Cistite na mulher: tudo que você precisa saber

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Fala, meu povo, tudo bem com vocês? Hoje nossa conversa é sobre a cistite na mulher. Essa é uma condição muito recorrente na prática médica, e muitas vezes queremos complicar o que não precisa ser complicado. O simples bem feito e com base em evidências é o cerne do texto de hoje.

Vocês podem estar pensando: “Mas cistite é um tema fácil, já sei!” De fato, provavelmente vocês já saibam muita coisa sim, mas será que alguns conhecimentos não vieram de “orelhadas” que escutaram por aí? Será que tudo o que vocês sabem está correto?

Enfim, bora alinhar os conhecimentos? Respira fundo e vamos juntos!

Fisiopatologia da cistite na mulher

A infecção do trato urinário (ITU) normalmente é decorrente de uma colonização da uretra por patógenos da microbiota fecal, os quais ascendem até a bexiga. Inclusive, a cistite é muito mais comum no sexo feminino e uma das explicações é que a distância entre o ânus e a uretra/bexiga é menor nas mulheres do que nos homens. 

A Escherichia coli (E. coli) é o patógeno mais frequentemente associado à cistite (cerca de 75 a 95% dos casos). Além da E. coli, diversas outras bactérias causam ITU, tais como Klebsiella, Proteus, Pseudomonas, enterococos e Staphylococcus. 

Cistite na mulher
Fonte: Banco de Imagens – Shutterstock.

Dentre os fatores de risco, além do sexo feminino, também são fatores contribuintes:

  • Relação sexual recente;
  • ITU prévia;
  • Diabetes;
  • Anormalidades do trato urinário.

Manifestações clínicas

Diversos sintomas podem estar presentes num quadro de cistite na mulher, sendo os mais comuns os seguintes:

Tabela com os principais sintomas da cistite:

DisúriaDor suprapúbica
PolaciúriaEsvaziamento miccional incompleto
NoctúriaUrina turva
Urgência urináriaHematúria

Cabe ressaltar que sintomas sistêmicos, como febre, não são comuns na cistite e, caso estejam presentes, devemos pensar inclusive em ITU complicada (como por exemplo, pielonefrite). 

O foco do texto é a cistite não complicada, mas para não comermos bola, temos que saber quando pensar em complicada, que seria:

  • Suspeita de abscesso;
  • Doença urológica de base;
  • Doença sistêmica predisponente (exemplo: Diabetes);
  • Sexo masculino;
  • Suspeita de pielonefrite (Sinal de Giordano positivo / sinais e sintomas sistêmicos).

Nesses cenários, devemos solicitar Urina tipo 1 e urocultura com antibiograma. Além disso, na suspeita de pielonefrite também temos que solicitar hemograma, função renal e proteína C reativa.

Diagnóstico da cistite na mulher

Nos casos de suspeita de cistite em mulheres, sem alteração estrutural do trato urinário (cistite não complicada) não é necessário solicitar a Urina tipo 1 (dependendo da região do país, conhecido como EQU ou EAS).

Vamos repetir para ficar muito claro: mulheres com quadro compatível com cistite não complicada não precisam fazer Urina tipo 1!

Sobre a Urina tipo 1, quando solicitada, ela costuma apresentar piúria (≥ 10.000 leucócitos/µL). Atenção, a piúria é pouco específica (então está presente muitas vezes em cenários que não cistite) e muito sensível (logo, se não estiver presente provavelmente não trata-se de uma cistite.

Então, considerando o que foi falado até aqui, vamos amarrar esse conceito: urina tipo 1 não é necessária para o diagnóstico em casos de cistite não complicada em mulheres com quadro típico; no entanto, se a paciente tiver sintomas atípicos a Urina tipo 1 é bem-vinda e ajuda no diagnóstico. 

Diagnóstico diferencial

Algumas condições se apresentam com sintomas semelhantes ao da cistite, tais como:

  • Vaginites/vaginoses: é de extrema importância perguntar ativamente sobre corrimento vaginal (e o odor), dispareunia e prurido vaginal;
  • Uretrite: em mulheres sexualmente ativas pensamos em uretrite nos casos de disúria associada à piúria, mas sem crescimento bacteriano na urocultura;
  • Doença inflamatória pélvica: apesar dos principais sintomas serem dor em baixo ventre e febre, as pacientes também podem apresentar disúria.

Tratamento da cistite na mulher

Aqui não precisamos complicar! Caso seja uma paciente com quadro sugestivo de cistite, sem sintomas sistêmicos, o tratamento é antibioticoterapia empírica. E o que podemos usar de antibiótico?

Tratamento de primeira linha: 

  • Fosfomicina 3 g VO: dose única (posologia excelente, então caso a paciente tenha condição financeira é uma ótima opção);
  • Nitrofurantoína 100 mg VO: 6/6h – por 7 dias (disponível no SUS);
  • Sulfametoxazol + Trimetoprima (800 + 160 mg) VO: 12/12h – por 3 dias.

Outras opções:

  • Amoxicilina + Clavulanato (500 + 125 mg) VO: 8/8h – por 7 dias;
  • Cefalexina 500 mg VO – 6/6h: por 5-7 dias;
  • Ciprofloxacino 500 mg VO: 12/12h – por 3 dias;
  • Levofloxacino 500 mg VO: 1x/dia – por 3 dias.

Atenção! Apesar das quinolonas (ciprofloxacino e levofloxacino) cobrirem as principais bactérias causadoras de cistite, devemos usar elas como último recurso, por conta de alguns fatores complicadores, tais como: 

  • resistência alta;
  • induz outras bactérias serem multidroga resistente;
  • colite por clostridium; 
  • ruptura de tendão;
  • aumento do risco de dissecção de aorta;
  • induz delirium em idosos;
  • disglicemia.

Sobre a cistite na mulher, é isso!

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BrunoBlaas

Bruno Blaas

Gaúcho, de Pelotas, nascido em 1997 e graduado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Residente de Clínica Médica na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Filho de um médico e de uma professora, compartilha de ambas paixões: ser médico e ensinar.