Há alguns meses a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) lançou novas diretrizes sobre síndromes coronarianas agudas sem elevação do segmento ST (SCASEST), que estão correlacionadas à angina instável. A atualização desse documento provou, entre outras mudanças, a alteração da conduta no que diz respeito a abordagem diagnóstica no pronto-socorro, estratificação de risco e terapia farmacológica. Não vamos comentar sobre todas as alterações, mas você precisa saber um pouco mais sobre a angina instável – e iremos te ajudar para que isso ocorra de forma organizada.
“Como assim?”. A diminuição da oferta e/ou o aumento da demanda miocárdica de oxigênio em conjunto com graus variados de obstrução na artéria coronariana causam dor. Portanto, você precisar estar pronto para diferenciar dor diagnóstica de angina instável daquelas outras causas de dor torácica, sem criar confusão e evitando erros.
Angina instável é definida como isquemia miocárdica que acontece em repouso ou aos mínimos esforços na ausência de injúria/necrose da célula muscular cardíaca. Laboratorialmente, por via de regra, se subiu a troponina em pacientes com suspeita de SCASEST é infarto!
A lesão do cardiomiócito faz com que haja aumento do marcador laboratorial específico para injúria/necrose. E se não subir troponina? Então, neste contexto supracitado, o diagnóstico será de angina instável.
A introdução e disseminação de troponina ultrassensível em vez da troponina padrão, resultou em aumento da detecção de infarto do miocárdio e diminuição recíproca do diagnóstico de angina instável em pacientes com suspeita de SCASEST, beleza?
Obviamente que na angina instável o risco de morte é menor do que em pacientes com diagnóstico de infarto e, em geral, também se beneficiam menos de abordagem farmacológica agressiva e da estratégia invasiva em até 72 horas a depender do caso em questão.
Atualmente, em serviços que já adquiriram este novo exame diagnóstico, você deve confiar que, na ausência da sua elevação, o diagnóstico será angina instável quando aliado aos conceitos que vamos colocar abaixo. Se o seu serviço contar com troponina ultrassensível é dispensável a dosagem de CK e CKMB pelas novas recomendações.
O diagnóstico da angina instável baseia-se no quadro clínico clássico associado com a exclusão de diagnóstico de infarto – pelo teste da troponina ultrassensível – em pacientes com suspeita de SCASEST.
Então, vamos lá: quais são as características da angina instável? Pelo menos uma destas três:
O desconforto torácico tipicamente anginoso é marcado por irradiações, geralmente nos membros superiores e pescoço; frequentemente associado ao esforço ou ao estresse emocional, que alivia dentro de 5 a 10 minutos com o repouso ou com uso de nitrato; simultaneamente pode haver náuseas, vômitos, dispnéia ou sudorese; e em pacientes que já experimentaram quadro anginoso, remetem similaridade ao evento prévio.
O eletrocardiograma na angina instável pode ser normal ou não diagnóstico em mais de 50% dos pacientes. Alterações secundárias de repolarização ventricular, por exemplo o infradesnivelamento do segmento ST ou inversão de onda T ocorrem em apenas 30 a 50% dos casos de angina instável – realidade que pode não te ajudar de forma isolada, sobretudo se estiver normal!
Vale lembrar que o pronto-socorro é um ambiente estressante em que você precisa tomar decisões assertivas o tempo todo. Angina instável é um diagnóstico importante e o doente pode estar sob risco de morte ou evento cardiovascular mais grave.
Os diagnósticos diferenciais mais comuns divididos por sistemas orgânicos pra você não deixar passar, toda vez que estiver frente a um caso possível de angina instável:
Você deve estar atento, pois até mesmo a dor de origem psicogênica pode te confundir com angina instável.
O diagnóstico de angina instável não vem de um teste complementar ou de imagem em que virá num laudo descrito: “Angina instável, correlacionar com dados clínicos”. É fornecido através de bate papo! Anamnese e reconhecimento de padrão anginoso!
Daí beleza, você conseguiu juntar as peças de uma dor anginosa que possua características de instabilidade. Acabou por aí? Você vai conduzir todos os pacientes com angina instável da mesma maneira? Bicho, NÃO!
O próximo passo é estratificar adequadamente o paciente.
Existem escores de risco que foram desenhados por meio de sistema de pontuação, bem validados com número grande de pacientes e com os quais você precisa se familiarizar. Quanto maior for o escore, maior será o risco do paciente e o mesmo se beneficiará de estratégia invasiva precoce e tratamento antitrombótico de maior intensidade.
Escore TIMI é uma avaliação mais simplista e rápida. Escore GRACE é mais complexo, porém mostrou ser mais acurado.
Ambos são sistemas que vão gerar um resultado numérico, após a soma de vários fatores independentes de risco de morte cardiovascular! Daí então interpretaremos os seus resultados. “Uai? Mas e se um der risco moderado e outro alto?” . Papo reto: você vai considerar o pior cenário para conduta adicional frente a angina instável, beleza?!
Escore TIMI é reconhecido pelas variáveis abaixo, cada uma pontuando 1:
* HAS, DM, Dislipidemia, tabagismo, história familiar de DAC.
Resultados: escore 0-2 pontos = baixo risco. Escore 3-4 = risco intermediário. 5 ou mais = alto risco.
Já o escore GRACE é reconhecido por 8 variáveis independentes de risco cardiovascular, com sistema mais complexo que o TIMI. Existem softwares, sites ou aplicativos que podem te ajudar com este cálculo. Suas variáveis são:
Resultados: escore < 109 pontos = baixo risco. Escore 109-140 = risco intermediário. > 140 = alto risco.
Na prática, você precisa saber que angina instável com TIMI > 2 ou GRACE > 140 necessitam de investigação. Essa investigação precisará ser mais breve possível.
Outro detalhe importante: a avaliação de conduta complementar na angina instável deve ser individualizada tendo como base antecedentes e história clínica, além destes escores apresentados.
Recentemente outro escore foi criado para prever morte ou desfechos cardiovasculares, chamado HEART, que permite uma obtenção de variáveis mais fácil.
HEART é um acrônimo! History (história), ECG, Age (idade), Risk factors (fatores de risco), Troponin (troponina).
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Voltando ao nosso tópico, o escore HEART cada variável pontua de 0 a 2. A pontuação total pode ser entre 0-10. Após a soma, 0-3: baixo risco; 4-6 risco intermediário; 7-10 alto risco.
Note que todos esses escores apresentados incluem o fator idade, desvio de segmento ST e elevação de troponina!
Ou seja: na síndrome coronariana aguda, descartados supra de ST, IAM sem supra e os principais diagnósticos diferenciais de angina instável, devemos indicar o próximo passo. A forma de estratificar o seu paciente vai variar!
As opções mais frequentes são cateterismo cardíaco, testes que associem imagem cardíaca com estresse ou angiotomografia de coronárias, a depender do risco encontrado de cada paciente e disponibilidade local.
Obviamente, em casos de alto risco, partiremos direto para o cateterismo cardíaco diagnóstico e eventualmente terapêutico. Alguns pacientes não precisam ser inclusos em escores de risco para a tomada de decisão, você sabe quais são?
Vamos lá: evidência de choque cardiogênico ou de disfunção ventricular, angina recorrente e de difícil controle com a terapia farmacológica, instabilidade elétrica ou hemodinâmica. Esses pacientes no cenário em que aprendemos aqui, de angina instável, com eletrocardiograma normal ou não diagnóstico, devem ser encaminhados ao laboratório de cateterismo.
Avaliação clínica aliada aos escores de gravidade TIMI, GRACE e HEART nos auxiliará na melhor conduta frente ao paciente com angina instável.
Não tem segredo. São análises que não devem ser impostas de maneira isolada, mas que, em conjunto, pode te tirar da “sinuca de bico” da subjetividade. A conduta adicional a ser indicada na angina instável é tão importante quanto o seu reconhecimento.
Fatores de interseção dos escores são os mais importantes: eletro, troponina e idade, beleza?
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Esperamos que esse texto tenha te ajudado a entender melhor a angina instável, do diagnóstico ao tratamento!
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Um abraço!
Nascido em 1990. Médico graduado em 2014. Formado em Clínica Médica pelo Hospital Santa Marcelina-SP. Residência em Cardiologia da UNIFESP-EPM. Ex-preceptor, médico concursado do Hospital do Servidor Público Municipal - SP. Apaixonado por aprender e ensinar; fascinado pela Medicina.
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