Todo aluno de Medicina passa, ali no quinto e no sexto ano da faculdade, pelo internato. É nesse momento que ele deve aprender a conduzir pacientes de baixa e alta complexidade no pronto-socorro. Aliás, “deve aprender”, não. Deveria. Cá entre nós, não é segredo que a maior parte dos médicos recém-formados não se sente seguro o suficiente pra começar a dar plantões. Pensa aí na sua experiência. A gente mal pega mão nos procedimentos e, quando vê, já tá se virando com os pacientes graves na emergência. Depois, chegamos na residência nos sentindo despreparados. Mas por que isso acontece?
Tanto os médicos que acabaram de se formar quando os recém-ingressos nas residências médicas sofrem de uma baita insegurança e medo de errar na hora de colocar a mão na massa. A verdade é que muita gente não se sente preparada o suficiente e existem alguns motivos possíveis para isso. Vou te contar quais são.
Essas são apenas algumas das razões pelas quais você não atinge seu potencial no aprendizado prático ao longo da graduação. Deu pra ver que existem fatores internos e externos, né? Ou seja, alguns você pode controlar e os outros não. No fim das contas, o resultado é um só: insegurança.
Eis que você chega na residência médica e tem que encarar a realidade. Residência é sinônimo de treinamento em serviço. Você vai aprender, vai ter uma pequena carga teórica, mas a maior parte da vivência vai ser nos atendimentos. Além disso, talvez você faça plantões pra complementar a bolsa da residência. Aí não tem pra onde fugir: quando aparecerem os pacientes graves, você vai ter que se virar. Inclusive, pelo receio de não darem conta do B.O., é muito comum que médicos deem plantões em dupla no começo da carreira.
O Vladimir Gomes, R1 do Hospital Israelita Albert Einstein, é um dos médicos que passou pelo medo de pegar pacientes graves na residência médica. Mesmo tendo feito muitos estágios em porta durante a graduação, o que gerava alguma vantagem em relação aos seus colegas de residência. Ele contou pra gente que sentia que seu atendimento ainda não era de excelência na emergência. Se liga no depoimento dele:
“Eu tinha toda aquela decoreba de residência, de prova, mas não sabia como aplicar aquilo na prática com toda a pressão”.
É, como o próprio Vladimir falou, a emergência é realmente uma panela de pressão em que as coisas não acontecem como na teoria. A velocidade, a complexidade e a variedade dos casos exigem um bom preparo para ações ágeis e assertivas.
Uma das maiores inseguranças dos médicos em relação aos casos graves é deixar passar algum diagnóstico e depois sofrer um processo por erro médico. Muita gente também se assusta no início para atender infarto agudo do miocárdio e politrauma, além de não saber lidar com crianças e gestantes.
Alguns procedimentos também travam uma galera, como fazer ventilação mecânica e intubação orotraqueal. Isso sem falar na análise clínica, como o medo de errar na anamnese, nas doses de medicações, nas condutas. Pra ajudar (#sóquenão), a realidade das emergências Brasil afora não é a da abundância de recursos disponíveis.
Fato é que uma parte considerável dos médicos atuantes nas linhas de frente dos prontos-socorros são justamente os que ainda têm pouca experiência, recebendo casos de baixa a alta complexidade. Diante disso, o que fazer?
Não tem alternativa, pra dar alta pra um paciente no PS com a consciência tranquila, manejar os casos tranquilamente ou até mesmo se virar bem em ambientes com poucos recursos, você vai ter que se preparar adequadamente. Reciclagem e atualização são conceitos-chave aqui.
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Capixaba, nascido em 90. Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e com formação em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e Administração em Saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Apaixonado por aprender e ensinar. Siga no Instagram: @joaovitorsfernando