Fala, galera! Hoje vamos falar sobre o choque hipovolêmico. Você sabia que o choque é uma condição de falência circulatória que causa o fornecimento inadequado de oxigênio para atender as necessidades celulares e de consumo de oxigênio? O choque hipovolêmico é apenas um dos vários tipos de choque, sendo ele o mais frequente, que ocorre devido à redução do volume intravascular (ou seja, pré-carga reduzida), a qual, por sua vez, reduz o débito cardíaco. Assim, há volume sanguíneo circulante inadequado, resultante de hemorragia ou depleção aguda de volume.
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Voltando ao nosso tema, dividimos em choque hipovolêmico hemorrágico e não hemorrágico .
HEMORRÁGICO (volume intravascular reduzido devido à perda de outros fluidos que não sangue) | NÃO HEMORRÁGICO (volume intravascular reduzido devido à perda de sangue) |
Trauma (contuso ou penetrante) | Perdas gastrointestinais (diarreia, vômito, drenagem externa) |
Sangramento gastrointestinal (varizes de esôfago, úlcera péptica, etc.) | Insolação, queimaduras, condições dermatológicas |
Sangramento intra e pós-operatório | Perdas no espaço extravascular ou cavidades corporais (por exemplo, pós-operatório e trauma, obstrução intestinal, lesão por esmagamento, pancreatite, cirrose) |
Dissecção de aorta | Perdas renais (por exemplo, diurese osmótica ou excessiva induzida por drogas, nefropatias perdedora de sal, hipoaldosteronismo) |
Gravidez ectópica rompida / Cisto hemorrágico de ovário roto |
Obs: como podemos ver na tabela acima, nem sempre o paciente com quadro de choque hipovolêmico vai apresentar um quadro de hipotensão. Por isso, pessoal, na sala de emergência, com pacientes críticos, devemos ter o raciocínio rápido e amplo para não comer bola.
Parâmetro | Classe I | Classe II (leve) | Classe III (moderada) | Classe IV (grave) |
Perda de sangue aproximada | < 15% | 15-30% | 31-40% | > 40% |
Frequência cardíaca | normal | normal ou ↑ | ↑ | ↑/↓↓ |
Pressão arterial | normal | normal | normal ou ↓ | ↓ |
Pressão de pulso | normal | ↓ | ↓ | ↓ |
Frequência respiratória | normal | normal | normal ou ↑ | ↑ |
Débito urinário | normal | normal | ↓ | ↓↓ |
Glasgow | normal | normal | ↓ | ↓ |
Déficit de base | 0 a –2 mEq/L | –2 a –6 mEq/L | –6 a –10 mEq/L | –10 mEqou menos |
Necessidade de produtos sanguíneos | monitor | possível | sim | protocolo de transfusão massiva |
Como vimos anteriormente, o choque é o desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio. Portanto, veremos que o choque hipovolêmico deve ser suspeitado em pacientes com sinais de hipoperfusão tecidual, como:
Você sabia que é de extrema importância retirar toda a roupa do paciente para avaliá-lo? A avaliação do livedo reticular é de extrema importância, pois a área em que este se insere, ao redor do joelho, está diretamente relacionada à mortalidade, sendo um marcador importante de hipoperfusão tecidual no exame físico. O escore de Mottling é definido a partir da extensão do livedo, iniciando-se no joelho e se estendendo até coxa e perna. Esse escore é dividido de zero a cinco, sendo diretamente proporcional ao comprometimento e gravidade.
Outra observação bacana é que o BE (base excess) da gasometria está ligado diretamente à gravidade do choque e a necessidade de expansão volêmica/sanguínea.
A hiperlactatemia geralmente está presente e se associa à hipóxia celular. O valor normal é de 1 mmol/L (ou 9 mg/dL), e o nível aumentado é > 2 mmol/L (ou >18 mg/dL).
Ah, e por falar nisso, você conhece o Shock Index (SI)? O shock Index (SI) é definido como a razão entre a frequência cardíaca e a pressão arterial sistólica, uma ferramenta prognóstica para avaliar internação e mortalidade do paciente em choque. Um SI maior que 1,2 foi relacionado com maior taxa de admissão e mortalidade hospitalar.
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Sabe-se que a mortalidade é diretamente proporcional à duração da hipoperfusão tecidual, nesse sentido, é de extrema importância que o paciente com suspeita de choque hipovolêmico seja direcionado para sala de emergência e monitorizado.
Vale lembrar que, no choque, temos oferta inadequada de oxigênio e/ou demanda tecidual aumentada de oxigênio, então, a ressuscitação com fluidos é a base da terapia em pacientes com choque hipovolêmico.
Além disso, os suportes hemodinâmico e ventilatório são primordiais para o início do atendimento, porque os efeitos do choque são inicialmente reversíveis, no entanto, essa condição é alterada rapidamente. Em decorrência disso, tem-se como resultado a falha de múltiplos órgãos e a morte. Deve-se efetuar, desse modo, um acesso venoso periférico calibroso, em prol da realização da expansão volêmica com cristalóide, inicialmente com 1 litro ou 20ml/Kg. Isso irá melhorar a pré-carga. Porém, em pacientes com choque hemorrágico III e IV (tabela 1), devemos solicitar e iniciar precocemente hemocomponentes. Caso o paciente não apresente melhora da pressão arterial sistólica (>80 mmHg), é preciso iniciar droga vasoativa, sendo a norepinefrina a primeira opção.
Mas calma aí, Julia! Já ouvi diversas vezes que devemos pegar dois acessos calibrosos e abrir 1 litro de ringer lactato em cada acesso!
Sim, pessoal! Porém, já foi comprovado que não devemos realizar uma ressuscitação volêmica agressiva, pois ela levará a uma coagulopatia por diluição de fatores de coagulação e destruição de coágulos já formados no foco de sangramento. Portanto, podemos manter uma “hipotensão permissiva”, a partir da qual mantemos um pressão arterial sistêmica > 80-90 mmHg.
Galera, mas vale lembrar algo muito importante: devemos cessar qualquer foco de sangramento em casos de trauma, como também realizar 1g de ácido tranexâmico. Nos casos de choque hemorrágico grau IV, acionar o protocolo de transfusão maciça (concentrado de hemácias, plaquetas e plasma fresco congelado na proporção de 1:1:1).
Em suma, como vimos, o choque hipovolêmico é algo reversível se reconhecido e tratado imediatamente da maneira correta. Então, é de grande importância ter um manejo de excelência.
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