Comunicação interventricular: como suspeitar nas radiografias de tórax?

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As cardiopatias congênitas são temas que assustam tanto na prática médica quanto nas provas de residência. Como é um assunto muito importante para a atuação médica, é necessário estudá-lo com calma e conhecer alguns quadros clínicos, como a comunicação interventricular.

Essa condição cardíaca deve ser compreendida por completo para um bom diagnóstico e tratamento adequado. Por isso, a seguir, você fica sabendo mais sobre essa doença e como identificar as consequências pelas radiografias de tórax. 

O que é comunicação interventricular?

A comunicação interventricular (CIV), também chamada de defeito do septo ventricular (DSV), é caracterizada por uma abertura anormal no septo interventricular, permitindo uma comunicação entre os ventrículos direito e esquerdo. 

Devido à menor pressão do lado direito, observa-se uma passagem do sangue do ventrículo esquerdo para o ventrículo direito (shunt esquerdo-direito), com sobrecarga das câmaras direitas e aumento do fluxo sanguíneo pulmonar. 

A CIV é uma das cardiopatias congênitas mais comuns. Ela se associa com outras anomalias cardiovasculares em até 40% dos casos. É considerada a cardiopatia mais diagnosticada em crianças e a segunda mais diagnosticada em adultos (perde para a comunicação interatrial (CIA) nesta faixa etária). 

Dependendo do tamanho do defeito no septo, há maior ou menor volume do shunt, o que determina a gravidade da apresentação clínica. Defeitos muito pequenos podem permanecer assintomáticos, enquanto defeitos maiores podem ser confundidos com insuficiência cardíaca e hipertensão pulmonar. 

Sintomas da CIV

O diagnóstico definitivo da comunicação interventricular é feito com um ecocardiograma. Geralmente, os sintomas de comunicação interventricular observados pelo médico, que motivam a execução do exame, podem variar pelo tamanho do orifício no coração. 

Se for pequeno, a sobrecarga é menor, e pode haver poucos sintomas, como a observação de um sopro. Se for grande, pode causar falta de ar, respiração rápida, desconforto respiratório, dificuldade na hora de se alimentar e fadiga.

O que a radiografia de tórax pode revelar?

A radiografia de tórax é um exame secundário, incapaz de identificar a comunicação interventricular, mas que pode demonstrar as consequências.  Ela pode ser útil para uma triagem inicial, aumentando ou reduzindo a suspeição dessa anomalia. 

A radiografia pode ser normal em estágios iniciais ou quando o defeito é pequeno. Quando alterada, podemos observar as seguintes alterações:

  • aumento da vasculatura pulmonar (hipertensão pulmonar):
    – aumento do calibre do tronco da artéria pulmonar;
    – aumento do calibre dos vasos pulmonares (o aumento das artérias pulmonares centrais é chamado sinal de Fleischner);
    – cefalização da trama vascular;
    – vasos atingindo a periferia dos pulmões.
  • aumento das câmaras cardíacas:
    – aumento do átrio esquerdo;
    – aumento dos ventrículos direito e esquerdo.
  • em casos mais avançados ou descompensados, pode haver edema pulmonar e derrame pleural.

Legenda: menino de 6 anos com CIV. A) Radiografia em PA mostrando aumento do tronco da artéria pulmonar (MP) e das artérias pulmonares centrais (mais evidente à direita – RH). Há aumento da vascularização pulmonar com proeminência da trama vascular (setas). B) A incidência lateral (perfil) mostra preenchimento do espaço retroesternal (indicando aumento do ventrículo direito), bem como aumento do contorno cardíaco posterior e inferior com preenchimento do espaço retroesternal, indicando aumento do átrio esquerdo e do ventrículo esquerdo. Fonte: Radiology Key – https://radiologykey.com/ventricular-septal-defect

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LuisaLeitão

Luisa Leitão

Mineira, millennial e radiologista fanática. Formou-se em Radiologia pelo HCFMUSP na turma 2017-2020 e realizou fellow em Radiologia Torácica e Abdominal em 2020-2021 no mesmo instituto, além de ter sido preceptora da residência de Radiologia por 1 ano e meio. Apaixonada por pão de queijo, café e ensinar radiologia.