É muito importante deixar o tabu de lado e falar sobre a saúde mental do estudante de Medicina. Todo mundo sabe que a graduação não é um período fácil: há muita pressão e cobranças, muitas delas vindo do próprio aluno. Além disso, há também a responsabilidade inerente à profissão e a preocupação com o futuro, como passar na residência médica.
Tudo isso pode gerar uma sobrecarga nociva em cima de qualquer pessoa. Lidar com isso pode ser fichinha para alguns, mas, para outros, pode resultar até mesmo em depressão. Por isso, vale a pena discutir o assunto com atenção e cuidado, para que todos aprendam como identificar sinais de alarme e incentivar a importância de se procurar ajuda.
Se identifica com esse relato? Conhece alguém que pode fazer bom uso do conteúdo de hoje? Saúde mental não é brincadeira, e a oportunidade de entender melhor a respeito dela não pode ficar de lado. A hora de falar sobre isso é agora, então vamos lá!
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a OMS, saúde mental nada mais é do que o estado de bem-estar, em que as pessoas conseguem curtir a vida, trabalhar, estudar e administrar seus sentimentos com tranquilidade e equilíbrio. É a capacidade de lidar com emoções positivas, mesmo que emoções negativas apareçam vez ou outra.
Afinal, é impossível ser 100% feliz o tempo inteiro, já que impasses, imprevistos e dificuldades acontecem em nossa jornada. Mas também é muito preocupante deixar a negatividade dominar tarefas e relacionamentos, interferindo em seu desempenho na vida pessoal e profissional. Em geral, a saúde mental fica prejudicada quando um indivíduo se encontra constantemente em estado de atenção, preocupação e ansiedade.
É comum se isolar e começar a procrastinar atividades. Algumas pessoas até mesmo deixam de comer, ou comem compulsivamente, e de fazer coisas nas quais sempre sentiram prazer. Com a mente afetada, o corpo também sofre consequências: perda ou ganho de peso, dores de cabeça, insônia ou sono excessivo, e outros problemas de saúde podem se desenvolver.
E, com mais esses pontos para encarar, a recuperação fica ainda mais difícil. Por isso, é muito importante observar como você reage a exigências e desafios, seja ao longo da vida, seja durante a graduação.
Mas e em relação à saúde mental do estudante de Medicina, o que é importante observar? Alguns dados podem ser utilizados como uma forma de materializar esse assunto para que você entenda melhor como é importante ficar de olho em sintomas e procurar apoio o quanto antes. Veja só!
De acordo com uma pesquisa realizada em 2017, pelo menos 41% dos estudantes de Medicina sofrem de depressão. É uma porcentagem assustadora, não acha? Os questionários para se chegar a esse resultado foram aplicados em 22 universidades pelo Brasil, sendo que a doença tem mais incidência em capitais.
A média brasileira é, inclusive, mais alta que os índices mundiais de depressão para o mesmo nicho, que gira em torno de 27,2%. As manifestações ocorrem principalmente entre estudantes em situação de vulnerabilidade financeira. Afinal, além de todo o estresse usual de uma graduação, eles ainda ficam de mãos atadas para tomar uma série de decisões ao longo do curso, já que dependem de bolsa ou até mesmo perdem o auxílio por algum motivo.
Outra informação relevante é de que 81,7% dos alunos entrevistados apresentam a chamada “ansiedade estado”, ou seja, aquela que se manifesta durante determinados momentos, apenas. Por isso, ela é frequentemente ignorada, já que é percebida de maneira pontual. Com o passar do tempo, se torna permanente, o que requer um tratamento muito mais avançado.
As mulheres apresentam sintomas com maior frequência do que os homens, conforme a pesquisa. Além disso, a região Norte do país é a que apresenta mais alunos com depressão, seguido pela região Centro-Oeste e região Sudeste.
Para avaliar a saúde mental do estudante de Medicina, é importante entender os sintomas predominantes que podem levar à depressão. Entre os mais comuns, estão os seguintes:
Em outra pesquisa, realizada na Universidade Federal de São Paulo, identificou-se que 38,2% dos estudantes do curso apresentavam sintomas depressivos. A ansiedade é um dos fatores que predominam para se chegar a um resultado tão alto quanto esse.
Um estudo aplicado em graduando do curso de Medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), do primeiro ao sexto ano, também foi possível observar manifestações clínicas como perda de peso, tontura, fadiga, anorexia, entre outros.
Mesmo que os sintomas se apresentem de maneira leve, é essencial procurar ajuda o quanto antes. Eles têm a tendência de se desenvolverem rapidamente, então mesmo que em um primeiro momento pareça somente algo relacionado a uma situação imediata, é muito importante falar com um profissional.
Administrar os sentimentos é o primeiro passo para encontrar o equilíbrio e colocar a vida acadêmica e pessoal nos eixos, além de evitar que outros sintomas, além dos percebidos, apareçam. Um breve período de provas pode desencadear problemas físicos e mentais para o resto do curso, lembre-se disso.
Agora, um dado ainda mais triste. Sim, a pressão ao longo da graduação em Medicina pode levar ao suicídio. Essa constatação é válida tanto para estudantes quanto para recém-formados, que estão tentando vaga em residências ou no mercado de trabalho.
Entre os motivos que levam a essa decisão drástica, estão também a desilusão com o curso e a carga horária elevada. Muitos alunos têm um medo elevado de errar ou de não ser tão bom quanto gostariam, e ficam com vontade de abandonar a graduação, mas, sem coragem, arrastam o aprendizado.
Toda essa situação leva ao esgotamento e até mesmo ao abuso de álcool e drogas. Especialistas ainda mencionam que várias tentativas de suicídio acontecem, mas não são computadas, e que os casos só vêm à tona quando o estudante realmente morre.
A média de suicídios de estudantes de Medicina costuma ainda ser maior do que a da população em geral. Ou seja, é uma proporção assustadora, que precisa ser contida o quanto antes.
Se identificou com algum desses sintomas ou dados? Não tenha medo ou vergonha de procurar ajuda especializada. Você pode, por conta própria, procurar um profissional de saúde mental para falar um pouco sobre o que sente e ter um diagnóstico preciso sobre a sua situação, além de ter um acompanhamento preciso durante o tratamento sugerido.
Algumas universidades, como a USP, oferecem um atendimento online de apoio à saúde mental. É um serviço de acolhimento, com profissionais que têm vínculo com a instituição disponíveis para sessões de terapia e atendimentos pontuais.
Quando um caso mais grave é identificado, o aluno é encaminhado para tratamentos emergenciais. Veja com o pessoal da sua universidade se esse serviço é prestado e inscreva-se: tudo ocorre com total sigilo e cuidado para que você se recupere da melhor maneira possível.
Mas se você está de boa, tire um tempinho para dar uma atenção especial a quem está ao seu redor. Você pode ter um colega que precisa de ajuda, ou até mesmo um amigo próximo que luta para manter os sintomas escondidos.
Neste caso, é fundamental ter cuidado na abordagem, mas vale a pena sugerir que ele procure apoio para enfrentar o problema. Esteja ao lado dele e contribua como puder, seja na hora de estudar para a prova, seja revisando conteúdos ou até mesmo incentivando a recuperação e o retorno à dedicação às aulas. Ter uma rede de cuidados é muito importante para que qualquer pessoa melhore e continue firme para realizar o sonho de ser médico.
No mais, é essencial manter a calma nos estudos. Sem dúvidas, a faculdade de Medicina cobra bastante, mas se você conseguiu entrar, o que já é bastante difícil, tem total capacidade de prosseguir. Não se esqueça de que você pode contar com professores e tutores para enfrentar as dificuldades em relação à matéria e não hesite em falar com familiares e pessoas de confiança a respeito de seus problemas. Guardar tudo para você só aumenta o peso e a gravidade da situação.
Como você pode ver, a saúde mental do estudante de Medicina deve ser preservada, desde a graduação até o exercício efetivo da profissão. De fato, o dia a dia de um médico não é fácil. São vários casos complicados, sem contar a responsabilidade na tomada de decisões e no contato com pacientes em estado gravíssimo.
No entanto, é essencial buscar maneiras de administrar melhor o peso do curso e apostar em ferramentas que facilitem os estudos e a compreensão dos conteúdos. Assim, fica mais fácil absorver o que é ensinado e organizar uma rotina saudável, com tempo para o descanso, a família e a diversão.
Para ter acesso a uma dessas ferramentas você pode contar conosco! Baixe o app da Medway na hora de estudar para a residência. Por lá, você divide os estudos por questões, temas e dificuldades e pode reforçar o que já aprendeu na graduação.
Até a próxima, gente!
Carioca da gema, nasceu em 93 e formou-se Pediatra pela UFRJ em 2019. No mesmo ano, prestou novo concurso de Residência Médica e foi aprovada em Neurologia no HCFMUSP, porém, não ingressou. Acredita firmemente que a vida não tem só um caminho certo e, por isso, desde então trabalha com suas duas grandes paixões: o ensino e a medicina. Siga no Instagram: @jodamedway
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