Vivendo em meio a um bombardeio de informações sobre os mais diversos assuntos, é mais fácil encontrar conteúdos relatando as contraindicações anticoncepcionais e o risco de utilização pelas mulheres.
Você já parou para pensar se o que dizem sobre os contraceptivos orais é mesmo real? É seguro prescrever essa medicação que revolucionou o planejamento familiar? Caso você queira acabar com tais dúvidas, está no lugar certo. É hora de saber mais sobre as contraindicações anticoncepcionais!
Para guiar o uso dos métodos contraceptivos orais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou critérios de elegibilidade da prescrição com base nas contraindicações ao uso dessas medicações.
Os critérios guiam o profissional para a escolha de acordo com a idade, a constituição e as comorbidades da paciente, sempre respeitando os desejos pessoais. Eles se dividem em quatro categorias:
Categoria 1 | Use o método em qualquer circunstância |
Categoria 2 | De modo geral, use o método |
Categoria 3 | Em geral, não se recomenda o uso do método a menos que outros, mais adequados, não estejam disponíveis ou não sejam aceitáveis |
Categoria 4 | O método não deve ser usado |
É importante destacar que existe mais de um tipo de anticoncepcional oral. Em cada um, a composição hormonal varia, assim como as contraindicações. Assim, para organizar o raciocínio, vamos falar deles separadamente.
Os anticoncepcionais orais combinados são aqueles que têm estrogênio associado a progestagênio no mesmo comprimido. Nesse caso, o etinilestradiol é o estrogênio mais comum.
Eles foram introduzidos no mercado no ano de 1960, e levou pouco tempo para serem relacionados a eventos cardiovasculares. Em especial, observou-se uma maior incidência de fenômenos tromboembólicos, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.
As complicações tromboembólicas estão entre as mais temidas pelas usuárias de contraceptivos (combinados ou não). Após pesquisas envolvendo as primeiras formulações, esses eventos foram associados às altas doses de estrogênio.
Com isso, houve empenho para reduzi-las, o que resultou nas apresentações atuais com até 15 mcg de etinilestradiol na composição. Outro ponto importante é que, hoje, já se sabe que o componente progestogênico também influencia o risco trombótico da pílula.
Os progestagênios mais seletivos (gestodeno, desogestrel e drospirenona) não interferem negativamente sobre a ação estrogênica, ao contrário dos menos seletivos, como o levonorgestrel.
Supõe-se que anticoncepcionais “mais estrogênicos” possuem progestagênios mais seletivos. Consequentemente, há maior chance de alterações no sistema de coagulação, levando a uma maior incidência de eventos tromboembólicos.
Dessa forma, indique o uso dos anticoncepcionais combinados de forma criteriosa. É necessária a avaliação da paciente com exame físico e anamnese detalhados para identificar as contraindicações anticoncepcionais.
Entre as contraindicações anticoncepcionais consideradas de categoria 4 pela OMS (indicada na tabela anterior como “o método não deve ser usado”), estão os seguintes casos:
Já as alterações elencadas na categoria 3 (aquelas em que o uso do método não é recomendado a menos que outros mais apropriados não estejam disponíveis ou não sejam aceitáveis), estão:
A partir desses casos, nota-se que o ponto mais importante para realizar as indicações de anticoncepcionais é a história clínica detalhada da paciente. Com isso, é possível avaliar a presença de eventos trombóticos, sangramentos alterados, entre outros.
Os contraceptivos compostos apenas por progestagênios têm uso mais amplo em comparação aos combinados, uma vez que não possuem estrogênio na composição.
Eles são ótimas opções para grande parte das pacientes. A indicação acontece, preferencialmente, nas situações em que há contraindicação absoluta ou relativa para o uso de estrogênios, presença de efeitos adversos com o uso do estrogênio ou durante a amamentação, por não interferir na produção láctea.
Entre as contraindicações anticoncepcionais desse método, estão os seguintes casos:
A gestação confirmada é a única contraindicação absoluta para a contracepção de emergência, enquadrada na categoria 4 pelos critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde. No entanto, não há registro de efeito teratogênico para o feto em caso de uso inadvertido.
É interessante destacar que os contraceptivos orais têm importância clínica não só na contracepção, mas também no tratamento clínico de patologias. Por se tratar de uma medicação de baixo custo e ampla disponibilidade, inclusive no Sistema Único de Saúde, há uma grande aplicação na prática médica.
No caso do sangramento uterino anormal disfuncional, eles têm importância fundamental para o controle sintomático e a melhora do status da paciente. Também é importante indicar pacientes em anovulação, que se beneficiam do uso para proteção endometrial.
Como foi possível perceber, existem tipos e contraindicações diferentes em relação aos anticoncepcionais orais. Um ponto muito importante é conversar abertamente com a paciente, explicando os riscos de cada método e tentando adequá-lo à rotina e às particularidades, sem esquecer das limitações.
Um ponto de destaque é que a paciente precisa estar ciente do risco trombótico do ciclo gravídico puerperal ser muito superior em relação ao uso dos contraceptivos. Para evitá-lo, a ação mais importante é realizar uma avaliação clínica antes de iniciar o medicamento.
É muito importante realizar uma pesquisa de histórico pessoal e familiar de trombose arterial e venosa, trombofilias, neoplasias (principalmente hormônio-dependentes, como câncer de mama), pressão alta e diabetes.
O exame físico já é parte da consulta ginecológica, porém não é essencial para o início do uso. A exceção é a medida da pressão arterial, que deve ser aferida antes da prescrição dos combinados.
Na prática clínica, muitas vezes, não é possível usar os métodos orais ou outros que contêm hormônios. Nesse caso, indica-se os métodos não hormonais (DIU de cobre, por exemplo) mais seguros ou os definitivos para mulheres sem desejo reprodutivo (laqueadura ou vasectomia para o parceiro).
É importante que o preservativo entre como indicação tanto para contracepção quanto para proteção contra ISTs, não devendo ser esquecida a orientação para todas as pacientes.
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Piauiense, nascida em Bom Jesus em 1996. Formada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) em 2019. Residência em Obstetrícia e Ginecologia na Universidade de São Paulo - HC FMUSP SP. Quanto maior o esforço e o estudo, maior a recompensa.