Aborto espontâneo: saiba como identificar e proceder

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Hoje, vamos falar sobre um assunto delicado. O aborto espontâneo é um momento difícil para a paciente gestante, que exige sensibilidade extra da parte do médico, além dos procedimentos-padrão. Afinal, você não vai lidar apenas com um quadro de saúde, mas também com sentimentos de tristeza e luto.

Por isso, é importante saber ouvir a paciente sem julgamentos e comunicar o diagnóstico de maneira adequada. Essa sensibilidade é adquirida com a experiência, mas você já pode entender mais é aborto espontâneo e se preparar para os futuros atendimentos desde o início dos estudos.

O que é aborto espontâneo?

Chamado popularmente de “perda de gravidez”, o aborto espontâneo ocorre quando a gestação intrauterina torna-se inviável até 20 semanas. No entanto, é mais comum que aconteça logo no primeiro trimestre, quando o feto ainda não está bem desenvolvido.

Quando ocorre de forma natural, no início da gravidez, o aborto também pode ser chamado de “perda gestacional precoce”. Mas também pode ocorrer, com menor frequência, após a 20ª semana. Quando a interrupção acontece em gravidez avançada, já é normalmente utilizada a denominação de “natimorto”.

Embora o assunto ainda seja tabu para muitas pessoas, o aborto espontâneo é a complicação mais comum da gravidez. Acomete de 15 a 20% das gestações clinicamente evidentes e até 50% das gestações laboratorialmente evidentes, de acordo com o MSD Manual for Gynecology and Obstetrics.

O que pode causar um aborto espontâneo?

O diagnóstico correto pode ajudar a paciente a prevenir outras interrupções de gravidez ou buscar soluções viáveis para aumentar a família, se esse for o desejo. Por isso, é importante saber quais foram as causas do aborto espontâneo.

Em muitos casos, a etiologia das interrupções de gravidez é desconhecida. Porém, ainda segundo a publicação científica, estima-se que de 80 a 90% das perdas ocorrem por causas embrionárias, como malformações, alterações cromossômicas, aneuploidias e síndromes gênicas.

Também pode haver fatores maternos, como idade avançada, diabetes, hipotireoidismo ou trombofilias. O histórico de outras gestações, como morte fetal intrauterina, aborto anterior ou bebê nascido com malformações, é outro fator a ser levado em conta para analisar o problema.

Como identificar um aborto espontâneo

O primeiro passo no atendimento é verificar os sintomas de aborto espontâneo. Embora haja casos assintomáticos, com perda gestacional precoce diagnosticada na ultrassonografia, boa parte das pacientes pode sentir incômodos, dores e outras complicações.

Entre as pacientes sintomáticas, as queixas mais frequentes são de sangramentos e cólicas, mas também pode haver perda ou diminuição dos sintomas de gravidez, como enjoos e sensibilidade mamária. Já as complicações podem incluir hemorragias e infecções.

Porém, alguns dos sintomas de aborto podem ser os mesmos de outros problemas menos graves na gestação. Para ter certeza de que houve perda da gravidez, é necessário realizar rapidamente os procedimentos indicados para diagnóstico.

Como o diagnóstico funciona

Após análise de sintomas, é indicado fazer um estudo ultrassonográfico seriado. Isto é, se houve gravidez confirmada em ultrassom anterior, e o próximo exame não revele sinais de gestação ou atividade cardíaca do feto observada previamente. No entanto, o diagnóstico com uma única ultrassonografia também é comum.

Para avaliar o ultrassom, há critérios da Society of Radiologists in Ultrasound (SRU) que incluem um diâmetro médio do saco gestacional ≥ 25 mm ou um embrião com comprimento coroa-nádega (CRL) ≥ 7 mm. Outros critérios incluem diâmetro ≥ 21 mm ou CRL de ≥ 6 mm, sem atividade cardíaca para confirmação.

Se o recurso de ultrassom não estiver disponível com facilidade, também pode ser feito o teste em série de gonadotrofina coriônica humana (hCG). Uma queda significativa de hCG em 48 horas do aparecimento de sintomas pode auxiliar no diagnóstico de aborto espontâneo.

Outra alternativa é realizar um exame bimanual para estimar a idade gestacional e compará-la com a idade gestacional estimada previamente, verificando se o colo do útero está aberto e há tecido no canal cervical.

Tipos de aborto espontâneo

A partir das informações obtidas em atendimento e diagnóstico, é possível subcategorizar os diferentes casos de perda gestacional precoce (EPL), o que ajuda a determinar os procedimentos seguidos pelo médico.

A EPL assintomática apresenta-se sem sangramento, cólicas ou passagem de tecido, enquanto a EPL sintomática é caracterizada pela presença de sinais claros, como sangramento atípico e cólicas frequentes. Já a EPL completa é assim chamada por ter ocorrido a passagem completa do tecido da gravidez.

Na EPL incompleto, ou aborto retido, há retenção de tecido fetal ou placentário no útero. Para evitar infecções, hemorragias e outras complicações graves, é necessário tratamento imediato, que pode ser feito com fármacos, manejo clínico ou cirurgia, dependendo de cada caso.

Como tratar a paciente

Inicialmente, é necessário identificar possíveis situações de emergência, como hemorragia com instabilidade hemodinâmica, infecção intrauterina e sepse. Pacientes com infecção sintomática grave necessitam de tratamento cirúrgico urgente e não são candidatas a tratamento expectante ou medicamentoso.

Já o procedimento padrão inclui diversos exames, como hemograma completo, estudos de coagulação e anticorpos, hemoculturas aeróbicas e anaeróbicas, além de testes de ISTs e tipos de sangue. Determinar o status RhD identifica se é preciso administrar imunoglobulina Rh.

A paciente deve passar por terapia medicamentosa, com administração de fluidos intravenosos ou antibióticos. Em casos de retenção de tecidos no útero, muito comuns, é necessário realizar procedimentos de esvaziamento uterino, como curetagem e aspiração manual intrauterina (AMIU).

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AnuarSaleh

Anuar Saleh

Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.