Como podemos facilmente inferir pelo seu próprio nome, a conjuntivite é definida pela inflamação da conjuntiva, a membrana transparente que reveste a superfície ocular. Ela cobre não só a parte branca do olho (chamada esclera), onde recebe o nome de conjuntiva bulbar, mas também a mucosa da parte interna das pálpebras, onde recebe o nome de conjuntiva tarsal (superior e inferior).
Essa membrana tem a importante função de servir como barreira protetora aos nossos olhos, semelhante à função da nossa pele, que por sua vez serve de proteção aos nossos diversos órgãos.
E quais são as etiologias das conjuntivites agudas, isto é, o que pode levar essa membrana a inflamar?
As etiologias mais comuns e frequentes são:
- vírus (conjuntivite viral ou ceratoconjuntivite epidêmica);
- contato ou acidente com produtos químicos;
- alergias (conjuntivite alérgica e conjuntivite atópica ou vernal);
- bactérias (conjuntivites gonocócicas e não gonocócicas).
No nosso dia a dia como médicos, podemos facilmente nos deparar com casos de conjuntivite. Diferentemente do que muitos podem pensar, há condutas que PODEMOS E DEVEMOS tomar diante de casos como este e outras que NÃO devemos tomar, antes de encaminharmos esses pacientes ao oftalmologista, caso isso seja porventura necessário. Neste texto, vamos entender como conduzir melhor essas situações tão comuns na nossa rotina.
Quais são os principais sintomas de conjuntivite?
Antes, vamos começar explicando os sinais e sintomas comuns a todos os tipos de conjuntivites agudas. São eles:
- prurido ocular;
- queimação ocular;
- sensação de corpo estranho (muitas vezes definida como sensação de “areia” ou “pó” no olho);
- hiperemia conjuntival;
- edema palpebral ou conjuntival (quemose);
- pouca ou nenhuma redução da acuidade visual;
- lacrimejamento excessivo ou secreção ocular (esta varia de aspecto conforme a etiologia. Vejam adiante!).
Mas e aí, quais são os sinais e sintomas para cada tipo de conjuntivite aguda? E como devo manejar esses pacientes na urgência? Acompanhe a seguir!
Conjuntivite aguda viral
- Etiologia: em geral, adenovírus (o mais comum), coxsackie ou enterovírus. Muitas síndromes virais sistêmicas (sarampo, caxumba, influenza) podem causar conjuntivite também.
- Fatores de risco: sem predileção por idade ou gênero. Atenção: geralmente é associada a infecções do trato respiratório superior (IVAS).
- Quadro clínico: pode durar de 1 até 10 a 21 dias, mas em geral não dura mais do que 7 dias.
- Sinais e sintomas marcantes: hiperemia conjuntival difusa, quemose; eritema e edema palpebrais; lacrimejamento; sensação de “areia” no olho ou de corpo estranho.
- Tipo de secreção (quando presente): aquosa.
- Evolução: geralmente inicia em um olho, acometendo o outro olho após alguns dias.
Fiquem ligados: a hemorragia subconjuntival é um sinal comum quando a conjuntivite é causada por cocksakie ou enterovírus. É uma condição mais rara, porém totalmente benigna.
O que o médico generalista deve fazer em caso de conjuntivite aguda viral?
- Colírios lubrificantes: deixá-los na geladeira e instilar uma gota no(s) olho(s) acometido(s) até a cada 2 horas. Eles vão ajudar na diminuição dos sintomas. Dar preferência aos colírios sem conservantes. Não usar soro fisiológico para lavar o olho. Usar lubrificante no lugar.
- Compressas frias várias vezes por dia (água ou soro fisiológico). Deixá-las repousando sobre as pálpebras.
- Orientar sobre higiene das mãos para evitar o contágio de terceiros. Lembrar que esta doença não se transmite pelo ar, e sim pelo contato. A conjuntivite viral é muito contagiosa, em geral por mais ou menos 12 dias a partir do seu início. Enquanto os olhos permanecerem vermelhos, há risco de contágio.
- Em caso de piora dos sintomas ou de quadros arrastados sem melhora nos primeiros 10 dias, encaminhar ao oftalmologista a fim de buscar possíveis diagnósticos diferenciais ou complicações.
Fiquem atentos: colírios antibióticos são contraindicados. Colírios corticoides para casos simples e leves também. Seu uso deve ser manejado apenas por oftalmologistas, devido aos graves efeitos adversos que eles podem causar ao olho do paciente.
Conjuntivites agudas causadas por contato com produtos químicos
Em geral, há história de uso de cosméticos faciais ou maquiagem. Essas conjuntivites devem ser manejadas por um oftalmologista, já que podem cursar com lesões conjuntivais ou corneanas invisíveis ao olho nu.
O que o médico generalista deve fazer em caso de conjuntivites agudas causadas por contato com produtos químicos?
- Lavar os olhos do paciente com soro fisiológico em abundância (em geral 2 litros) e de preferência com as pálpebras evertidas.
- Prescrever colírios lubrificantes (como carmelose e hipromelose) a cada 2 horas.
- Encaminhar ao oftalmologista o mais rápido possível.
Conjuntivite alérgica e conjuntivite atópica/vernal
- Sinais e sintomas marcantes: prurido, acometimento bilateral (ambos os olhos). Atenção: histórico de alergias é típico!
- Tipo de secreção (quando presente): aquosa alérgica e espessa, viscosa na vernal.
O que o médico generalista deve fazer em caso de conjuntivite alérgica e conjuntivite atópica/vernal?
- Tentar encontrar e eliminar o agente desencadeante. Nesse caso, pode ser útil a lavagem dos cabelos e roupas.
- Orientar o uso de compressas frias sobre as pálpebras várias vezes ao dia.
- Orientar o uso de colírios lubrificantes (se refrigerados, conferem melhor alívio dos sintomas) de 4 a 8 vezes ao dia (uma gota em cada olho).
- Se as condutas acima não surtirem efeito, prescrever colírios específicos ao tratamento da conjuntivite alérgica (exemplo: olopatadina 0,1% – 1 gota em cada olho a cada 12 horas) e encaminhar ao oftalmologista.
Se quiserem saber mais sobre conjuntivites alérgicas, não deixem de conferir nosso texto aqui no blog!
Conjuntivites bacterianas
- Etiologia: são comuns Staphylococcus aureus e epidermidis, Haemophilus influenzae; Streptococcus pneumoniae, Moraxella catarrhalis e, por fim, Neisseria gonorrhoeae.
- Sinais e sintomas marcantes: hiperemia, pouco ou nenhum prurido e secreção.
- Tipo de secreção: branco-amarelada nas não gonocócicas e purulenta em grande quantidade nas gonocócicas.
- Evolução do quadro clínico: nas não gonocócicas, ele é de início agudo e os linfonodos pré auriculares são geralmente ausentes. Nas gonocócicas, por sua vez, o quadro é hiperagudo (nos recém-nascidos, grupo onde é comum o seu aparecimento, ele se inicia já de 1 a 4 dias após o nascimento!) e o aparecimento de adenopatia pré-auricular e edema palpebral é frequente.
O que o médico generalista deve fazer em caso de conjuntivites bacterianas?
- Lavar os olhos do paciente com soro fisiológico para retirar o excesso de secreção.
- Prescrever colírios lubrificantes (como carmelose e hipromelose) a cada 2 horas.
- Encaminhar ao oftalmologista (ou ao pediatra no caso dos recém-nascidos) o mais rápido possível, para exame físico oftalmológico completo e escolha da melhor conduta terapêutica.
É isso, galera! Se gostaram da nossa conversa sobre sintomas de conjuntivite, fiquem ligados, que em breve teremos mais textos sobre oftalmologia, incluindo um específico sobre conjuntivite bacteriana. Acompanhem as novidades!
E se quiserem saber mais sobre essa especialidade incrível que é a oftalmologia, temos um conteúdo completo sobre o assunto. Até mais, pessoal!