Chegou a hora de conhecer tudo sobre a esteatose hepática, a famosa gordura no fígado. Com a quantidade de casos frequentes, conhecer a doença é essencial para os atendimentos no pronto-socorro.
Esse assunto é de extrema importância, considerando que se trata da hepatopatia crônica mais frequente do mundo, que acomete de 20% a 45% da população mundial. Quer saber mais sobre a esteatose hepática para mandar bem nos plantões? Continue a leitura!
Entender o que é esteatose hepática é simples! Trata-se de uma doença com características que se assemelham à lesão hepática induzida por álcool, mas, por definição, ocorre em pacientes com pouca ou nenhuma história de consumo alcoólico.
Um nome um pouco mais complicado também é usado para englobar a síndrome, chamada de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Ela pode acontecer sem ou com inflamação do órgão, caracterizando o fígado gorduroso não alcoólico e a esteatohepatite não alcoólica (EHNA).
A fisiopatologia é cansativa, mas é importante para compreender como a doença se desenvolve. O que se sabe é que fortes evidências epidemiológicas, bioquímicas e terapêuticas apoiam a premissa de que o distúrbio fisiopatológico primário é a resistência à insulina, na maioria dos pacientes.
A resistência à insulina leva ao aumento da lipólise, síntese de triglicerídeos, da captação hepática de ácidos graxos livres e ao acúmulo de triglicerídeos hepáticos.
Com relação à esteatohepatite, o componente inflamatório ainda não é plenamente compreendido. Vários mecanismos possíveis foram teorizados, incluindo fatores do hospedeiro, como defeitos na estrutura e na função mitocondrial, eliminação prejudicada de radicais de oxigênio livre, aumento do ferro hepático e subprodutos hepatotóxicos de bactérias intestinais.
Já a fibrogênese hepática parece estar relacionada à ativação de células estreladas lobulares e células progenitoras hepáticas. Resumindo: o paciente tem hepatopatia secundária a uma resistência à insulina. Sendo assim, é muito comum que ele possua síndrome metabólica.
Com relação às manifestações clínicas específicas, o paciente pode se apresentar de diversas formas, variando desde um indivíduo assintomático — vasta maioria — até com inespecíficos sintomas da esteatose hepática, como mal-estar, dor abdominal e fraqueza.
Em fases mais avançadas, com evolução para cirrose, encontram-se estigmas característicos da síndrome de hipertensão portal. Nesse primeiro momento, o achado no exame físico que mais auxilia é a hepatomegalia firme e indolor.
SÍNDROME METABÓLICA |
Glicemia de jejum > 100 mg/dL |
HDL < 40 mg/dL em homens ou < 50 mg/dL em mulheres |
Triglicerídeos > 150 mg/dL |
Obesidade central |
Pressão arterial > 130 x 85 mmHg |
Critérios de Síndrome Metabólica: são necessários três ou mais fatores para o diagnóstico.
Com relação aos exames complementares, a parte laboratorial também possui um gap entre indivíduos sem alterações e aqueles com provas de função e necrose hepática alterados.
Os pacientes com esteatohepatite possuem marcadores alterados. As transaminases e a gama-GT não costumam ultrapassar quatro vezes o valor de referência. A fosfatase alcalina não ultrapassa duas vezes o valor de referência.
Os exames de função hepática costumam se alterar com o avançar da doença. Entre os exames de imagem, o mais utilizado é o ultrassom pela vasta disponibilidade e pela boa especificidade. No entanto, a ressonância magnética possui acurácia superior na avaliação dos pacientes.
Por fim, a forte suspeita clínica, a exclusão de outras causas e a realização de biópsia são procedimentos-ouro para o diagnóstico da esteatose hepática! Eles mostram o padrão de esteatose macrovesicular associado à inflamação lobular acometendo a região centrolobular.
Lembre-se que você não vai arrancar um pedaço do fígado de metade da população mundial. Para isso, foram criados diversos escores que levam em consideração a idade, os estigmas de cirrose hepática e a relação entre transaminases.
Fonte: Unicamp
Se toda a gênese da questão está na resistência à insulina e no metabolismo lipídico, basta intervir na origem! O paciente deve perder peso. Algumas medicações têm sido utilizadas como adjuvantes no tratamento da esteatose hepática, especialmente na presença de comorbidades.
Em pacientes diabéticos, por exemplo, pioglitazona e agonistas do receptor de GLP-1 foram drogas que mostraram benefício. Algumas evidências apoiam o uso da vitamina E na dose de 800 UI por dia em pacientes não diabéticos.
Quanto ao rastreio, não existe uma recomendação formal para a doença hepática não alcoólica, mas para o diagnóstico precoce de hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e diabetes mellitus.
São muitos detalhes sobre a esteatose hepática. Por isso, o ideal é dominar o diagnóstico e convencer o paciente a mudar o estilo de vida! Se você gostou desse artigo e quer aprender sobre outras doenças, melhorando seu atendimento, acompanhe a Academia Medway.
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*Colaborou Renata P. Cavalcanti
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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