Complicações da colelitíase: saiba mais!

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A colelitíase tende a ser uma doença benigna na maioria dos casos. Contudo, ela pode apresentar complicações importantes, principalmente quando sintomáticas. Você sabe quais são as complicações da colelitíase? Conheça os principais pontos do manejo desses quadros resultantes dos cálculos biliares.

Colecistite aguda

Entre as complicações da colelitíase, a mais comum é a colecistite aguda. De forma objetiva, o diagnóstico é realizado por meio dos critérios de Tokyo. O quadro geralmente dura mais que seis horas e está associado a sinais sistêmicos, como febre, taquicardia ou sinais de peritonite ao exame abdominal. 

Deve-se dar destaque ao sinal de Murphy, que representa a parada súbita da inspiração e a palpação do ponto cístico. O exame padrão-ouro para diagnóstico é a colecintigrafia. No entanto, utiliza-se o ultrassom transabdominal na prática. Ele pode mostrar:

  • espessamento da parede/aumento da vesícula biliar;
  • presença de cálculos; 
  • líquidos pericolecísticos.

Manejo inicial

O manejo inicial inclui jejum, hidratação venosa, sintomáticos, antibiótico e correção de distúrbios hidroeletrolíticos. O tratamento para a maioria dos casos será a colecistectomia videolaparoscópica precoce (até 72 horas). No entanto, o tratamento conservador está autorizado se:

  • pacientes de baixo risco (ASA I e II) apresentem melhora após manejo inicial; 
  • pacientes de alto risco (ASA III, IV, V) ou classificados em Tokyo III (pelos critérios de gravidade) melhorem após tratamento clínico inicial.

Em ambos os casos, está indicado programar colecistectomia posteriormente. Nos pacientes de alto risco, a drenagem percutânea (colecistectomia) ou endoscópica também pode ser útil.

Coledocolitíase

Uma das complicações da colelitíase refere-se à presença de cálculos na via biliar principal, podendo estar ou não acompanhados de colangite aguda. O quadro clínico se caracteriza por cólica biliar associada ou não a manifestações de icterícia obstrutiva (icterícia flutuante, colúria e acolia).

Laboratorialmente, pode-se esperar aumento de bilirrubina direta, GGT, FA e elevação discreta de AST/ALT. O primeiro exame a ser solicitado é o USG transabdominal, sendo que há chance de observar cálculo na via biliar ou dilatação da via superior a 6/8 mm.

O tratamento depende dos preditores de risco. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é um tratamento tanto diagnóstico quanto terapêutico, indicada para pacientes de alto risco para coledocolitíase no pré-operatório de colecistectomia.

Já quando há risco intermediário, pode-se realizar a colecistectomia com colangiografia intraoperatória, seguida de CPRE no pós-operatório ou exploração cirúrgica da via biliar caso o cálculo  seja confirmado.

Colangite

Também considerada uma das complicações da colelitíase, a principal causa da colangite é a coledocolitíase, sendo resultado da obstrução da via biliar associada à presença de bactérias na árvore biliar. A apresentação clínica é marcada pela tríade de Charcot (dor abdominal em quadrante superior direito, febre e icterícia).

Em quadros graves, pode ser marcada pela Pêntade de Reynolds, associação da tríade de Charcot com hipotensão e rebaixamento do nível de consciência. O diagnóstico também é baseado nos critérios de Tokyo:

O exame inicial para diagnóstico é o USG transabdominal, mas a ressonância magnética é melhor para avaliação. 

O tratamento de colangite depende da gravidade do caso, assim como da colecistite. A base envolve antibioticoterapia e drenagem da via biliar. O procedimento de escolha é a CPRE.

Pancreatite aguda biliar

A passagem de cálculos biliares pelo trato biliar pode desencadear pancreatite aguda por obstrução do fluxo do ducto pancreático ou obstrução da ampola, fazendo com que a bile reflua de volta para o ducto pancreático.

Geralmente, o quadro clínico é acompanhado de dor abdominal de forte intensidade em epigástrio com irradiação para o dorso (dor em faixa), com náuseas e vômitos. O diagnóstico é feito pelos Critérios de Atlanta, com existência de, pelo menos, dois dos três critérios:

  • dor sugestiva de pancreatite aguda;
  • elevação de amilase ou lipase três vezes acima do limite da normalidade;
  • exame de imagem sugestiva do diagnóstico.

O exame inicial a ser solicitado é o USG transabdominal para evidenciar a presença de colelitíase. A tomografia de abdome não deve ser solicitada de rotina, sendo reservada à dúvida diagnóstica, aos critérios clínicos de gravidade ou ao quadro em piora, após 48 a 72 horas do início dos sintomas.

O tratamento baseia-se no tripé analgesia, hidratação e nutrição. A ideia é liberar o paciente do jejum assim que ele tiver fome e ausência dor ao se alimentar. Não se deve utilizar antibióticos de maneira profilática! A colecistectomia deve ser realizada após a recuperação da pancreatite aguda em todos os pacientes operáveis.

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MatheusCarvalho Silva

Matheus Carvalho Silva

Matheus Carvalho Silva, nascido em 1993, em Coronel Fabriciano (MG), se formou em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência em Cirurgia Geral na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).