Se você leu nossos artigos sobre etiologia clínica e diagnóstico da pancreatite aguda, com certeza já aprendeu a identificar um quadro dessa doença! Mas e agora? Como é o tratamento da pancreatite aguda? Prescrever ou não prescrever antibiótico? Operar ou não operar? É disso mesmo que vamos falar hoje! Tudo pronto? Então bora lá!
Antes de pensar em como fazer o tratamento da pancreatite aguda, precisamos saber com qual tipo dela estamos lidando, certo?
Conforme a Classificação de Atlanta Revisada, de 2012 (tá na tabela 1 ali embaixo!), podemos estratificar a pancreatite aguda em leve, moderadamente grave ou grave. A forma leve cursa com ausência de complicações locais e de falência orgânica. A moderadamente grave, com falência de órgãos transitória (<48h) ou complicações locais ou sistêmicas sem falência orgânica persistente. A grave, por sua vez, caracteriza-se por falência orgânica persistente (>48h).
Essa classificação auxiliará na definição da conduta a ser tomada; contudo, ela só pode ser obtida após, no mínimo, 48 horas da admissão. Outros escores, como o de Ranson, também podem ser aplicados na determinação da gravidade da pancreatite aguda, não havendo um consenso na literatura acerca da escala mais adequada.
De qualquer maneira, no primeiro momento o manejo dos pacientes com pancreatite aguda deve se pautar em:
Classificação de Atlanta | Complicações locais ou sistêmicas ou falência orgânica |
Leve | Ausentes |
Moderadamente grave | Por <48h |
Grave | Por >48h |
Os pacientes que apresentam pancreatite aguda moderadamente grave ou grave ou que não respondem ao tratamento inicial devem ser submetidos a TC abdominal contrastada para avaliação da presença de complicações locais.
Vale notar que a TC não deve ser realizada de rotina no tratamento da pancreatite aguda, e é mais recomendada depois de 3 a 5 dias de hospitalização, tendo em vista que um exame obtido nas primeiras horas pode subestimar ou omitir a presença de necrose.
Em casos de necrose estéril, opta-se por uma conduta expectante, mais conservadora. A antibioticoprofilaxia na pancreatite aguda não é recomendada de rotina, sendo reservada aos casos de necrose infectada. Na presença de sinais de possível infecção, como leucocitose, febre e falência orgânica, deve-se realizar coloração de Gram e cultura. Enquanto se aguarda os resultados, convém instituir antibioticoterapia empírica de amplo espectro.
Caso eles sejam negativos, é ideal interromper o uso de antibióticos a fim de evitar o risco de superinfecção oportunista ou fúngica. Caso sejam positivos, deve-se realizar a antibioticoterapia dirigida para o microrganismo identificado. Para o tratamento definitivo da necrose infectada, considera-se, sobretudo quando não há resposta à antibioticoterapia, a necrosectomia, que consiste no desbridamento do tecido pancreático.
Uma vez que a maior parte involui espontaneamente em até 6 semanas, preconiza-se inicialmente uma conduta expectante. Estão indicadas intervenções quando há presença de sintomas ou complicações associadas (ex.: pseudoaneurisma, acometimento da parede gástrica ou duodenal).
Nesses casos, pode-se realizar a drenagem cirúrgica interna ou percutânea ou por via endoscópica. Sangramentos de pseudoaneurismas podem ser tratados com angiografia mesentérica e embolização.
Esperamos ter esclarecido um pouco mais o tópico do tratamento da pancreatite aguda. Leia e releia quantas vezes precisar, e pode nos enviar suas dúvidas que vamos tentar esclarecer tudo!
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Valeu, até a próxima!
* Colaborou Luísa Vieira Aarão Reis, graduanda de Medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF)
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.