Fala, pessoal! Hoje vamos falar sobre o diagnóstico da úlcera genital, tema clássico das provas de residência médica e também do dia a dia de qualquer médico generalista ou ginecologista.
É nosso segundo texto sobre este assunto, então se você ainda não chegou a ver, recomendamos ler o texto sobre os sintomas e as doenças dessas lesões, tranquilo? Sem mais delongas, fiquem com o texto.
Vamos começar definindo: o que é uma úlcera? A ulceração é a perda completa da cobertura epidérmica com invasão para a derme subjacente. Já a erosão é a perda parcial da epiderme sem penetração da derme, distinguidas pelo exame físico.
Primeiro vamos ao básico — o que é importante na anamnese e exame físico das úlceras genitais?
Lembrando que toda úlcera que não melhora após 30 dias de tratamento, deve ser biopsiada para descartar outras causas (não infecciosas)!
Já as úlceras genitais infecciosas representam síndrome clínica produzida por agentes infecciosos sexualmente transmissíveis e que se manifestam como lesões ulcerativas erosivas, precedidas ou não por pústulas e/ou vesículas, acompanhadas ou não de dor, ardor, prurido, drenagem de material mucopurulento, sangramento e linfadenopatia regional.
Os agentes etiológicos infecciosos mais comuns nas úlceras genitais são:
Esses agentes podem ser encontrados isoladamente ou em associação em uma mesma lesão, como, por exemplo, úlcera genital por T. pallidum e HSV-2. A prevalência dos agentes etiológicos sofre influência de fatores geográficos, socioeconômicos, múltiplas parcerias sexuais, uso de drogas, entre outros.
Sempre que houver disponibilidade, deve-se fazer o exame a fresco do exsudato da lesão.
O exame em campo escuro permite a pesquisa do T. pallidum e pode ser realizado tanto com amostras obtidas nas lesões primárias, como nas lesões secundárias da sífilis, em adultos ou em crianças. A amostra utilizada é o exsudato seroso das lesões ativas, livre de eritrócitos, outros organismos e restos de tecido.
Esse método possui sensibilidade variando de 74% a 86% e sua especificidade pode alcançar 97%, dependendo da experiência do técnico que realiza o exame. O material é levado ao microscópio com condensador de campo escuro, permitindo a visualização do T. pallidum vivo e móvel, devendo ser analisado imediatamente após a coleta da amostra.
Os outros agentes que causam úlceras genitais também podem ter o diagnóstico presuntivo realizado por meio de biologia molecular (NAAT) e exames bacterioscópicos que utilizam as colorações de Gram e Giemsa, principalmente para o diagnóstico de Haemophilus ducreyi (causador do cancro mole).
O diagnóstico laboratorial de sífilis pode ser feito de duas maneiras: com exames diretos ou testes imunológicos. O exame direto se baseia em uma amostra direta da lesão primária ou secundária, em que observamos os treponemas no microscópio (chamado de campo escuro).
Os testes imunológicos são divididos em treponêmicos e não treponêmicos. Os testes treponêmicos detectam anticorpos específicos contra os antígenos do Treponema pallidum, podendo ficar positivos para o resto da vida.
Já os testes não treponêmicos, detectam anticorpos não específicos para os antígenos do treponema sendo utilizados em diluição e realizados para acompanhar o tratamento da sífilis.
O cancro mole causado é causado pela bactéria Haemophilus Ducreyi que pode ser diagnosticada pela microscopia de material corado pela técnica de coloração de Gram: visualização de bacilos Gram-negativos típicos, de tamanho pequeno, agrupados em correntes dos tipos “cardume de peixes”, “vias férreas” ou “impressões digitais” em material coletado das úlceras genitais.
Pessoal, o herpes genital cursa com úlceras genitais dolorosas causadas por um vírus, o herpes simplex vírus tipo 2 (HSV 2).
O diagnóstico é eminentemente clínico e depende da identificação das lesões características dessa infecção: lesões eritemato-papulosas pequenas, que evoluem para vesículas agrupadas muito dolorosas, que após alguns dias se rompem e formam ulcerações dolorosas.
Gente, essa infecção sexualmente transmissível se apresenta clinicamente com linfadenopatia inguinal unilateral que fistuliza por múltiplos orifícios e as provas de residência adoram cobrar isso. Ela é causada por subtipos da Chlamydia Trachomatis que possuem tropismo pelo tecido linfático, sendo o diagnóstico também realizado por meio das características da infecção.
Galera, essa doença é complicada. Felizmente ela é super rara, ocorre mais em tropicais e é a única infecção sexualmente transmissível crônica. O agente etiológico é a bactéria Klebsiella granulomatis. A donovanose se inicia com uma úlcera única, indolor, friável, de bordas hipertróficas, bem delimitada e com fundo granuloso.
Essa ulceração evolui bem lentamente e aos poucos se torna uma lesão úlcero-vegetante. Posteriormente as lesões são numerosas e podem aparecer em espelho. Seu diagnóstico também é realizado por meio das características das úlceras descritas acima.
Para o diagnósticos diferenciais das úlceras infecciosas sempre devemos olhar e descrever as lesões. Além disso, podemos fazer 3 perguntinhas que irão nos ajudar:
Agora você conhece mais sobre como realizar o diagnóstico das diferentes causas de úlceras genitais! Então, confira outros conteúdos que publicamos aqui no Blog. Eles foram feitos especialmente para você mandar bem no seu plantão e vida profissional, além de ficar por dentro dos mais variados assuntos.
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Paulista, nascido em Americana em 1995. Formado pela Universidade de Brasília em 2019. Residência em Ginecologia e Obstetrícia no HC-FMUSP. Sucesso é o acúmulo de pequenos esforços repetidos dia a dia. Siga no Instagram: @danielgodamedway