E aí, pessoal! Hoje vamos falar tudo sobre o ciclo da dengue. Vocês sabiam que 40% da população mundial reside em áreas endêmicas para dengue e que, anualmente, ocorrem cerca de 400 milhões de infecções no mundo pelo vírus causador? Por ser uma afecção de grande impacto no sistema de saúde, é importante entender como se classifica e trata essa doença e como diferenciá-la de outras arboviroses.
Entretanto, muitas vezes, um aspecto de grande importância dessa doença, principalmente para a sua prevenção, é deixado de lado: o ciclo da dengue. Hoje, discutiremos exatamente isso, começando pelo agente etiológico, passando pelo mosquito vetor e concluindo como ocorre a transmissão dessa doença.
A dengue é uma arbovirose (vírus transmitido por artrópodes, como os mosquitos) que tem como agente etiológico o Dengue Virus (DENV), pertencente ao gênero Flavivirus. Existem quatro sorotipos distintos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Esses quatro sorotipos apresentam muitas semelhanças, com cerca de 65% do genoma idêntico. São denominados sorotipos pois cada um deles apresentam diferenças nos tipos de antígenos estruturais, que interagem com diferentes anticorpos presentes no sangue humano, sendo cada um desses sorotipos considerado um vírus diferente.
A infecção por um desses sorotipos confere imunidade permanente para esse determinado sorotipo, ocorrendo também imunidade cruzada transitória para os outros sorotipos (por cerca de dois a seis meses). Assim, uma pessoa pode ser infectada por cada sorotipo uma única vez na vida (totalizando até quatro infecções possíveis pelos vírus da dengue). Todos os sorotipos podem causar doença grave, porém alguns específicos, como o DENV-2 e o DENV-3, apresentam um maior risco de infecção grave (dengue hemorrágica). Outro fator que influencia na gravidade da doença é a pessoa já ter apresentado uma exposição prévia a um desses vírus da dengue, com a tendência de casos mais graves nas infecções subsequentes.
Nas Américas, o vetor da dengue (assim como do zika e chikungunya) é o mosquito Aedes aegypti, sendo a fêmea dessa espécie responsável pela transmissão. Apesar de tanto o macho como a fêmea se alimentarem de seiva de plantas, apenas a fêmea se alimenta de sangue (principalmente humano), uma vez que o amadurecimento dos ovos é dependente do sangue para se completar.
Essa espécie apresenta algumas particularidades que favorecem a transmissão do vírus da dengue:
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De volta ao nosso tópico, o ciclo de vida do mosquito da dengue apresenta quatro estágios evolutivos (ovo, larva, pupa e adulto), com um período entre 8 e 10 dias para um ovo virar o mosquito adulto. As fêmeas depositam os ovos (cerca de 4 a 6 vezes durante toda a vida, com até 100 ovos por vez) nas paredes internas de recipientes com água parada, a uma distância de poucos milímetros próximo à superfície da água, que ficam aderidos à parede.
Os ovos são muito resistentes, podendo sobreviver por até 1 ano enquanto ali aderidos. Isso permite que eles sejam transportados em locais secos, sendo esse um dos motivos que torna difícil a erradicação do mosquito. Quando submersos em água (por exemplo, quando em época de chuvas), podem eclodir nos primeiros 15 minutos, tornando-se larvas. As larvas vivem submersas na água, desenvolvendo-se em cerca de 5 dias, quando transformam-se em pupas que, após 2 a 3 dias, se tornam o mosquito adulto, com vida média de 30 dias.
O principal modo de transmissão do vírus da dengue é de pessoa para pessoa, através da picada da fêmea do Aedes aegypti. Após se alimentar de uma pessoa infectada, com viremia suficiente para infectar o mosquito (período compreendido a partir de 1 dia antes da febre até o 6º dia de sintomas de dengue), ocorre multiplicação do vírus no intestino do mosquito. A partir desse órgão, ocorre a sua disseminação para outras partes do corpo do mosquito, sendo as glândulas salivares o local através do qual o vírus será transmitido.
O mosquito se torna capaz de infectar outras pessoas após um período de incubação viral de 8 a 12 dias a partir do contato com sangue infectado (incubação extrínseca). A fêmea permanece com capacidade de infectar por todo o seu tempo de vida. Outra forma de infecção do mosquito é através de uma via denominada transovariana, em que a fêmea infectada transmite o vírus para os ovos, já tendo o vírus presente no mosquito quando este alcança a fase adulta, mesmo que não tenha contato com nenhuma pessoa infectada.
Além da infecção pelo mosquito, também é possível ocorrer a transmissão por meio do contato com sangue infectado de indivíduos doentes com alta viremia, através de transfusões sanguíneas, transplante de órgãos, acidente com perfurocortante ou contato do sangue com mucosas.
Outra possibilidade é a transmissão por via vertical, no caso de gestante com carga viral alta durante o parto. Entretanto, parece não ocorrer transmissão via transplacentária, porém ainda não há dados suficientes para afirmar ou afastar essa possibilidade. Sabe-se que a transmissão não ocorre por aerossóis, gotículas respiratórias, suor, saliva, via sexual, água ou alimentos, a não ser caso estejam contaminados com sangue.
Existem quatro sorotipos do vírus da dengue, transmitidos principalmente através da picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, um mosquito doméstico, que deposita os ovos em reservatórios com água parada. Pode ocorrer também transmissão através de alguns tipos de contato com sangue de pessoa infectada com alta viremia, como acidente com material perfurocortante ou durante o parto.
O ciclo da dengue é relativamente simples de se entender, tendo uma grande importância para que seja possível definir e adotar medidas de prevenção, interrompendo a cadeia de transmissão da dengue e, consequentemente, reduzindo sua incidência.
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Aquele abraço e até a próxima.
Nascido em Teresina-PI em 1991. Formado pela Universidade de Brasília (UnB) em 2018, com residência em Medicina de Familia e Comunidade, concluída em 2021.