E aí, galera? Tudo certo? Hoje iremos falar sobre abdome agudo vascular, mas antes de nos aprofundarmos nesse tópico, precisamos compreender os diferentes diagnósticos diferenciais de dor abdominal. E não fiquem preocupados caso não se lembrem de nada sobre esse tema, pois trouxemos conceitos fundamentais abaixo e recomendamos a leitura do artigo “Principais diagnósticos diferenciais de pancreatite aguda”, disponível em nosso blog.
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Abdome agudo é uma síndrome caracterizada por dor abdominal repentina, geralmente intensa, associada ou não a outros sintomas e que necessita de diagnóstico e conduta terapêutica imediata, podendo ser cirúrgica. A maior dificuldade da abordagem do paciente com dor abdominal é a grande variedade de possíveis diagnósticos, alguns deles podendo estar sobrepostos. Além disso, nem sempre uma determinada patologia se manifesta de acordo com o usual.
Abaixo resumimos para vocês os tipos de abdome agudo de acordo com a causa desencadeante, bem como os prováveis diagnósticos de acordo com a região acometida, antes de entrarmos especificamente no abdome agudo vascular.
Informações gerais | Mecanismo/Etiologias | Condutas Iniciais | |
Hemorrágico | Mais comum entre a 5ª e 6ª década de vidaDor aumenta progressivamente | Sangramento espontâneoJovens ? rotura de aneurismas das artérias viscerais;mulheres ? causas ginecológicas e obstétricasidosos ? ruptura de tumores, veias varicosas e aneurismas de aorta abdominal. | Anemia e hipotensão ? reposição volêmica |
Obstrutivo | É o segundo mais comum | Presença de barreira mecânica ou funcionalhérnia estrangulada, aderências, doença de Crohn, neoplasia intestinal, diverticulites, fecaloma, impactação por bolo de arcaris, íleo paralítico, oclusão vascular | Vômitos e obstipação ? dieta zero |
Perfurativo | Terceira causa de abdome agudo, geralmente tem início súbito e difuso e está associado com choque e septicemia | Processos inflamatórios, infecciosos, neoplásicos; ingestão de corpo estranho; trauma | Dor intensa e hipertimpanismo ? cirurgia |
Infeccioso/Inflamatório | É o mais comum | Processos inflamatórios/infecciososapendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda e diverticulite | Febre e peritonite ? antibiótico |
Vascular/Isquêmico | Raro, porém com alta mortalidadeDor abdominal intensa, desproporcional as alterações do exame físico | isquemia mesentérica aguda e crônica; colite isquêmica | Dor intensa e difusa ? cirurgia |
ETIOLOGIA DE ACORDO COM A LOCALIZAÇÃO | ||||
DOR DIFUSA | QUADRANTE SUPERIOR DIREITO | QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO | QUADRANTE INFERIOR DIREITO | QUADRANTE INFERIOR ESQUERDO |
Peritonite | Cólica biliar | Síndromes dispépticas | Apendicite | Diverticulites |
Pancreatite | Colecistite | Pancreatite | Divertículo de Meckel | Patologias ovarianas |
Obstrução intestinal | Colangite | Refluxo gastroesofágico | Diverticulite cecal | Hérnia estrangulada |
Isquemia Mesentérica | Abscesso hepático | Esplenomegalia ou abscesso esplênico | Aneurisma de aorta | Gestação ectópica |
Gastroenterite | Síndrome dispéptica | Isquemia miocárdica | Gestação ectópica | Doença pélvica inflamatória |
Aneurisma ou dissecção de aorta | Congestão hepática | Miocardites e pericardites | Cistos ovarianos ou torção de ovário | Cálculos ureterais |
Doença inflamatória intestinal | Peri-hepatites | Pneumonia | Endometriose | Abscesso de psoas |
Intestino irritável | Trombose hepática | Cálculos ureterais | Pielonefrite | |
Crise álgica por anemia falciforme | Apendicite retrocecal | Abscesso de psoas | ||
Intolerância a lactose | Embolia pulmonar | Adenite mesentérica | ||
Insuficiência adrenal | Pneumonia | Hérnia estrangulada | ||
Porfiria intermitente aguda | Pancreatite | Pielonefrite | ||
Refluxo gastroesofágico |
Agora sim, galera, vamos falar especificamente do abdome agudo vascular!
O abdome agudo vascular ocorre quando há sofrimento de uma víscera por interrupção súbita do aporte sanguíneo para esse órgão. Mas vocês sabem por que ele acontece? Geralmente esse evento é secundário a um mecanismo oclusivo (embolia, trombose) ou não oclusivo (diminuição do débito cardíaco), que provoca a redução acentuada do fluxo sanguíneo mesentérico. O fluxo resultante, ao não conseguir suprir as demandas metabólicas, leva a graus variados de lesão.
Se você puxar um pouco pela memória, irá lembrar que o tronco celíaco e as artérias mesentérica superior (AMS) e mesentérica inferior (AMI) são as principais artérias envolvidas na irrigação do trato gastrointestinal, por isso, são os vasos envolvidos nesse processo e estão diretamente relacionadas com a extensão e gravidade do episódio, a exemplo da AMS e seus ramos, que leva a maiores áreas de isquemia intestinal.
Outros fatores intimamente relacionados são a duração, a intensidade do fenômeno isquêmico e a presença de circulação colateral, esta última capaz de compensar a diminuição do fluxo na área comprometida.
Alguns fatores de risco do abdome agudo vascular estão intimamente relacionados a este processo, como a idade avançada, a doença vascular, a fibrilação arterial, as doenças valvares, as cardiopatias e a hipercoagulação.
Embora essa síndrome possua uma apresentação variável, dependente da localização, do comprometimento do órgão e do acometimento vascular, tem algo que chama bastante atenção e pode guiar você: dor abdominal intensa, desproporcional às alterações do exame físico.
Pacientes com sinais claros de irritação peritoneal devem ser encaminhados diretamente à laparotomia, tanto para diagnóstico quanto para tratamento.
Exames laboratoriais geralmente não apresentam achados específicos de abdome agudo vascular, mas devem ser solicitados, são eles: hemograma, amilase e lipase, gasometria arterial, dosagem de eletrólitos e marcadores de necrose miocárdica. Atenção: em mulheres em idade fértil, não esquecer de solicitar o Beta-HCG para descartar gravidez.
O exame padrão ouro é a angiografia, que consegue identificar o vaso acometido e, muitas vezes, tratar a obstrução vascular. A tomografia computadorizada, no entanto, é o exame mais utilizado, tendo em vista a maior facilidade de acesso e menor invasividade. Nela, conseguimos visualizar os principais troncos arteriais e venosos mesentéricos, e seus achados mais comuns são a identificação direta do trombo arterial ou venoso, distensão gasosa de alças, perda do realce intestinal, pneumatose intestinal.
A radiografia de abdome pode revelar distensão de alças intestinais e níveis líquidos (achado mais comum), enquanto a USG tem contexto reduzido na isquemia, devido a distensão abdominal diminuir a visibilidade.
Vamos nos basear em 3 pilares para analisar o tratamento de abdome agudo vascular:
ISQUEMIA MESENTÉRICA AGUDA | ||
Relativamente raro Mortalidade alta Tratamento deve ser precoce | ||
Em casos de dor abdominal “desproporcional” aos exames | ||
Embolia mesentérica (superior) – Dor súbita epigástrica, desproporcional ao exame físico, febre e hematoquesia Trombose aguda – Dor súbita epigástrica importante e súbita, história pregressa de angina abdominal, perda de peso Isquemia não oclusiva (baixo fluxo) – Dor insidiosa, mais difusa com piora e melhora, “pouco progressiva” Trombose venosa mesentérica – Inespecífica, náusea, vômito, diarreia, cólicas, sem localização definida | ||
Inespecíficos ? HAS, tabagismo, doença vascular periférica, coronariopatiasEspecíficos ? História recente de evento cardíaco, história prévia de embolismo, aterosclerose, distúrbios de coagulação e uso de anticoncepcional (estrógeno) | ||
Tratamento | ||
Situação | Elemento essencial ao diagnóstico precoce | Tratamento da lesão específica |
Embolia mesentérica (superior) | Angio-TC Laparotomia imediata | Laparotomia Embolectomia Bypass vascular Avaliar a viabilidade e remover o intestino inviável |
Trombose aguda | Ecodoppler Angiografia | Abordagem endovascular: trombólise, angioplastia e colocação de stent Endarterectomia/trombectomia ou by-pass vascular Avaliar a viabilidade e remover o intestino inviável |
Já sabe o que fazer quando chegar um paciente com dor abdominal no seu plantão? Esperamos que esse texto tenha te ajudado a entender melhor a identificar um abdome agudo vascular.
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Valeu, até a próxima!
*Colaborou: Gabriela Lobato Virgolino, aluna da faculdade UEPA
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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