Fala, pessoal! Tudo em cima? Hoje é dia de falar a respeito de um tema muito importante: o diagnóstico da neurite vestibular. Você já ouviu falar da neurite vestibular aguda? Sabe diferenciá-la de uma labirintite? Vamos descobrir isso juntos! Basta continuar a leitura e vir com a gente.
A queixa de vertigem é muito comum nos pronto-socorros. Algumas causas têm evolução benigna, enquanto outras podem ter consequências graves. Hoje vamos conversar sobre a neurite vestibular aguda, que é uma das principais causas de vertigem. Além disso, vamos entender como diferenciá-la de causas mais graves.
A neurite vestibular aguda é uma inflamação da porção vestibular do nervo vestíbulo-coclear, 8º par craniano. A provável etiologia dessa inflamação é viral ou pós-viral.
Alguns estudos demonstraram que até 50% dos pacientes possuíam história recente de quadro de IVAS. A doença não tem diferença de incidência entre os sexos e costuma afetar pessoas a partir dos 30 anos.
Em uma crise de neurite vestibular aguda, o paciente apresenta sintomas como vertigem, tontura, náuseas, desequilíbrio e nistagmo. Se o paciente também apresentar surdez unilateral durante a crise, vamos chamar de labirintite.
O nervo vestibular envia informações a respeito de equilíbrio e posição da cabeça e é muito importante na estabilização da visão durante a movimentação da cabeça. Então, quando ele fica inflamado, a transmissão dessas informações é prejudicada e fica fácil de entender de onde vêm os sintomas.
O paciente apresenta vertigem de início súbito, associada a enjoo, desequilíbrio e nistagmo periférico. A doença ocorre em crises.
Essas crises se desenvolvem ao longo de horas, ficam intensas por dias e passam por remissão ao longo de poucas semanas. Na história do paciente, 50% dos pacientes apresentam história recente de IVAS.
É importante explorar as características do nistagmo. Ele será unidirecional, horizontal ou horizontal-rotacional, e pode ser suprimido com a fixação da visão. O nistagmo tem sua fase lenta em direção ao lado acometido. Além disso, o paciente apresenta desequilíbrio, mas apesar da dificuldade consegue caminhar.
Diante de um quadro de vertigem com essas características, devemos buscar ativamente os seguintes sintomas:
Temos que investigar essas queixas para descartar possíveis causas neurológicas (causa central) para a vertigem, beleza?
Nosso principal papel aqui é confirmar a suspeita de Neurite vestibular aguda e descartar AVC de circulação posterior.
Vamos realizar o exame neurológico do paciente para avaliar se há uma causa neurológica para vertigem. O teste que vai nos ajudar é o “HINTS” (Teste do Impulso Cefálico, Nistagmo que muda de direção e Teste de Skew).
Quando performado por um especialista, a presença de uma ou mais alterações no exame tem uma incrível sensibilidade de 100% para AVC e especificidade de 96%. Ainda, pode ser utilizado para diferenciar vertigens de causa central e periférica.
Ficamos de frente para o paciente, seguramos sua cabeça entre as mãos. Pedimos para o sujeito fixar o olhar em um ponto em nosso rosto e bruscamente giramos sua cabeça para um dos lados.
Ao girá-la para o lado da lesão, há um atraso do ajuste vestibular que corrige o olhar. Esse atraso provoca um movimento rápido de correção (saccade) para manter a imagem do ponto para que se estava olhando.
Quando mexemos a cabeça, precisamos de algo que “estabilize” a nossa formação de imagem para que não fique “tudo borrado” durante o movimento. Um dos papéis do sistema vestibular é fazer essa correção através do reflexo óculo-cefálico.
Então, quando há inflamação do nervo vestibular, essa correção não ocorre e o corpo utiliza outro mecanismo, o movimento rápido do olho (saccade) para fazer essa estabilização.
Esse mesmo teste é utilizado na avaliação de morte encefálica, sabia? Porém, nele, não há correção da visão com movimento rápido do olho (saccade). Então, o paciente em morte encefálica fica com aspecto de “olhos de boneca”, pois eles permanecem imóveis e “vazios” durante a movimentação da cabeça.
Você sabe por que os pombos ficam balançando a cabeça enquanto andam? Isso tem tudo a ver com nosso assunto!
Os pombos não possuem um sistema vestibular como o nosso. Seu sistema vestibular é rudimentar e são incapazes de movimentos saccades: eles não conseguem corrigir a visão durante o movimento.
Para não ficar com a visão borrada enquanto andam, eles avançam a cabeça 5cm para frente do corpo e depois ficam com a cabeça parada, levando o corpo até ela. Dessa forma, estabilizam a imagem. Isso acontece 5-8 vezes por segundo enquanto andam.
Já agradeceu hoje por ter nascido com um sistema vestibular bacana e não precisar ficar balançando a cabeça?
Esse teste consiste em fazer o paciente fixar a visão em um ponto no rosto do examinador e depois fazer alternadamente a oclusão de seus olhos. Ele tem como objetivo identificar estrabismo vertical, já que o aparecimento deste é uma característica de vertigem central.
Aqui, vamos pedir para o paciente desviar o olhar em 30º à direita, depois à esquerda, para cima e para baixo. O nistagmo periférico é unidirecional e se intensifica quando o olhar é desviado na mesma direção que a fase rápida (Lei de Alexander). A mudança da direção do nistagmo durante o exame é uma característica da vertigem central.
Etiologia | Central | Periférica |
---|---|---|
Teste do impulso cefálico | Fixação do olhar no exame | Incapacidade de fixar o olhar + presença de movimento saccade |
Nistagmo | Nistagmo vertical ou Multidirecional ou muda de direção no teste | Nistagmo horizontal ou horizontal-rotacional, unidirecional e que respeita a lei de Alexander |
Teste de Skew | Olhar desalinhado | Olhar alinhado |
Vamos pedir ressonância de crânio para todo mundo? Não! A incidência de AVC em até 30 dias após uma consulta por queixa de vertigem é de 0,2%. Por isso, o exame de imagem deve ser feito com uma indicação precisa. O exame de eleição é a ressonância magnética de crânio e está indicado quando há:
A vertigem ocasionada pela neurite vestibular aguda tem duração de horas ou dias e o nistagmo permanece durante o repouso. Os quadros de VPPB, por sua vez, tendem a durar poucos minutos e o nistagmo cessa em repouso.
Em pacientes com vertigem, cujo nistagmo cessa em repouso, realizamos o teste de DIX-Halpike. Caso ele cause nistagmo, vamos realizar a manobra de Epley, beleza?
A Doença de Meniere é causada por aumento da pressão dos canais endolinfáticos, mas pode ser confundida com episódios de labirintite. Isso porque ambas causam vertigem e diminuição da acuidade auditiva unilateral.
A principal diferença é que a perda da audição na doença de Meniere é progressiva e, a cada episódio, o paciente fica mais surdo. Além disso, nela, não haverá fator causal de episódio de IVAS antes da crise.
Se quiser conferir mais conteúdos de Medicina de Emergência, dê uma passada na Academia Medway. Por lá disponibilizamos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos! Corre pra ver!
Ah, agora uma dica depois desse texto sobre o diagnóstico da neurite vestibular: se você quer acumular mais conhecimento ainda sobre a área, o PSMedway, nosso curso de Medicina de Emergência, pode ser uma boa opção.
Por lá, vamos te mostrar exatamente como é a atuação médica dentro da Sala de Emergência, então não perca tempo! Vem com a Medway, pessoal! Bora pra ciiiima!
Johns P, Quinn J. Clinical diagnosis of benign paroxysmal positional vertigo and vestibular neuritis. CMAJ. 2020;192(8):E182-E186. doi:10.1503/cmaj.190334
Baloh RW. Clinical practice. Vestibular neuritis. N Engl J Med 2003; 348:1027.
FURMAN, J. M. Vestibular neuritis and labyrinthitis. UpToDate, 31 jan. 2021. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/vestibular-neuritis-and-labyrinthitis#H7 Acesso em: Dec. 2021.
Gaúcho. Médico formado pela UFPEL, residente de Ginecologia e Obstetrícia na UFMG. Tenho 2,04m de altura, sou cozinheiro cria da quarentena e tenho FOAMed na veia. Bora junto!