Você sabia que “Amenorreia” é um dos principais temas de ginecologia nas provas de residência? As questões sobre as amenorreias primárias seguem sempre o mesmo raciocínio, então depois de aprender você não vai errar mais!
Você sabe como diferenciar síndrome de Rokitansky de Síndrome de Morris? E sabe pra quê serve o teste do GnRH?
Então vem com a gente e bora esclarecer tudo isso e finalmente entender: por que parou? Parou por quê?
Antes de falar sobre as amenorreias primárias, vamos definir alguns pontos sobre as definições!
Antes de mais nada, bora definir o que é amenorreia:
Dizemos que uma paciente está em amenorreias primárias quando ela nunca apresentou a menarca. Porém, até quando podemos aguardar a primeira menstruação sem que isso seja considerado anormal?
A resposta para isso é: depende. Principalmente do desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, em especial do desenvolvimentos das mamas.
Então, vamos chamar de “amenorreias primárias” algumas situações:
Chamamos de “amenorreia secundária” quando uma mulher que já apresentou a menarca pára de menstruar. Mas aqui sempre devemos diferenciar de uma irregularidade da menstruação. Por isso, também precisamos de alguns critérios para definir como amenorreia secundária:
O fluxograma de investigação da primária e da secundária são diferentes! No post de hoje, vamos começar falando sobre a investigação da amenorreia primária! E não deixe de checar os outros posts que tratam do diagnóstico de amenorreias secundárias.
Para avaliação dessas pacientes, vamos seguir alguns passos:
A primeira coisa que devemos avaliar frente a uma amenorreia primária é exatamente o que já pontuamos: essa paciente já apresentou desenvolvimento de mamas?
Caso a resposta seja sim, ou seja, essa paciente já apresentou a telarca, temos uma informação clínica de que ela já foi exposta ao estrogênio. Guardem isso. Telarca = exposição ao estrogênio!
E, se tem estrogênio, muito provavelmente ocorreu a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano. Visto isso, vamos começar a analisar o fluxograma abaixo mais a fundo!
Se nossa paciente não apresentou desenvolvimento de mamas, significa que ela não tem estrogênio suficiente circulando, ou seja, não houve ativação do eixo. Essa condição é chamada de hipogonadismo.
Primeira coisa é solicitar um USG para garantir que a paciente tem útero!
Assim logo excluímos algumas condições mais raras, como:
Depois bora solicitar o FSH:
Pensem comigo. Se temos um FSH alto em uma paciente sem estrogênio, significa que o hipotálamo e a hipófise estão “tentando” estimular os ovários com toda a carga possível, mas isso não está funcionando. Ou seja, o problema nessa situação é periférico – as gônadas não estão respondendo ao FSH!
Aqui as principais causas são:
Agora a situação é diferente. O FSH está reduzido, ou seja, não há gonadotrofinas para estimular os ovários e é por isso que eles não estão produzindo estradiol! Sendo assim, sabemos que, se o FSH está reduzido, o problema é central e o FSH não está chegando para estimular as gônadas;
Aqui ainda precisamos descobrir se o defeito é lá em cima no hipotálamo ou um pouco mais abaixo na hipófise. Então vamos pedir RM de crânio e teste do GnRH.
O teste do GnRH é feito a partir da aplicação de GnRH (ou de seu agonista) e posterior dosagem das gonadotrofinas no sangue periférico. Isso permite avaliar se a hipófise está respondendo ou não a esse estímulo.
Visto isso, se houver liberação de FSH/LH após estímulo, significa que a hipófise está funcionando. Então o defeito é hipotalâmico.
Os possíveis diagnóstico que podemos encontrar aqui são:
Agora, se não liberar FSH/LH após o estímulo com GnRH, o defeito deve ser hipofisário! Nessa situação, deveremos investigar como diagnósticos diferenciais:
Frente à uma paciente que nunca menstruou, mas apresenta desenvolvimento mamário, devemos iniciar nossa investigação partindo do básico: exame físico completo e Ultrassom transvaginal. Acompanhem no fluxograma apresentado – agora estamos indo pro lado direito dele!
A ideia aqui é avaliar:
Temos assim 3 possibilidades:
A paciente está menstruando, mas a menstruação não consegue sair devido a uma obstrução na saída (Criptomenorreia). As principais causas são:
Aqui deveremos investigar causas de anovulação crônica, sendo mais comumente observadas em casos de amenorreia secundária.
Para fechar o diagnóstico iremos precisar de alguns exames, como a Prolactina e TSH.
Caso venha tudo normal: segue a mesma investigação de amenorreia secundária.
Nesse caso, temos dois principais diagnósticos diferenciais. Um deles é uma malformação mulleriana, enquanto o outro é uma alteração de receptores androgênicos.
Vamos bater o martelo aqui com a realização do cariótipo:
Ufa! O diagnóstico das amenorreias primárias pode parecer complicado, mas é só ir destrinchando cada um dos passos, com calma e atenção, que tudo se resolve e dá pra acertar qualquer questão na prova de Residência.
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Até a próxima!
Gaúcho. Médico formado pela UFPEL, residente de Ginecologia e Obstetrícia na UFMG. Tenho 2,04m de altura, sou cozinheiro cria da quarentena e tenho FOAMed na veia. Bora junto!