Hoje, falaremos sobre uma pauta superimportante: o atendimento médico inclusivo. A visibilidade das questões de saúde da população LGBT iniciou na década de 1980, destacando as estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde no combate à epidemia do HIV/Aids. Porém, somente em 2008, durante a Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, o movimento adotou a sigla LGBT para aumentar a visibilidade política e social.
Vários movimentos vêm se desenvolvendo ao longo dos anos para garantir igualdade social para o grupo LGBTQIAPN+. Mas ainda há muito a fazer, principalmente no que se refere a um atendimento médico inclusivo.
Confira mais detalhes sobre o assunto. Veja a jornada do grupo LGBTQIAPN+, suas conquistas e desafios para ter acesso à saúde de qualidade no Brasil!
A medicina inclusiva é aquela que busca garantir que todos os pacientes tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade, independentemente de sua origem, identidade, orientação sexual, condição física ou mental e outros fatores.
Uma das principais razões pelas quais o atendimento médico inclusivo é tão relevante consiste no fato de que a saúde e o bem-estar de uma pessoa podem ser profundamente afetados por questões de desigualdade e discriminação.
Ao falar em atendimento médico inclusivo, é indispensável falar de LGBTQIAPN+. Essa sigla é uma forma de representar a diversidade de identidades de gênero e orientações sexuais que há na sociedade:
Os avanços na saúde para o atendimento médico inclusivo nos últimos anos têm sido significativos. Em 2013, foi criada, com base na Constituição Federal de 1988, a Política Nacional de Atenção à Saúde Integral para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, um marco importante que visava ampliar o acesso a serviços de saúde para essas comunidades marginalizadas.
A partir de então, o Sistema Único de Saúde (SUS) assegurou princípios como universalidade do acesso e integralidade da atenção.
Um dos principais avanços na saúde inclusiva tem sido a expansão dos serviços de atendimento e acolhimento específicos para a população LGBTQIAPN+·
Clínicas e centros de saúde especializados têm surgido em todo o país, oferecendo um ambiente seguro e acolhedor para indivíduos que muitas vezes enfrentam discriminação e preconceito no sistema de saúde tradicional.
Além disso, programas de capacitação e sensibilização são implementados para garantir que os profissionais de saúde estejam devidamente aptos para atender às necessidades específicas dessas comunidades. Alguns exemplos são:
No entanto, a falta de políticas públicas consistentes e a persistência de estigmas e preconceitos sociais representam obstáculos para a plena realização do direito à saúde para todos.
Vale dizer que ainda há muito a ser feito para garantir um atendimento adequado e acolhedor a essas pessoas. Um dos principais desafios enfrentados pelas pessoas LGBTQIAPN+ ao buscar atendimento de saúde é a falta de espaços públicos e privados que as acolham de maneira adequada.
Muitas vezes, essas pessoas não têm seus nomes sociais respeitados, são alvo de discriminação e preconceito e não se sentem seguras para compartilhar suas necessidades em razão de suas identidades de gênero e orientações sexuais.
Por isso, é importante que os médicos tenham escuta ativa. Eles devem perguntar às pessoas como elas desejam ser tratadas, empregar os pronomes adequados e não fazer suposições sobre as necessidades e demandas desses indivíduos com base em sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Entre as principais queixas de quem busca atendimento de saúde estão:
Para solucionar essas questões, também é indispensável pensar a reformulação do ensino superior com base na evolução dos direitos humanos e no reconhecimento das comunidades LGBTQIAPN+ ao longo do tempo, fazendo com que esses tópicos sejam abordados desde os primeiros anos de formação do médico.
Vamos considerar agora algumas orientações para promover um atendimento médico inclusivo, sensível às necessidades de indivíduos da comunidade LGBTQIAPN+:
Um dos primeiros passos para oferecer um atendimento médico inclusivo é investir na educação e sensibilização da equipe médica.
Profissionais de saúde devem estar atualizados sobre questões relacionadas à diversidade de gênero e sexualidade, bem como entender a importância de oferecer um ambiente acolhedor e livre de preconceitos para todos os pacientes. Nesse sentido, vale a pena conhecer as disposições legais:
A Portaria do SUS garante o uso do nome social de travestis e transexuais nos serviços de saúde, conforme regulamentado na Portaria nº 1.820/2009, bem como na Portaria nº 2.836/2011 (Política Nacional de Saúde Integral LGBTQIAPN+).
Há menção também ao desenvolvimento de estratégias para qualificar os profissionais de saúde, visando atender às especificidades da população LGBTQIAPN+.
Em termos jurídicos e burocráticos, os processos estão alinhados com o Decreto nº 7.508/2011, que regula a organização do Sistema Único de Saúde (SUS).
Essas medidas buscam assegurar o respeito, a não discriminação e a promoção dos direitos da população LGBTQIAPN+, visando à equidade e à garantia do acesso a serviços de qualidade.
Escutar atentamente as preocupações e necessidades dos pacientes é necessário para construir uma relação de confiança e respeito mútuo.
Acolher as experiências de vida de cada indivíduo, sem fazer suposições ou julgamentos, garante um atendimento médico humanizado.
Outro aspecto a ressaltar é que cada pessoa é única e apresenta suas próprias necessidades e preferências. Os médicos devem evitar assumir o que um paciente deseja ou precisa e, em vez disso, estar abertos a discutir opções e respeitar as escolhas individuais deles.
Além do aspecto físico, o médico deve reconhecer e considerar o estado psicológico e emocional dos pacientes durante o atendimento médico.
A empatia e a compreensão das emoções e vivências de cada pessoa são essenciais para oferecer um tratamento integral e satisfatório.
O atendimento médico só é inclusivo se assegurar que todos os pacientes receberão cuidados de saúde de qualidade. Entre alguns pontos relevantes que devem receber atenção, estão o processo de harmonização em pessoas trans e o atendimento ginecológico em lésbicas.
No último caso, muitas mulheres lésbicas, por medo de discriminação ou receio devido a más experiências passadas, evitam consultas com ginecologista para falar sobre sua saúde e realizar exames. Uma consequência disso é a maior incidência de câncer do colo do útero nessa população.
A pressão e a consequente epidemia de transtornos psiquiátricos que afetam essa população são alarmantes, e é fundamental compreender as particularidades que levam a esse cenário preocupante e buscar soluções eficazes.
Diferentes recortes dentro da comunidade LGBTQIAPN+ sofrem de forma desproporcional com problemas psiquiátricos. Há índices elevados de sofrimento psíquico decorrente de estigma, preconceito e violências diversas, além da sobrecarga mental da rotina.
Nesse contexto, muitas pessoas do grupo sofrem de transtornos alimentares e ideação suicida, o que demanda ações efetivas para mudar esse quadro.
É necessário desenvolver estratégias para fortalecer a comunidade LGBTQIAPN+ e promover sua saúde integral, popularizando o atendimento psicológico e psiquiátrico, já que grande parte da população com sintomas nunca passou por avaliação de profissionais de saúde mental.
A saúde mental é um pilar básico para a saúde integral da população LGBTQIAPN+, considerando que ela enfrenta o estresse de ser uma minoria e precisa lidar com as falhas das instituições.
Os serviços de saúde devem compensar essas falhas, assegurando os direitos fundamentais para que os membros do grupo possam se desenvolver com suporte adequado em todas as esferas (sociedade, saúde, educação, economia).
As diretrizes gerais da Política Nacional de Saúde Integral LGBTQIAPN+ incluem uma série de medidas diferenciadas para garantir atendimento inclusivo:
Depois de conhecer as diretrizes gerais da PNSI LGBTQIAPN+, vamos nos deter nas diretrizes específicas envolvendo:
Muitos médicos não possuem a formação necessária para lidar com questões relacionadas à diversidade de gênero. No entanto, existem maneiras de se preparar para dar um atendimento médico inclusivo:
O primeiro passo é buscar informações sobre as questões que concernem à comunidade LGBTQIAPN+. Infelizmente, não há muitos estudos sobre diversidade de gênero nas graduações em saúde, o que torna a busca por conhecimento ainda mais substancial.
Procure materiais disponíveis nos conselhos da área de atuação, que ofereçam instruções sobre o que deve e não deve ser feito durante o atendimento a pacientes LGBTQIAPN+.
É importante se qualificar profissionalmente para lidar com questões de diversidade de gênero. Existem cursos e materiais de qualidade, como os oferecidos pelo Unaids, que podem ajudar os profissionais de saúde a se familiarizar com as necessidades da comunidade LGBTQIAPN+.
Também é interessante se aproximar da cultura e das experiências da comunidade. Procure por serviços, ONGs e projetos específicos que ofereçam informações e treinamentos sobre diversidade de gênero.
Ao seguir as diretrizes da Política Nacional de Saúde Integral LGBT, você estará contribuindo para um sistema de saúde mais inclusivo e igualitário.
Finalmente, para oferecer um atendimento médico inclusivo, é essencial buscar conhecimento e manter-se sempre atualizado, conhecendo a legislação e inteirando-se sobre a cultura LGBTQIAPN+. Assim, será possível construir uma sociedade mais justa, que sabe reconhecer as diferenças sem fomentar a discriminação. A Medway também participa dessa luta pelo atendimento médico inclusivo. Aproveite e siga a gente nas redes sociais, para acessar nossos outros conteúdos: estamos no Facebook, no Instagram, no YouTube e no LinkedIn!
Carioca da gema, nasceu em 93 e formou-se Pediatra pela UFRJ em 2019. No mesmo ano, prestou novo concurso de Residência Médica e foi aprovada em Neurologia no HCFMUSP, porém, não ingressou. Acredita firmemente que a vida não tem só um caminho certo e, por isso, desde então trabalha com suas duas grandes paixões: o ensino e a medicina. Siga no Instagram: @jodamedway
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