Fala pessoal! Talvez vocês já tenham visto em algum dos plantões de Obstetrícia uma correria emergencial e alguém avisando a todos a respeito de um “DPP” — o famoso descolamento prematuro de placenta! Essa é uma das emergências obstétricas mais temidas e que deve ser manejada imediatamente para salvar a vida tanto da mãe como do feto. Mas porque será que há tanta urgência em prestar esse atendimento? E qual a melhor forma de atender uma gestante com um quadro sugestivo dessa complicação? Realmente devemos ter medo dela?
Medo não, porém é um diagnóstico que requer atenção e ação! Então foca nessa leitura e vamos aprender a resolver esses casos e salvar vidas!
Em primeiro lugar, você sabe o que é um descolamento prematuro de placenta? Vamos pensar nas palavras, galera: é a placenta que se descola da decídua antes da hora.
A placenta é o órgão responsável pela nutrição e oxigenação do sangue venoso do feto, sendo responsável por criar uma interface entre o sangue materno e o sangue fetal e nutrir o bebê durante toda a gestação.
Em uma gestação normal, a placenta permanece acoplada à parede uterina até a expulsão do feto, havendo o descolamento da placenta no terceiro período do parto, quando ela não mais será necessária para a nutrição do, agora, recém-nascido.
Consideramos o descolamento da placenta como prematuro quando ele ocorre em qualquer momento anterior ao nascimento do bebê. Sendo assim, o descolamento prematuro da placenta ocorre quando há uma separação entre a placenta e o útero antes do nascimento, o que faz com que o bebê seja privado totalmente de trocas gasosas e de nutrientes! Deu pra entender agora o porquê de toda a emergência quando estamos frente a um caso como esse? O bebê literalmente não está respirando! Por isso, cada segundo importa para evitarmos sequelas relacionadas à hipóxia fetal.
O descolamento prematuro de placenta pode cursar com sangramento vaginal na segunda metade da gestação, dor abdominal, hipertonia uterina e frequência cardíaca fetal não tranquilizadora.
De acordo com suas características clínicas, ele pode ser subdividido em três graus:
Sim, na maioria das vezes, é causa importante de morbimortalidade materna e perinatal. A mortalidade perinatal é em torno de 20 vezes maior em relação às gestações sem DPP e grande parte das mortes perinatais ocorrem dentro do útero.
A causa aguda do DPP é o rompimento dos vasos maternos na decídua basal. O sangue que se acumula atinge a região de clivagem decíduo-placentária e gera o descolamento. Pode haver sangramento de pequeno volume e autolimitado ou pode ocorrer separação completa da placenta. A parte descolada da placenta não consegue fazer a troca de gases e nutrientes e quando a porção restante não compensa essa perda de função, há comprometimento fetal.
O DPP anterior é o principal fator de risco para um novo descolamento. A hipertensão é a condição clínica mais associada ao DPP. O tabagismo é um fator de risco modificável para descolamento de placenta.
Outros fatores de risco para DPP também podem ser identificados. Os traumas abdominais e uterinos podem levar a descolamentos, especialmente em traumas de alto impacto, como acidentes automobilísticos, por exemplo. Além disso, outro fator que está frequentemente presente (inclusive nas questões de provas de residência sobre esse tema!) é o uso de drogas estimulantes, como a cocaína, o crack e as metanfetaminas, que geram aumento agudo da pressão arterial e podem predispor a esse tipo de sangramento da segunda metade da gestação.
O diagnóstico é clínico. No entanto, a ultrassonografia, os exames laboratoriais e a análise placentária pós-parto podem auxiliar no diagnóstico. Pacientes com DPP agudo apresentam sangramento genital pequeno a moderado, dor abdominal e contrações uterinas. O ultrassom é útil para revelar um hematoma retroplacentário e excluir outros diagnósticos.
Os diagnósticos diferenciais englobam placenta prévia, trabalho de parto, rotura uterina e hematoma subcoriônico. No entanto, cada uma dessas entidades possui particularidades que as diferenciam do DPP.
Diante a uma urgência obstétrica como o descolamento prematuro de placenta, devemos trabalhar rápido para chegarmos aos melhores resultados maternos e fetais. Em primeiro lugar, uma história clínica direcionada e diagnóstico preciso são necessários. Buscar, em poucos minutos, entender qual a idade gestacional e se há fatores de risco associados (história de hipertensão, tabagismo ou uso de drogas). De imediato, devemos avaliar a estabilidade hemodinâmica da mãe e a vitalidade do feto. Portanto, monitorar os sinais vitais da gestante e auscultar o batimento cardíaco fetal assim que a paciente for admitida com quadro suspeito para DPP. Simultaneamente, é possível perceber outros sinais que possam aumentar a confiabilidade do diagnóstico, como a dor abdominal e a hipertonia uterina.
A conduta deve sempre ser individualizada e basear-se no grau e classificação do DPP, se há comprometimento materno ou fetal e na idade gestacional.
Em casos confirmados, deve-se realizar a amniotomia o mais precocemente possível, mesmo que a paciente seja encaminhada para cesariana. Essa medida é necessária para diminuir a pressão no hematoma, aliviando a hipertonia uterina e reduzindo a infiltração de sangue na parede uterina. Com isso, reduz-se a velocidade de progressão do descolamento e a transferência de tromboplastina para a circulação materna, melhorando o prognóstico fetal e reduzindo o risco de progressão para a chamada apoplexia uteroplacentária (“útero de Couvelaire” – útero grande, atônico, amolecido, resultante da infiltração sanguínea nas camadas miometriais)
O ultrassom pode ser utilizado apenas em casos duvidosos, uma vez que o diagnóstico é eminentemente clínico.
Quanto à conduta obstétrica, devemos avaliar a viabilidade fetal. Em fetos vivos, devemos resolver a gestação pela via mais rápida. Geralmente, esta via é cesariana, porém, se o parto vaginal for iminente, esta deve ser a via de preferência. Em casos de óbito fetal e estabilidade materna, optamos por parto vaginal, porém, caso se preveja uma longa demora até o parto, a via alta pode ser uma opção como forma de proteger a mãe dos efeitos nocivos do sangramento prolongado, como o choque hemorrágico e a CIVD.
Nesses casos, as pacientes apresentam sangramento crônico, leve, intermitente e podem também apresentar oligodrâmnio, pré-eclâmpsia e restrição de crescimento fetal, condições relacionadas à isquemia placentária. Existe um maior risco de ruptura prematura das membranas em descolamentos crônicos. O ultrassom pode identificar hematoma placentário e o exame seriado se faz necessário para avaliar se há progressão do hematoma, oligodramnia e restrição de crescimento fetal.
Galera, o descolamento prematuro de placenta é uma situação pouco frequente, porém ameaçadora para o binômio materno-fetal, portanto precisamos sempre lembrar dela nos casos de sangramento da segunda metade da gestação. O principal fator de risco é o descolamento prévio. O diagnóstico é puramente clínico e a conduta deve ser sempre individualizada. Devemos sempre nos atentar para o quadro hemodinâmico materno e para a vitalidade fetal, esses fatores nortearão o tratamento. O descolamento crônico é menos comum e requer acompanhamento para definição de conduta.
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Até a próxima!
Paulista, nascida em Ribeirão Preto em 1994. Formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) em 2019. Residência em Ginecologia e Obstetrícia na EPM-UNIFESP. "Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo." - Paulo Freire.
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