Como muitos de vocês já sabem, uma boa prescrição pós-operatória de pacientes pode garantir o sucesso da cirurgia e a alta precoce, ao contrário de prescrições incompletas, que podem ser fator desencadeante para complicações e retardo da recuperação cirúrgica, acarretando em internações prolongadas.
O texto de hoje serve para ajudar vocês a montarem uma prescrição pós operatório geral digna de elogios! Bora lá?
Para pensarmos no que prescrever para o paciente, temos que tentar antever as complicações que ele pode ter durante a sua internação no pós-operatório.
Vamos relembrar as principais:
A febre de pacientes em pós-operatório deve ser avaliada em dois aspectos: quanto tempo após a cirurgia ela está ocorrendo e qual a temperatura atingida. Pacientes com picos febris em até 24h, com baixa intensidade, podem estar frente apenas a uma reação do corpo ao estresse cirúrgico, não sendo necessário alarme.
Pacientes com picos febris mais altos, no 2-3º pós operatório, devemos pensar em atelectasia pulmonar. Se o tempo entre a febre e a cirurgia for mais longo, um alerta deve ser acendido para complicações maiores (como fístulas, deiscências) ou infecções.
Por conta disso, devemos deixar prescrito antitérmico para controle da temperatura desses pacientes. O mais comum é a nossa queridinha dipirona (que vai servir também para controle álgico).
Costumamos prescrever dipirona endovenosa de 6/6h. No caso de pacientes alérgicos, podemos prescrever Paracetamol 500mg VO de 6/6h.
FEBRE → DIPIRONA 500MG/ML (AMPOLA 2ML) EV 6/6H; PARACETAMOL 500MG VO 6/6H (Se alergia).
Bom, não temos dúvidas de que todo pós-operatório gera dor, certo? Então nosso objetivo é fazer com que o paciente fique com a analgesia o mais otimizada possível, ou seja, com dor controlada ou suportável.
Para isso, precisamos avaliar a qual cirurgia nosso paciente foi submetido e qual o nível de dor que ela costuma gerar. De uma forma geral, associamos medicações para melhor conforto do paciente seguindo a escala da dor:
DOR FRACA | ANALGÉSICOSDipirona 500mg/ml (ampola 2ml) EV 6/6H +AINES Se função renal boa e < 65 anos |
DOR MODERADA | OPIOIDES FRACOSTramadol 50mg/ml (ampola 2ml) EV 8/8h +ANALGÉSICO +AINES |
DOR INTENSA | OPIOIDES FORTESMorfina 10mg/ml (ampola 1ml) EV +ANALGÉSICOS +AINES |
Vale ressaltar que, se refratariedade ao tratamento com medicações específicas para dor, podemos tentar associar medicações adjuvantes, como gabapentina e pregabalina.
Pacientes em leito de hospital, após estresse cirúrgico, com tempo prolongado de jejum, ingerindo medicações que agridem a mucosa gástrica. Combo completo para adquirirem úlcera gástrica por estresse, né? Por isso, não podemos esquecer de prescrever para esses pacientes um inibidor de bomba de prótons!
Um Omeprazol 20mg 1x ao dia em jejum vai prevenir o desenvolvimento de úlcera, que gera dores gástricas, impedem a correta alimentação e podem gerar, num quadro mais extremo, um abdome agudo perfurativo!
ÚLCERA GÁSTRICA → Omeprazol 20mg VO 1x ao dia em jejum; Pantoprazol 40mg VO 1x ao dia em jejum.
Outra complicação no pós-operatório que não podemos esquecer é a trombose venosa profunda! A cirurgia em si já é um fator de risco para desenvolver TVP/TEP e, soma-se a isso, o fato de pacientes em pós-operatório ficarem restritos ao leito (ou por exigência da cirurgia, por medo de se mexer, por dor).
Por conta disso, devemos inserir na prescrição, após 12h de cirurgia, a profilaxia da TVP, que é feita (na maioria dos hospitais) com heparina não fracionada subcutânea na dose profilática.
Além da medicação, devemos incentivar nosso paciente a se movimentar no leito e a passear precocemente. Essas medidas, além de evitar a trombose, também melhoram a constipação intestinal e garantem melhor recuperação cirúrgica e alta mais rápida!
TVP/TEP → Heparina (HNF) 5.000 UI/0,25ml SC 8/8H + Deambulação precoce
Pessoal, ainda não acabou! Essa é só a parte 1 das nossas dicas de prescrição pós-operatória, que vai falar de constipação intestinal, vômitos, infecções de sítio cirúrgico, retenção urinária e úlcera de pressão, então fica atento no nosso Blog na parte de Medicina de Emergência!
Caso você queira estar completamente preparado para lidar com a Sala de Emergência, temos uma outra dica que pode te interessar. No nosso curso PSMedway, através de aulas teóricas, interativas e simulações realísticas, ensinamos como conduzir as patologias mais graves dentro do departamento de emergência.
Médica pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro com residência em Cirurgia Geral pela Unifesp.