É com a residência médica em Neurologia que você sonha? Se você ainda não sabe em que instituição vai cursar, já está mais do que na hora de decidir – afinal, é lá que você certamente vai passar boa parte dos próximos três (ou até quatro) anos da sua vida. Para muitos médicos, o principal objetivo de carreira é a residência em Neurologia da USP (Universidade de São Paulo), um dos programas de residência médica mais buscados de SP.
Algo que é importante você saber é que, de acordo com as regras da Comissão Nacional de Residência Médica (CMRM) e pelo Ministério da Educação (MEC), a residência médica em Neurologia tem três anos obrigatórios. No caso de alguns programas, incluindo o programa de residência em Neurologia da USP, a duração tornou-se de 4 anos recentemente. Então pode se preparar para passar mais um ano como residente se seu sonho for fazer essa especialidade na FMUSP.
Mas como é a vida e a rotina de quem faz residência em Neurologia da USP? Para saber se ser residente no maior sistema acadêmico de saúde da América Latina é o que você espera, conversamos com a Sara, que é R2, e o José, que é R3 da residência de Neurologia da FMUSP.
Sara: O pronto-socorro (PS) de Neurologia. É um estágio em que passamos diversas vezes ao longo da residência, em todos os anos, tanto dando plantões diurnos quanto noturnos. Em geral, é o estágio que as pessoas mais gostam, assim como eu, porque é bastante dinâmico e permite ver coisas novas todos os dias. Os chefes são muito bons e as discussões de caso sempre têm muito a oferecer. A gente pega o caso “zerado” na porta do PS e temos que fazer toda a investigação inicial, de história, exame físico e exames complementares, o que traz bastante aprendizado.
José: Provavelmente é consenso entre os residentes que é o PS de Neurologia – a porta de entrada para o ingresso no HC – é o melhor estágio, pois permite ver uma grande quantidade de casos interessantes, discutir e realizar procedimentos como (punção de) líquor. Além disso, treinamos para patologias da vida real e criamos um raciocínio de investigação.
Sara: Eu ainda não tive muito contato com todos os chefes do departamento, porque ainda sou R2, e nosso R1 inteiro é de Clínica Médica. Posso citar o Dr. Júlio Alencar, um dos chefes da Emergência do PS de Clínica do HC, que é extremamente atencioso com alunos e pacientes e tem bastante conhecimento. Da neurologia, apesar do pouco contato, considero o Dr. Luiz Roberto Comerlatti, um chefe experiente, humilde e paciente com os residentes.
José: Prof. Dr. Comerlatti, pois é o diarista do PS há décadas, possui uma experiência enorme e está sempre se atualizando sobre temas relevantes ao PS.
Sara: Nosso R1 inteiro é na Clínica Médica. Somos alocados para uma das panelas de Clínica e rodamos quase exatamente igual ao R1 de Clínica, com algumas exceções de estágios eletivos. Temos estágios de dois meses na UTI, dois meses de Ambulatório, dois meses em Enfermaria, eletivos em geral em ambulatórios por dois meses e Pronto-Socorro, sendo um mês em Clínica Geral, um mês em Cardiologia e um mês em Neurologia. Todos os estágios são no HC, exceto os dois meses de Enfermaria que são no Hospital Universitário da USP.
José: No segundo ano, há um foco em atenção hospitalar de Neurologia, isto é, uma carga horária grande de Enfermaria e de Pronto-Socorro. No terceiro ano da Neurologia, há uma carga horária de Enfermaria e PS com uma visão diferente, mais apropriada ao R3, mas o diferencial é que a carga de ambulatórios especializados é bem maior. Foi aprovado o quarto ano obrigatório de Neurologia, que terá um papel de complementação de alguns assuntos que cresceram muito nos anos anteriores, mas os residentes que farão o quarto ano ainda estão no R1.
Sara: Sim, existem estágios eletivos no R3. Conheço pessoas que foram fazer esse estágio em outros países, por cerca de 1 mês.
José: Existe estágio eletivo e é possível fazer fora do país. Em geral, você observa uma área que tenha maior interesse, procura um local de referência que deseje ir e os assistentes ajudam bastante para estabelecer o contato.
Sara: Não. Trabalho entre 70 e 80 horas, dependendo do estágio e da quantidade de plantões.
José: Existe um pós-plantão em todos os plantões noturnos do Pronto-Socorro. No HC, há um estágio horizontal noturno por 15 dias, isto é, você fica de plantão de domingo até quinta das 19-7 horas e o dia seguinte é livre, você não tem mais nenhuma atividade no dia. Então, o que acontece frequentemente em algumas residências que você fica de plantão à noite e depois tem de trabalhar o dia todo não acontece no PS.
Sara: Nota dez! O R1 praticamente não tem atividades teóricas, mas é um ano inteiro de Clínica Médica.
No R2, temos muitas atividades teóricas, e elas são extremamente organizadas ao longo do ano, já recebemos o cronograma dos preceptores assim que começa o R2.
Temos aulas todas as terças e quartas-feiras à tarde, cerca de 2h por dia. Elas comportam dois cursos principais ao longo do ano – um de Neuroanatomia e outro de Semiologia Neurológica – além de outros cursos, como o de Epilepsia. Além dessas aulas teóricas, temos uma discussão de casos na quinta à tarde, também com cerca de 2h, em que alguns R2 apresentam um caso com vídeos do exame físico e os demais participam da discussão com o auxílio dos preceptores ou de algum chefe, é uma atividade bem focada no raciocínio neurológico. Há também algumas outras reuniões do departamento, semanalmente, na qual, em geral, um R3 faz uma apresentação sobre algum tema relevante que foi visto em algum caso recente.
Sara e José: 10.
José: Os pontos fortes são inúmeros! A base teórica de Neuroanatomia e de Semiologia é realmente muito boa e isso faz um diferencial muito importante para estruturar o raciocínio clínico. Os assistentes – que são referências nas subespecialidades da Neurologia no país – são interessados em ensinar e que o residente aprenda. O serviço é grande e tem um número bom de casos de todas as patologias, que permite pegar mão, mas sem ser “tocação”. O hospital tem recursos que apenas alguns hospitais particulares possuem e isto cria contato com Neurologia de ponta.
Sara: De forma geral, estou bem satisfeita. Acho que a base em Clínica Médica que pegamos no R1 faz bastante diferença. O R2 é bem focado na parte teórica e no aprendizado de Anatomia e Semiologia. E o R3 focado na parte Clínica da Neurologia. Acho que não há grandes mudanças a serem feitas. O R4 inicialmente, terá como objetivo distribuir melhor os estágios do R3, mas ainda não está totalmente certo como será.
José: A bolsa de residência às vezes não condiz com o custo de vida de uma cidade como São Paulo. Algumas residências dão um auxílio e, se o HC fizesse isso, seria muito bom.
Sara e José: Sim.
Sara: Temos direito a almoço e jantar todos os dias sem custo, incluindo finais de semana, no restaurante do hospital. Há a disponibilidade de moradia gratuita também. Ela fica logo atrás do hospital e dois residentes dividem um quarto. Eu não sei exatamente qual é o trâmite, mas não parece muito complicado e é bem acessível a qualquer um, tenho vários amigos que moram lá.
José: Eu pretendo voltar a minha cidade após a residência. Conheço pessoas que voltaram e estão muito bem. Com a formação de alto nível, é possível se inserir no mercado onde se deseja atuar.
Então aproveita e confere agora o nosso artigo sobre quanto ganha um neurologista! Você também pode descobrir um pouco melhor sobre o Hospital das Clínicas da USP-RP no nosso artigo contando tudo sobre a instituição. É só clicar no baneer!
E por acaso você já está preparado para a prova de residência médica da USP? Saiba que ainda dá tempo de se preparar e realizar seu sonho. No nosso blog já contamos tudo sobre como é a prova de residência médica da USP! Ainda separamos para você 20 questões de Preventiva que caíram na prova teórica de residência da USP nos últimos anos. Além disso, temos diversos artigos falando sobre outras especialidades nessa famosa instituição, como a Cirurgia Cardiovascular.
Nosso canal do YouTube também temos falado muito sobre os principais temas das grandes áreas que caem nas principais provas de residência médica de São Paulo, incluindo a USP. Nesse aqui, a Pucca aborda um tema bem importante que cai em Pediatria na prova de residência médica da USP:
Ah, se você quer saber ainda mais sobre o assunto do texto, é bom dar uma olhada no podcast Finalmente Residente. Nele, recebemos convidados que falam sobre suas vivências nas mais variadas residências e instituições do país! O mais interessante nisso tudo é que você pode ouvir a voz da experiência e conhecer os principais aspectos dessa etapa por meio de quem vive (ou viveu) com afinco a vida de residente. O Caio Disserol, por exemplo, contou um pouco pra gente sobre a residência em Neurologia na USP. Ele é fera, então, corre lá pra conferir!
Carioca da gema, nasceu em 93 e formou-se Pediatra pela UFRJ em 2019. No mesmo ano, prestou novo concurso de Residência Médica e foi aprovada em Neurologia no HCFMUSP, porém, não ingressou. Acredita firmemente que a vida não tem só um caminho certo e, por isso, desde então trabalha com suas duas grandes paixões: o ensino e a medicina. Siga no Instagram: @jodamedway