Fala, pessoal! Hoje trataremos de um assunto importantíssimo, principalmente para aquele plantãozinho cheio de surpresas: acidentes com animais peçonhentos.
Aqui, é importante que vocês não se enganem com o tamanho desses bichinhos, pois o estrago pode ser grande. Então, papel e caneta na mão e vem tranquilo!
Em resumo, escorpionismo é o quadro clínico resultado da inoculação de veneno na vítima, através do ferrão do escorpião.
Não sei se vocês lembram das aulas do Ensino Médio, mas o escorpião é um artrópode da classe dos aracnídeos e seu corpo é segmentado em cefalo#$&*… Opa, deixa isso pra lá! O que precisamos saber é que aquela estrutura no final da cauda – o famoso télson – contém o ferrão responsável pela inoculação da peçonha na vítima.
Essa estrutura, um tanto quanto delicada, pode nos ajudar a reconhecer ou suspeitar de um acidente escorpiônico, uma vez que não se esperam grandes lesões no local atacado.
O escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), além de ser a espécie com maior potencial para complicações em seus envenenamentos, é a mais distribuída no território nacional.
Precisamos manter um alto grau de suspeição clínica quando se trata de um acidente com animais peçonhentos, pois o diagnóstico é clínico: epidemiológico.
Lembre-se: o escorpionismo ocorre predominantemente na zona urbana.
A lesão clássica é hiperemia ao redor de pequena vesícula central. Porém, fique atento, é comum a ausência de lesões de pele no local da picada.
Pense na seguinte situação: chega em seu plantão um garoto de 17 anos de idade que relata ter acordado há 15 minutos, sentindo fortes dores na região do antebraço direito. Na inspeção, você observa a lesão da figura acima.
O paciente relata estar sentindo muita dor, formigamento e sudorese no local acometido. Não há alteração de sinais vitais e o rapaz não apresenta outras queixas.
O exemplo trata de uma apresentação clássica e, inclusive, a mais comum nos acidentes com escorpião. Na maioria das vezes, os pacientes desenvolvem dor intensa local, podendo vir associada com parestesia e sudorese local. Portanto, serão classificados como leve.
Para tratarmos os acidentes escorpiônicos, precisamos saber como classificá-los de acordo com as manifestações clínicas do paciente.
Outra questão importante é o status imunológico do paciente. O que eu quero dizer com isso? Acompanhe:
Podemos classificar os episódios conforme a manifestação clínica dos pacientes, de acordo com tabela a seguir.
Classificação | Sintomas |
I – LEVE | Sintomas locais: dor, parestesia e sudorese. |
II – MODERADO | I + manifestações sistêmicas: agitação, ataxia, taquipneia, taquicardia, náuseas/vômitos e sialorreia. |
III – GRAVE | II + manifestações sistêmicas graves: rebaixamento do nível de consciência, vômitos profusos e incoercíveis, sialorreia intensa hipertensão, Insuficiência cardíaca aguda, arritmias, edema agudo de pulmão, choque, bradicardia e pancreatite aguda. |
Paciente com sintomas leves devem ser tratados com manejo da dor. Dessa forma, podemos usar analgésicos simples como dipirona e paracetamol, e também podemos lançar mão dos anti-inflamatórios e até do bom e velho tramadol. Além disso, podemos considerar o uso de morfina.
Uma medida bastante eficaz para o controle da dor é a realização da infiltração de lidocaína 2% sem vasoconstritor na região. Um efeito satisfatório pode ser alcançado com a realização de um “botão anestésico’”, usando de 2 a 4 ml da substância.
Ufa, bastante coisa, hein, pessoal! Nestas breves linhas, você aprendeu como identificar, classificar e manejar o escorpionismo, um dos principais acidentes com animais peçonhentos. Sem dúvidas, logo você usará este conhecimento em sua prática diária. Afinal, a picada de escorpião é um evento comum.
Ah, lembre-se de uma coisa: esses bichinhos têm medo da gente e seu comportamento raramente é agressivo. A picada geralmente ocorre quando estamos mexendo em entulhos ou ao calçar sapatos e roupas em que eles estão, tornando a picada uma medida reflexa. Portanto, oriente os pacientes a usarem EPIs e sacudirem roupas antes de colocá-las – principalmente, aquelas guardadas nas profundezas dos baús há anos.
Esperamos muito que você tenha gostado. Agora que você já está mais informado sobre acidentes com animais peçonhentos, confira mais conteúdos de Medicina de Emergência, dá uma passada lá na Academia Medway. Por lá disponibilizamos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos! Por exemplo, o nosso e-book ECG Sem Mistérios ou o nosso minicurso Semana da Emergência são ótimas opções pra você estar preparado para qualquer plantão no país.
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Aquele abraço, pessoal! E até a próxima.
Nascido em 1990, em Cuiabá-MT, formado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 2020. Experiência como oficial médico temporário no 37° Batalhão de infantaria leve. Residência em Medicina de Emergência na Universidade de São Paulo (USP - SP). Amante da adrenalina se interessa por resgate aeromédico, usg-point of care e medicina de áreas remotas.