Fala, pessoal! Como sabemos, o complexo QRS corresponde a despolarização ventricular e, devido à sua configuração, pode variar. Dessa forma, foi criado um padrão para designar cada componente, sendo a onda Q a primeira deflexão negativa do complexo QRS, representando a despolarização do septo interventricular. A onda Q patológica pode estar associada a diversas patologias e é sobre isso que falaremos hoje.
A despolarização do septo interventricular ocorre por meio do ramo esquerdo, despolarizando os ventrículos direito e esquerdo em simultâneo. Como a massa muscular do ventrículo esquerdo é maior que a do ventrículo direito, geralmente o que observamos no eletrocardiograma representa a ativação ventricular esquerda.
Em condições normais, a profundidade da onda Q normal não deve ultrapassar 25% da próxima onda R, com exceção de DIII, AVL e AVF.
A onda Q patológica será >= 0,04 s (um quadradinho) em duas ou mais derivações contíguas. Porém, devemos ter em mente que a presença de uma onda Q não indica nenhum mecanismo eletrofisiológico específico.
Esse achado pode estar relacionado com os seguintes mecanismos:
Importante: Nem toda onda Q será patológica ou devido à ocorrência de um infarto agudo do miocárdio.
Visto isso, detalharemos, agora, cada uma das principais situações que podem causar onda Q patológica.
No infarto agudo do miocárdio ocorre a perda das forças eletromotrizes, causada pela necrose do músculo cardíaco. Como consequência, no eletrocardiograma, observamos que, em decorrência da condução que se encontra retardada, ocorre a formação de onda Q por meio de uma área isquêmica ou condução em torno dela. (figura 3)
Via de condução alterada
No bloqueio de ramo esquerdo as forças de despolarização septal são orientadas da direita para a esquerda — o que é oposto à direção normal. Assim, a onda Q pode aparecer nas derivações precordiais direita e média.
Outra situação em que a via de condução se é contra alterada é no padrão Wolf-Parkinson-White onde uma via de condução acessória contorna o nó atrioventricular e inicia a despolarização ventricular de forma anômala. Esse desvio, pode causar ondas Q nas derivações precordiais direitas (V1 a V3) e esquerdas (V4 a V6).
Bom, até aqui você já viu que ter dúvidas na interpretação de um ECG não é uma opção, não é? Então mais uma dica para você se aprimorar é o nosso Atlas de ECG, que vai te ajudar a dominar todas as etapas de interpretação de um eletrocardiograma, com uma abordagem completa sobre esse exame. Ao final dele você vai assimilar o processo de avaliação sistemática dos ECGs que vão cair sobre suas mãos!
E se você quiser se aprofundar mais no assunto, temos outra dica: nosso curso de ECG que vai te levar do zero ao especialista no assunto. Ao final do curso você vai conseguir interpretar qualquer eletrocardiograma. Faça sua inscrição e domine o ECG!
Na embolia pulmonar, o padrão clássico S1Q3T3 (figura 4) pode ocorrer, mas NÃO é sensível nem específico para embolia pulmonar. A onda Q proeminente na derivação aVF também pode ser vista com esse padrão.
Na cardiomiopatia hipertrófica, podem ocorrer ondas Q inferolaterais proeminentes (derivações II, III, aVF e V4 a V6) estando relacionadas ao aumento das forças de despolarização geradas pelo septo hipertrofiado.
Nesse caso, é importante também nos atentarmos à polaridade das ondas T, de modo a diferenciar a cardiomiopatia hipertrófica do infarto. Quando a onda Q patológica é decorrente da cardiomiopatia hipertrófica, a onda T será vertical. No infarto, ondas Q podem estar associadas a ondas T verticais ou invertidas.
A presença inesperada ou não explicada de ondas Q no ECG representa um importante problema clínico que pode representar, desde um resíduo de um infarto do miocárdio, até um bloqueio de ramo esquerdo. A decisão sobre até onde prosseguir na investigação de ondas Q deve ser individualizada, sempre andando em conjunto com a história e o exame físico.
Bom pessoal, é isso! Revisamos um pouquinho a onda Q patológica no artigo de hoje. Ficou com alguma dúvida acerca do assunto? Deixe um comentário aqui embaixo, será um prazer respondê-lo.
Caso vocês ainda não dominem o plantão de pronto-socorro 100%, fica aqui uma sugestão: temos um material que pode te ajudar com isso, que é o nosso Guia de Prescrições. Com ele, você vai estar muito mais preparado para atuar em qualquer sala de emergência do Brasil. Antes de ir, se você quiser aprender muito mais sobre diversos outros temas, o PSMedway, nosso curso de Medicina de Emergência, irá te preparar para a atuação médica dentro da Sala de Emergência.
Sob supervisão de Anuar Saleh, residente em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein e também editor e professor do PSMedway.
GOLDBERGER, Ary L. Pathogenesis and diagnosis of Q waves on the electrocardiogram. UpToDate. 2022. Disponível em: < http://www.uptodate.com/online>. Acesso em: 20/01/2022
Surawicz B, Knilans TK. Chou’s electrocardiography in clinical practice, 6th ed. Philadelphia: Elservier; 2008.
THALER, Malcom S.; BURNIER, Jussara N.T. ECG essencial: eletrocardiograma na prática diária. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Formação em Medicina na Universidade Nove de Julho pelo FIES. Pesquisa no Instituto do Coração de São Paulo da Faculdade de Medicina da USP.