BDAS: saiba mais sobre o bloqueio divisional ântero-superior

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Das condições que podem afetar o coração, o BDAS (bloqueio divisional anterossuperior) é um tipo de atraso no sistema cardíaco que pode ser identificado por meio do eletrocardiograma. No entanto, você sabe como ler esse bloqueio?

Acompanhe o artigo para conhecer as principais características desse tipo de diagnóstico, principalmente o que é BDAS e como interpretá-lo corretamente. Assim, você fica pronto para identificar a condição nos pacientes durante o plantão.

O que é BDAS?

Antigamente, o BDAS era chamado de hemibloqueio anterior esquerdo. Hoje, não é mais conhecido por esse termo. O ramo esquerdo divide-se em dois: fascículo anterossuperior e fascículo posteroinferior. Quando ocorre um bloqueio do anterossuperior, há um BDAS.

No paciente, o ECG com BDAS desencadeia com o eixo elétrico cardíaco desviado para a esquerda, sem haver outra alteração que explique isso. A prevalência pode chegar a 2,5% da população geral e aumenta conforme a idade. Esse bloqueio pode ser causado por:

  • IAM;
  • miocardite;
  • doença microangiopatia cardíaca;
  • hipercalemia;
  • cardiomiopatia hipertrófica;
  • cardiomiopatia dilatada.

Coração elétrico

O coração contrai, pois, chegam estímulos elétricos nas células musculares cardíacas. Conforme essas células sofrem despolarização, o coração contrai e ejeta o sangue.

Você já se perguntou por que o coração contrai de forma organizada, quase ordenhando o sangue de dentro dele e ejetando-o pelas artérias? Por que ele não se contrai todo de uma vez só? A resposta é a seguinte: o estímulo elétrico segue um caminho bem definido.

Estradas do coração

Pense nas vias do coração como estradas. O estímulo elétrico faz o seguinte trajeto: nó sinusal, vias internodais, nó AV, feixe atrioventricular (fibras de Hiss-Purkinje) e ramos direito e esquerdo. 

O ramo esquerdo divide-se em dois: um fascículo dirige-se para a porção anterior e sobe a parede cardíaca (fascículo anterossuperior ou BDAS). Outro fascículo dirige-se para a porção posterior e desce para a porção inferior (fascículo posteroinferior).

Essas são as formas mais rápidas do estímulo elétrico atravessar o coração e fazê-lo contrair ordenadamente. O eixo elétrico é o vetor resultante do caminho que a eletricidade percorre no coração. Se as estradas estão alteradas, o caminho também é alterado.

Despolarização célula a célula

Sempre que alguma das “estradas” for interrompida, acontece um “bloqueio”. Consequentemente, a eletricidade precisa passar por outras vias mais lentas. Então, ocorre a despolarização célula a célula.

Despolarização célula a célula é exatamente o que o nome diz. Em vez do estímulo atravessar as “estradas”, a célula que já recebeu eletricidade passa o estímulo para as células que estão ao redor, célula a célula, até que todo coração seja despolarizado.

Qual é a consequência disso para o eixo elétrico?

A despolarização muda a forma que a eletricidade atravessa o coração, de modo que o eixo cardíaco também é alterado. O eixo normal cardíaco é de -30º a +90º. Na normalidade, uma dessas situações deve ocorrer:

  • D1 com QRS positivo + AVF com QRS positivo;
  • D1 com QRS positivo + D2 com QRS positivo.

BDAS no eletrocardiograma (ECG)

Existem vários critérios para entender o que é BDAS no ECG e como identificá-lo corretamente. Basicamente, trata-se do desvio do eixo para esquerda, sem o bloqueio de ramo esquerdo associado e a sobrecarga de ventrículo esquerdo.

Critérios diagnósticos de BDAS pelo ECG

Todos esses critérios estão de acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre análise e emissão de laudos eletrocardiográficos. Além disso, eles são válidos na ausência de SVD, hipertrofia septal ou infarto lateral:

  • eixo elétrico de QRS ≥ entre -45° e -90º (desvio de eixo para esquerda);
  • rS em D2, D3 e aVF com S3 maior que S2; QRS com duração < 120 ms (desvio de eixo para esquerda, sem bloqueio de ramo associado);
  • onda S de D3 com amplitude maior que 15 mm ou área equivalente (desvio de eixo para esquerda);
  • qR em D1 e aVL com tempo da deflexão intrinsecoide maior que 50 ms ou qRs com S mínima em D1 (QRS um pouco mais gordinho na primeira metade);
  • qR em aVL com R empastado (desvio de eixo para esquerda); 
  • progressão lenta da onda R de V1 a V3 (ausência de sobrecarga de ventrículo esquerdo);
  • presença de S de V4 a V6 (ausência de sobrecarga de ventrículo esquerdo).

Como o eletrocardiograma fica?

A imagem abaixo mostra a divisão do ramo esquerdo. O fascículo nº1 é o anterossuperior. O trajeto é para frente do coração (anterior) e para cima (superior). O nº2 é posteroinferior. Ao redor, estão os achados nas derivações frontais.

Em D1 e AVF, dá para perceber a deflexão intrinsecoide aumentada, o aumento do tempo para o aparecimento do “topo” do QRS, ou seja, aumento da duração da primeira metade do QRS. 

Além disso, AVF está negativa (QRS com formato rS), D1 está positiva e AVL está positiva (QRS com formato Rs), o que configura desvio de eixo para esquerda. O QRS não está alargado com duração maior que 120 ms. Dê uma olhada nos ECGs abaixo para treinar os critérios:

O que causa um BDAS?

O BDAS ocorre com uma prevalência de 1 a 2,5% da população, enquanto a ocorrência aumenta conforme a idade. Ele está associado a uma série de condições, podendo ser consequência de uma patologia infecciosa, como uma miocardite, ou de patologias fibróticas, como síndrome de Lev Lenegre ou doença de Chagas.

O bloqueio divisional anterossuperior pode ser sequela de fechamento cirúrgico do septo interventricular, doença valvar aórtica e hipertensão. Isoladamente, ele não tem significado clínico em um paciente assintomático. Investigação ou tratamento adicional não são recomendados. 

Entretanto, algumas síndromes neuromusculares estão associadas ao BDAS. Nesses casos, o paciente deve ser encaminhado a um cardiologista, pois tem risco de evolução para problemas mais graves de condução. Isso também ocorre caso existam outros bloqueios ou sintomas do bloqueio divisional anterossuperior associados.

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FredericoTimm

Frederico Timm

Gaúcho. Médico formado pela UFPEL, residente de Ginecologia e Obstetrícia na UFMG. Tenho 2,04m de altura, sou cozinheiro cria da quarentena e tenho FOAMed na veia. Bora junto!