Atendimento médico em grandes eventos: vale a pena pegar este trabalho?

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O atendimento médico em grandes eventos é uma experiência única, que envolve desafios e oportunidades. Para recém-formados, é uma excelente porta de entrada no mercado, oferecendo a chance de ganhar prática e construir um networking valioso.

Mas será que vale a pena? A remuneração compensa? Quais são os principais desafios enfrentados?

Leia nosso artigo e explore todos os aspectos do atendimento médico em grandes eventos para ajudar você a decidir se é uma atividade que faz sentido para sua carreira!

O que diz a legislação sobre cobertura médica em eventos?

A necessidade de atendimento médico em grandes eventos varia conforme o porte e o tipo de evento, sendo regulamentada por legislações específicas que podem mudar entre estados e municípios.

No Brasil, a legislação determina que eventos de grande porte tenham um suporte médico proporcional ao número de participantes.

Órgãos como a Anvisa (RDC nº 13/2014), o Conselho Federal de Medicina (Resolução nº 2.012/2013), o Ministério da Saúde (Portaria nº 1.139/2013)  e os Conselhos Regionais de Medicina definem diretrizes para assegurar que haja postos médicos bem equipados, ambulâncias e profissionais capacitados.

Os organizadores devem apresentar planos de contingência para emergências, incluindo a localização de hospitais de referência próximos ao evento.

Tipos de eventos que exigem apoio médico

Os eventos que exigem cobertura médica são diversos conforme o público, o ambiente e a complexidade das atividades envolvidas.

Shows e festivais de música

Eventos musicais, principalmente aqueles de grande porte, como Rock in Rio, Lollapalooza e festivais de música eletrônica, atraem milhares de pessoas.

O consumo de álcool e substâncias ilícitas, a exposição prolongada ao sol e a alta densidade de público criam um ambiente propício para emergências médicas.

Carnaval e festas populares ao ar livre

O Carnaval de rua é um dos eventos que mais demandam atendimento médico. Com multidões aglomeradas, consumo excessivo de álcool e drogas, e longas jornadas de festa, os riscos aumentam expressivamente.

Além disso, há uma incidência preocupante de violência e abusos, exigindo que as equipes médicas estejam preparadas para atuar em situações delicadas.

Competições esportivas

Eventos esportivos, como maratonas, corridas de rua e competições de alta intensidade (Ironman, triatlos), exigem uma preparação diferenciada das equipes médicas.

Além dos atendimentos emergenciais, é comum que a equipe médica trabalhe com prevenção e suporte, monitorando os participantes ao longo do evento para evitar complicações.

Feiras, congressos e eventos corporativos

Ambientes fechados, falta de hidratação e longos períodos em pé podem desencadear quadros clínicos inesperados.

Normalmente, esses eventos apresentam uma baixa demanda por atendimentos médicos, tornando-se uma opção mais tranquila para médicos que desejam trabalhar na área sem enfrentar os tumultos de grandes festivais.

Casamentos e festas privadas

Eventos sociais, como casamentos e festas particulares, também costumam contratar serviços médicos, de modo especial quando há um grande número de convidados e o consumo de bebidas alcoólicas é liberado.

Diferentemente de eventos públicos, esses momentos costumam ter um ritmo mais sossegado, permitindo que os médicos efetuem atendimentos mais humanizados e personalizados.

Eventos religiosos e procissões

Grandes encontros religiosos, como marchas, peregrinações e procissões, reúnem milhares de fiéis, muitas vezes em condições climáticas adversas.

A emoção, a longa duração e o esforço físico envolvido nesses eventos podem representar riscos à saúde dos participantes.

Como conseguir trabalhos em postos médicos de eventos?

A maioria das oportunidades para prestar atendimento médico em grandes eventos surge por meio de grupos de WhatsApp, onde médicos compartilham vagas e escalas disponíveis.

Por outro lado, muitas empresas especializadas na organização de atendimentos em eventos gerenciam escalas e contratam profissionais de acordo com a demanda.

Criar uma boa rede de contatos com médicos que já desenvolvem atividades nesse campo e acompanhar empresas que oferecem esse tipo de serviço são estratégias para aproveitar as chances que forem aparecendo.

Quanto se ganha fazendo atendimento médico em eventos?

A remuneração para quem realiza atendimento médico em grandes eventos muda bastante conforme o evento e a função desempenhada. Há vagas para o Carnaval de rua com pagamento de R$ 950,00 por um plantão de 12 horas. Já para coordenadores de postos médicos, a remuneração pode chegar a R$ 1.800,00 por 8 dias de trabalho.

De forma geral, médicos atuando em eventos costumam receber entre R$ 800,00 e R$ 850,00 por um plantão de 12 horas.

A remuneração é inferior à de plantões hospitalares, mas pode ser uma opção válida para complementar a renda e ganhar experiência.

Vantagens e desvantagens deste tipo de trabalho

O atendimento médico em grandes eventos é uma opção para recém-formados, mas é importante lembrar que ele possui seus prós e contras.

Vantagens

Há algumas vantagens que devem ser ressaltadas, pois podem despertar o interesse de alguns profissionais da Medicina:

Baixa complexidade na maioria dos casos

A maior parte dos atendimentos envolve queixas simples, como desidratação, cefaleia e pequenos traumas. Isso permite que médicos recém-formados ganhem experiência sem a pressão dos plantões hospitalares mais intensos.

Ótima oportunidade para adquirir confiança e experiência

Para quem está iniciando na profissão, trabalhar em eventos é uma excelente maneira de se familiarizar com protocolos de emergência, aprimorar a capacidade de tomada de decisão rápida e desenvolver habilidades de triagem.

Ambiente colaborativo e bem treinado

Muitos eventos contam com equipes médicas bem estruturadas e coordenadas, o que permite um ambiente de aprendizado e suporte entre os profissionais.

Flexibilidade e possibilidade de conciliar com outros trabalhos

Diferente dos plantões fixos em hospitais ou clínicas, a atuação em eventos pode ser mais flexível, possibilitando ao médico escolher os trabalhos de acordo com sua disponibilidade.

Variedade de experiências

Como cada evento possui um perfil diferente de público e dificuldades, os médicos têm a oportunidade de atuar em contextos diversificados, desde festivais de música até eventos esportivos e corporativos.

Menos burocracia do que em hospitais

Ao contrário dos hospitais, onde médicos trabalham com prontuários extensos e discussões complexas sobre condutas clínicas, nos eventos os atendimentos são mais diretos e, se necessário, o paciente é encaminhado a um hospital para avaliação mais cuidadosa.

Desvantagens

Depois de conferir as principais vantagens de participar como médico em grandes eventos, veja as principais desvantagens:

Remuneração abaixo da média dos plantões hospitalares

Embora seja um trabalho mais tranquilo na maioria dos casos, a remuneração ainda é inferior à de plantões em prontos-socorros e emergências hospitalares.

Alta demanda em eventos de grande porte

Em eventos como Carnaval e festivais de música eletrônica, a carga de trabalho pode ser intensa, chegando a mais de 20 atendimentos por hora.

Dependência da experiência prévia e certificações

Alguns eventos exigem certificações específicas, como ATLS (Suporte Avançado de Vida no Trauma), o que representa um custo extra.

Dificuldade de acesso a exames e suporte diagnóstico

Diferente de um hospital, onde há exames laboratoriais e de imagem disponíveis, nos postos médicos de eventos os recursos diagnósticos são limitados.

Trabalho prolongado em pé e sob condições adversas

Em alguns eventos, os médicos precisam trabalhar com calor excessivo, exposição ao sol e falta de conforto.

Interação com pacientes sob efeito de álcool e drogas

Especialmente em festas open bar e festivais de música, é comum tratar pacientes intoxicados ou agressivos.

Principais desafios

Trabalhar prestando atendimento médico em grandes eventos pode parecer tranquilo em algumas ocasiões, mas há desafios que exigem preparo, agilidade e resiliência. A seguir, destacamos os principais obstáculos enfrentados pelos profissionais nessa área.

Volume de atendimentos e necessidade de triagem eficiente

Em eventos de grande porte, como Carnaval ou shows com dezenas de milhares de pessoas, a demanda tende a ser extremamente alta.

O médico precisa ter habilidade para priorizar casos graves, garantindo que pacientes críticos sejam estabilizados rapidamente e encaminhados a um hospital, enquanto outros são tratados no local de maneira eficiente.

O desafio é saber diferenciar casos leves de situações emergenciais sob pressão, sem exames complementares.

Trabalho sob pressão e em ambientes caóticos

Eventos com grande aglomeração podem ser cenários confusos, com barulho, música alta e muitas distrações, dificultando a comunicação entre a equipe e até afetando a concentração do profissional.

O desafio é manter a calma e a clareza na comunicação a fim de que a equipe trabalhe de forma coordenada.

Lidar com emergências sem estrutura hospitalar

Postos médicos de eventos geralmente apresentam um suporte básico para estabilização, mas sem a estrutura completa de um hospital.

Consequentemente, o médico precisa agir com rapidez, estabilizando o paciente antes de encaminhá-lo.

O desafio é ter conhecimento sólido de Medicina de Emergência e habilidades de suporte avançado de vida.

Interação com pacientes intoxicados ou agressivos

É comum que pacientes sob efeito de álcool ou drogas apresentem comportamento agressivo ou resistente ao atendimento.

Em alguns casos, o médico precisa agir rapidamente para confirmar a segurança do paciente e da equipe.

O desafio é desenvolver habilidades comunicativas e gestão de pacientes em estado alterado.

Casos mais comuns

Durante eventos, os médicos enfrentam atendimentos de baixa, média ou alta complexidade, como queixas simples ou emergências graves. Alguns dos casos mais frequentes abrangem:

  • cefaleia e irritação ocular: frequentemente relacionadas ao uso de substâncias químicas ou à exposição prolongada a luzes intensas;
  • desidratação e exaustão térmica: comum em eventos ao ar livre com altas temperaturas;
  • hipotensão postural e síncope: muito frequente em eventos longos, onde as pessoas passam horas em pé sem se alimentar adequadamente;
  • náuseas e vômitos: geralmente associadas ao consumo excessivo de álcool ou à má alimentação;
  • traumas leves: entorses, escoriações e cortes decorrentes de quedas ou acidentes na montagem de estruturas;
  • crises hipertensivas e arritmias: casos mais graves que podem exigir estabilização antes do encaminhamento hospitalar;
  • emergências traumáticas: em eventos como Carnaval, há relatos de esfaqueamentos, traumas cranianos e até paradas cardiorrespiratórias;

Quais características um médico deve ter para atuar em grandes eventos?

Para atuar em postos médicos de eventos, o profissional precisa ter um perfil adaptável, com habilidades específicas para esse tipo de trabalho. Segundo Ricardo Consani, COO da CON7 Emergências, os médicos devem ter:

  • habilidades em emergências e suporte avançado de vida;
  • tomada de decisão rápida;
  • comunicação eficaz com equipes e pacientes;
  • gestão do fluxo de atendimentos;
  • resistência para trabalhar sob pressão.

Atuar como médico em eventos pode ser uma ótima experiência para quem deseja desenvolver habilidades na prática, além de ser uma forma de complementar a renda.

Embora a remuneração não seja das mais altas, o aprendizado e o contato com emergências reais fazem do atendimento médico em grandes eventos uma opção interessante, sobretudo para médicos recém-formados.Se você quer se preparar melhor para atuar nesse tipo de atendimento, conheça o PSMedway, nosso curso de Medicina de Emergência. Aprenda as melhores práticas para lidar com urgências e emergências e esteja pronto para qualquer desafio!

Arthur Arabi

Arthur Arabi

Professor da Medway. Formado em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB), com residência em Cirurgia Geral e subespecialização em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).