Fala, pessoal! O assunto de hoje é tuberculose latente. A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada por micobactérias do complexo Mycobacteruim tuberculosis, que inclui a M. tuberculosis, responsável pelo maior número de casos em humanos, a Mycobacteruim africanum e a Mycobacteruim canettii, primariamente patogênicas em humanos.
A Mycobacteruim bovis e microti são agentes que causam tuberculose em animais e que podem ser transmitidos para os humanos. É uma doença da imunidade, ou seja, a capacidade do indivíduo de se defender contra um microrganismo é baixa e é a maior causa de morte em todo o mundo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil se encontra entre os 22 países onde a carga de tuberculose é alta e o foco deve ser em reduzir a incidência no país. Por aqui, 71% da população depende dos serviços públicos de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Logo, a atenção primária à saúde (APS) é, muitas vezes, o ponto de contato para pessoas interagirem com o sistema de saúde.
Por isso, são importantes os cuidados prestados nesse primeiro contato com pacientes com suspeita de tuberculose, àqueles com diagnóstico confirmado e os contatos dos pacientes com tuberculose, pois vão influenciar na carga e nos níveis de controle da doença, assim como na morbidade e mortalidade associadas à doença. Assim, as taxas de abandono e retratamento são importantes indicadores na estratégia de controle da tuberculose, estratégia essa que inclui baciloscopia de escarro, directly observes therapy e bacilospia/cultura de escarro imediata em todos os casos de retratamento.
Visto que a maioria da população depende do Sistema Único de Saúde (SUS), é fácil imaginar que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), os aspectos socioculturais, estrutura política, organização dos serviços de saúde e implementação de programas nacionais de controle da tuberculose são itens importantes e que se relacionam diretamente com a tuberculose. Logo, é necessário entender que é uma doença que depende de uma abordagem multifatorial para fortalecer as estratégias de enfrentamento dessa doença, que é considerada uma epidemia global.
Essa doença é transmitida de uma pessoa com doença ativa para outra por via, exclusivamente, inalatória por meio das gotículas de secreção respiratória. A micobactéria é muito estável nas gotículas e no escarro, podendo permanecer viável no escarro seco por até 6 semanas. A inalação do bacilo induz o pulmão a uma das seguintes possibilidades: eliminação do bacilo, infecção latente, rápida progressão para doença (doença primária) ou doença em algum tempo após a infecção (reativação de infecção latente).
Os sintomas clássicos são tosse há mais de 2 semanas, além de outros sintomas respiratórios, como dor torácica, dispneia e hemoptise; e sistêmicos, como febre vespertina, sudorese noturna, anorexia e emagrecimento. As formas extrapulmonares apresentam manifestações relacionadas com a localização da doença e outras manifestações podem ocorrer à distância do foco de infecção.
A presença de bacilo ácool-ácido resistente (BAAR) no escarro ou nos tecidos é sugestivo de tuberculose. No entanto, o padrão de referência de diagnóstico é a cultura com identificação da micobactéria M. tuberculosis. Em áreas de alta incidência de tuberculose, o exame de pesquisa de BAAR no escarro é o método mais rápido e econômico de detecção de casos novos da doença.
A tuberculose latente é definida como a infecção causada pelo M. tuberculosis, que permanece em estado dormente com replicação intermitente, porém que não evoluiu para doença. O hospedeiro controla, mas não elimina a infecção. Assim, o M. tuberculosis fica dormente em replicação intermitente e com metabolismo alterado, constituindo um reservatório de tuberculose por tempo indeterminado. Ao longo da vida, situações que alteram a imunidade celular do indivíduo infectado podem levar à reativação endógena desses reservatórios e à evolução para tuberculose doença.
Atualmente, o diagnóstico da tuberculose latente depende fundamentalmente da interpretação do teste tuberculínico (TT) que, no Brasil, é realizado pelo PPD-Rt 23. O teste tuberculínico é um teste cutâneo que é realizado com uma preparação-padrão da proteína purificada derivada (PPD-Rt 23) do M. tuberculosis. Esse método se baseia na reação celular de hipersensibilidade tardia desenvolvida após a inoculação intradérmica do PPD-Rt 23 com liberação das citocinas inflamatórias por linfócitos T pré-ativados e consequente endurecimento cutâneo no local da sua aplicação.
Apesar das limitações na sensibilidade e especificidade, esse teste continua sendo utilizado como critério padrão para o diagnóstico de tuberculose latente. É válido lembrar que a vacina BCG e a infecção por outras micobactérias produzem uma resposta cutânea similar àquela induzida pela infecção pelo M. tuberculosis.
O teste tuberculínico é fundamental para o diagnóstico de tuberculose na infância, que é interpretada como sugestiva de infecção pelo M. tuberculosis quando superior a 10 milímetros em crianças não vacinadas com BCG ou vacinadas há mais de dois anos ou a 15 milímetros nas crianças vacinadas com BCG há menos de 2 anos.
Há uma tendência de se considerar o teste tuberculínico com mais de 10 milímetros uma infecção pelo M. tuberculosis mesmo em crianças vacinadas com BCG em qualquer época, que refiram ou tenham tido contato com tuberculose pulmonar ativa. Como as crianças, na maioria das vezes, não são bacilíferas, o diagnóstico é baseado em critérios clínicos, radiológicos, epidemiológicos, nutricionais e no teste tuberculínico.
O teste tuberculínico deve ser solicitado logo após o diagnóstico da infecção pelo vírus, independentemente da contagem de linfócitos T-CD4+ e carga viral.
O tratamento da tuberculose latente é parte fundamental da estratégia de controle da doença no Brasil e deve ser realizado com isoniazida na dose 5 mg/kg e dose máxima de 300 mg/dia nas situações descritas a seguir e somente após a exclusão de tuberculose em atividade, por meio da baciloscopia e exame radiológico.
Por fim, apesar de grande parte da população mundial estar infectada com M. tuberculosis, não há indicação de investigação indiscriminada de infecção latente da turberculose na população geral. Essa investigação é indicada somente em populações que potencialmente se beneficiarão do tratamento preconizado para infecção latente de tuberculose.
Então, é isso, pessoal! Espero que tenham absorvido as informações a respeito da tuberculose. Afinal de contas, ela ainda é responsável por muitas mortes no mundo e em nosso país. É preciso um atendimento multiprofissional na atenção primária à saúde, sempre visando a melhor forma de acolher e tratar os pacientes.
Lembrando que tuberculose latente não significa vida livre. Quando diagnosticada, é preciso ser fiel ao tratamento e sempre lembrar de avisar as pessoas com as quais tiveram contato!
*Colaborou: Amanda Marques Lima
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.