Fala, meu povo! Tudo bem com vocês? Estamos aqui dando continuidade a uma série de textos sobre uma doença bastante famosa no meio médico (e até mesmo fora dele): lúpus eritematoso sistêmico! Nosso primeiro texto falou principalmente sobre “o que é lúpus”, mas, agora iremos aprofundar um pouco mais e tentar entender as causas do lúpus.
Isso porque o lúpus, como vimos no nosso primeiro texto, é uma doença autoimune sistêmica que, para ser deflagrada, depende tanto de fatores genéticos quanto de gatilhos ambientais!
Ou seja, diferentemente do que acontece em um quadro de pneumonia, por exemplo, não temos uma “causa” bem definida, como uma infecção bacteriana no parênquima pulmonar… Temos uma complexa rede formada pelos fatores de risco, predisposição genética e pelo ambiente onde aquele paciente — que tem lúpus — nasceu, cresceu e vive.
Ou seja, são diversos os caminhos que um mesmo paciente poderia percorrer para desencadear a doença! Como ela depende, em grande parte, de estímulos ambientais, é bastante difícil definir uma etiologia única.
Calma, não falaremos aqui de mecanismos genéticos, celulares e imunes, fiquem tranquilos! A ideia é que vocês entendam que o lúpus é de fato uma doença complexa! Fisiopatologicamente falando, o que acontece no lúpus, em última instância, é a produção de grandes quantidades de autoantígenos, como ácidos nucleicos e proteínas.
E, normalmente, o que acontece é que a resposta imune inata ativa a autoimunidade, envolvendo as mais diversas células e interleucinas, como macrófagos, células dendríticas, linfócitos T e B autorreativas, fator de necrose tumoral α (TNF-α).
O lúpus é uma doença multigênica! Ou seja, na maioria dos indivíduos com predisposição genética, cada um dos alelos normais de múltiplos genes contribui um pouco para esse emaranhado de respostas imunes anormais, respostas inflamatórias e, ao final de todo esse processo, há lesão tecidual.
Se há variações genéticas suficientes, em um indivíduo geneticamente susceptível, então a doença ocorrerá!
Acontece que, embora mais de 60 genes com alelos de risco crescente de LES e/ou nefrite lúpica tenham sido identificados e descritos em estudos recentes, todos eles, mesmo quando combinados, conferem um risco de apenas 18% para desenvolvimento da doença.
Ou seja, é bastante claro que sem os gatilhos ambientais corretos, sem exposições ambientais favoráveis (ou não, pensando no lado do paciente) e sem a presença da epigenética, não há lúpus que se desenvolva.
Epigenética é o termo que traduz como o ambiente a que o indivíduo está exposto consegue alterar as funções genéticas herdadas, sem que para isso seja necessária a alteração da sequência do DNA.
Ou seja, são variações não-genéticas que passam a ser transmitidas de uma geração para outra, geradas a partir de exposições ambientais. Essas, a depender de como acontecem, conseguem ativar ou inativar genes nos mais diferentes tipos celulares.
E, como vimos no primeiro texto, estímulos ambientais que interferem no lúpus não nos faltam: a exposição à luz UV, por exemplo, pode exacerbar o lúpus da maioria das pacientes, provavelmente por aumentar a apoptose das células cutâneas ou alterar seu DNA, ou suas proteínas intracelulares, tornando-as autoantígenos.
Da mesma forma, alguns medicamentos ou até infecções, exacerbam o LES por ativarem células T e B autorreativas, com produção prolongada de autoanticorpos.
A maioria dos pacientes com lúpus apresentam autoanticorpos por um longo período antes do surgimento das manifestações clínicas da doença. Somente quando as quantidades (e qualidades) desses autoanticorpos ultrapassam o limiar do organismo é que temos doença.
Outros fatores ambientais que podem contribuir para a deflagração do lúpus são: tabagismo e exposição ocupacional prolongada à sílica…
Por outro lado, o consumo de bebida alcoólica (2 taças de vinho por semana ou meia dose de qualquer tipo de bebida alcoólica diariamente) pode diminuir o risco de lúpus! Boa notícia? Sim! Mas, lembrem-se: bebida alcoólica também traz inúmeros outros prejuízos!
Então, essa é tão uma boa desculpa para beber quanto fumar é para diminuir o risco de Doença de Crohn! Hahaha, não vale a pena!
A autoimunidade no LES é o resultado de susceptibilidade genética mais ambiente, gênero (mulheres são muito mais afetadas!), raça (mais comum em negras) e respostas imunes anormais! Não temos uma etiologia única clara e definida e, talvez por isso, essa seja uma patologia que desperta tantos interesses e curiosidades.
Não se esqueçam de que esse é o segundo texto de uma série sobre as causas do lúpus eritematoso sistêmico! Aproveitem e vejam o primeiro texto e também deem uma olhada no nosso Blog para descobrir vários dos conteúdos que colocamos por lá.
É isso, nos vemos em breve! PRA CIMA!
Nascida em Franca/SP, em 92, formou-se em medicina pela PUC-Campinas, em 2018. Especialista em Clínica Médica pela UNICAMP e completamente apaixonada por essa área cheia de detalhes e interpretações. Filha de professora e de um ávido leitor, cresceu com muito amor pelo ensino também, unindo essa paixão à medicina.
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