sangramentos dentro da cavidade abdominal. Podem ocorrer em qualquer idade, mas são mais comuns entre a 5ª e 6ª décadas de vida.
Conciso, né? Agora que a base está mais clara, que tal falarmos um pouco do quadro clínico dessa doença?
Quando receber um caso que você suspeita que pode ser de abdome agudo hemorrágico, fique atento aos sintomas mais frequentes: dor abdominal súbita de localização difusa e sinais de choque hipovolêmico (palidez, diminuição do tempo de enchimento capilar, hipotensão, taquicardia, sudorese fria, agitação)
E olha só, fica ligado, porque no começo irão prevalecer sinais de choque hipovolêmico. A dor abdominal devido à irritação peritoneal pelo sangue pode estar ausente ou em pouca intensidade no começo. Por isso falamos que o exame físico sistêmico é rico, vai nos mostrar sinais de choque hipovolêmico, e o exame clínico abdominal muitas vezes é pobre, não nos dando sinais claros.
Fique atento também a alguns sinais que te alertam para uma hemorragia retroperitoneal:
– Sinal de Cullen: equimose periumbilical
– Sinal de Gray Turner: Equimose em região de flancos
– Sinal de Kehr: Dor aguda no ombro devido à presença de sangue ou outros irritantes na cavidade peritoneal, quando uma pessoa está deitada e com as pernas elevadas. Clássico sinal de ruptura de baço.
As principais causas de abdome agudo hemorrágico são gravidez ectópica rota e rotura de aneurisma da aorta abdominal.
Então, fica ligado, se chegar uma mulher no seu plantão em idade fértil, com atraso menstrual com o quadro clínico que te mostrei ai em cima, tem que acender uma luzinha para lembrá-lo de gravidez ectópica. Pensando ainda no sexo feminino, outras causas com sintomatologia semelhante são a rotura de miomas subserosos e cisto ovariano hemorrágico.
Com relação ao aneurisma de aorta abdominal, eles são mais frequentes em pacientes idosos e deve ser levantada a suspeita quando há presença de frêmitos ou massas palpáveis abdominais ou nos que já saibam ser portadores de aneurisma.
Todas essas foram descartadas e ainda não achou o motivo do sangramento? Anota essas outras causas:
CAUSAS DE ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO | |
PRINCIPAIS | – Gravidez ectópica rota – Ruptura de aneurismo abdominal |
DEMAIS | – Ruptura do vísceras parenquimatosas – Ruptura de vasos abdominais – Ruptura de tumores hepáticos, principalmente o adenoma, que é um tumor benigno mais comum em mulheres jovens e usuárias de anticoncepcionais. |
O diagnóstico é feito através do quadro clínico e de exames de imagens.
Com o paciente estável hemodinamicamente, pode-se realizar um ultrassom abdominal que irá ajudar a diagnosticar as 2 principais causas. Também pode-se utilizar uma tomografia computadorizada que irá dar mais dados de um aneurisma da aorta abdominal, como a altura do aneurisma e comprometimento das camadas da parede arterial.
Além disso, algumas fontes citam a realização do lavado peritoneal diagnóstico e a culdocentese (punção do fundo de saco de Douglas) como alguns exames que podem ser feitos, ajudando no diagnóstico de hemorragia intraperitoneal e gravidez ectópica rota, respectivamente. Apesar de estarem em desuso, podem ser úteis caso o serviço não tenha ultrassom disponível. Famoso “quem não tem cão, caça com gato”.
Não esquecer que toda mulher com hipótese diagnóstica de abdome agudo hemorrágico e em idade fértil admitida na Emergência deve ser submetida a dosagem de beta-HCG e teste qualitativo, beleza?
Os exames laboratoriais gerais servem para avaliação global, mas são inespecíficos. Logo abaixo vamos falar do tratamento, mas, antes disso, deixa eu te alertar para um ponto importante com relação aos exames: os valores de hemoglobina e hematócrito na fase inicial do atendimento não devem nortear a realização da reposição volêmica (ops, spoiler do tratamento), pois, às vezes, apesar do paciente estar em um choque hemorrágico, ainda não deu tempo para ocorrer a hemodiluição e os exames virão com valores dentro do esperado. Então bora ficar atentos com isso, combinado?!
O tratamento inicial será pela identificação do grau de choque seguida da reposição volêmica de acordo com o grau encontrado. Partiu revisar os graus do choque hemorrágico?!
CLASSE | PERDA ESTIMADA DE SANGUE | FC (BPM) | PA (mmhg) | PRESSÃO PULSO | FR (IRPM) | ESTADO MENTAL | REPOSIÇÃO VOLÊMICA |
I | < 750 ml (15%) | < 100 | Normal | Normal | 14–20 | Ansiedade leve | Cristalóide |
II | 750-1500ml (15-30%) | 100–120 | Normal | Reduzida | 20–30 | Ansiedade moderada | Cristalóide |
III | 1500-2000ml (30%-40% | 120–140 | Reduzida | Reduzida | 30–40 | Ansioso e/ou confuso | Cristalóide e sangue |
IV | >2000ml (>40%) | >140 | Reduzida | Reduzido | >35 | Comatoso, letárgico | Cristalóide e sangue |
Após a estabilização do paciente com a reposição volêmica, ele poderá realizar ultrassom e/ou tomografia para elucidar a causa e então, realizar o tratamento adequado.
Na gravidez ectópica o tratamento é cirúrgico e pode variar de uma salpingooforectomia (retirada de ovário e tuba uterina) a histerectomia total, dependendo da origem do sangramento. O sangramento de miomas subseroso pode ser tratado da mesma maneira.
O tratamento de aneurisma rotos pode ser feito por via intravascular, desde que rapidamente disponível. Entre as opções cirúrgicas, é possível a colocação de próteses ou derivações vasculares, dependendo da altura do aneurisma.
O tratamento da lesão de órgãos parenquimatosos abdominais (fígado, baço e rim) irá depender da estabilidade hemodinâmica do paciente, que quando é boa pode-se optar pelo tratamento não operatório. Já quando o paciente não se encontra estável, a laparotomia está indicada.
É isso ai, recado dado pessoal. Agora pode chover casos de abdome agudo hemorrágico que vocês estão craques, certo?!
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Um grande abraço!
* Colaborou Ieda Barreto Mourão Bertini, graduando de Medicina na PUCSP
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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