Fala, moçada! Hoje vamos falar sobre a Diverticulite de Meckel! Acho bem provável que você tenha algumas dúvidas sobre o assunto e possa confundir com a doença diverticular do cólon — e se é o caso, pode ficar relaxado! Nesse artigo, vamos esclarecer tudo para você!
Bora lá?
Para começar, vamos entender alguns termos que servirão de base para que você possa compreender melhor o que é a Diverticulite de Meckel.
Os divertículos, conjunto de protusões, são divididos em verdadeiros e falsos. Quando contêm todas as camadas da parede intestinal e possuem natureza congênita, dizemos que são verdadeiros, que é o caso do Divertículo de Meckel. Os divertículos podem também ser falsos, consistindo na projeção da mucosa e submucosa por meio do defeito no revestimento muscular, sendo normalmente adquiridos (maioria duodenais).
Sua primeira descrição foi feita em 1598 por Fabricius Hildanus, porém, somente em 1809, Johann Meckel publicou suas observações sobre a anatomia e embriologia do divertículo.
O divertículo de Meckel é uma anormalidade congênita resultante da persistência do ducto onfalomesentérico. Por sua origem embrionária, vamos ter que lembrar um pouco das aulas de embriologia, mas prometo que vai ser rápido e indolor. Não desista!
No início do desenvolvimento fetal, o intestino médio apresenta uma comunicação com o saco vitelino pelo conduto onfalomesentérico. Esse se estreita e passa a se localizar dentro do cordão umbilical até regredir essa comunicação e o intestino ficar contido na cavidade peritoneal, por volta da 5° a 7° semana de gestação. Quando a extremidade intestinal do ducto onfalomesentérico persiste após o nascimento, resulta no divertículo de Meckel.
Ainda ficou um pouco abstrato? Então se liga nessas duas imagens!
Podemos aplicar a “regra do 2”, pois o divertículo de Meckel localiza-se a 2 pés (aproximadamente 60 cm) da válvula ileocecal, costuma ter 2 polegadas (aproximadamente 5 cm) de comprimento, contém 2 tipos de mucosas ectópicas (gástrica e pancreática), está presente em aproximadamente 2% da população e os homens são 2 vezes mais propensos a apresentarem complicações (apesar da incidência ser igual entre os sexos).
A maioria dos portadores são assintomáticos, porém 4,2% terão sinais e sintomas inespecíficos que variam de acordo com a complicação apresentada.
Essas complicações são mais frequentes em crianças e adultos jovens (principalmente homens) e a mortalidade situa-se em torno de 6 a 7,5%.
Complicações do divertículo de Meckel | |
Hemorragia | Complicação mais frequente, ocorre em crianças com menos de 2 anos, tem início súbito, é indolor e pode ser de pequena ou grande quantidade |
Obstrução intestinal | Divertículo atua como cabeça de invaginação ou como herniação ou volvo em torno do cordão fibroso |
Diverticulite | Manifestações iguais às da apendicite aguda; mais frequente em adultos |
Perfuração | Mais frequente em adultos |
A hemorragia, em 25–50% dos casos, é decorrente da mucosa gástrica ectópica que secreta ácido clorídrico e pode causar úlcera no intestino delgado (principalmente no íleo). Para pacientes jovens, menores de 30 anos, a avaliação deve iniciar com a pesquisa do Divertículo de Meckel. Neles, a doença pode se apresentar como sangramento retal maciço vivo e indolor, anemia secundária a um sangramento crônico ou como um evento episódico recorrente e autolimitado.
Quando há obstrução intestinal, pode ser ileoileal ou ileocólico e apresenta-se com distensão abdominal, dor do tipo cólica, vômitos (podendo ser fecalóides), parada de eliminação de gases e fezes e massa abdominal palpável.
A diverticulite de Meckel ocorre em 13 a 31% das complicações e é desencadeada por enterólito, corpo estranho ou parasita, que ocasiona obstrução do divertículo e inflamação da mucosa ileal. O quadro clínico dessa doença é praticamente igual ao da apendicite aguda, com dor abdominal súbita, inicialmente periumbilical que migra para fossa íliaca direita e evolui a intensidade. Pode acompanhar febre, vômitos, prostração e inapetência. Por isso, ao encontrar um apêndice normal durante a exploração cirúrgica por suspeita de apendicite, o íleo distal deve ser inspecionado pela possível presença de um divertículo de Meckel inflamado.
Cabe abordar também que a perfuração pode se dar pela progressão da diverticulite, necrose ou decorrente da ulceração.
Agora falando de um caso raro, pode ocorrer degeneração neoplásica, sendo mais comum o tumor neuroendócrino (77%). Os outros tipos histológicos são: a adenocarcinoma (11%), que geralmente se origina da mucosa gástrica; GIST (10%) e linfoma (1%).
Por último, mas não menos importante, cuidado para não confundir com a diverticulite do cólon, em que a manifestação é tipicamente por dor na fossa ilíaca esquerda, febre, taquicardia, leucocitose e presença de massa abdominal. Diferentemente da diverticulite de Meckel, nesse caso, na maioria das vezes, o problema acomete idosos. Seu diagnóstico é feito por meio da TC abdominal e tratado conforme a classificação de Hinchey.
Pelo caráter assintomático do Divertículo de Meckel, na maioria das vezes, a inflamação é descoberta incidentalmente, durante a necropsia ou laparotomia. Seu diagnóstico é desafiador e realizado quando surgem complicações, demonstrada pela frase abaixo de Charles Mayo:
“Meckel’s diverticulum is frequently suspected, often looked for, but seldom found”. (O divertículo de Meckel é frequentemente suspeitado, por vezes procurado, mas raramente encontrado).
O exame diagnóstico padrão ouro é a cintilografia com pertecnetato tecnécio 99m (Tc99m), que é captado pela mucosa gástrica ectópica no divertículo. Sua sensibilidade diagnóstica para a faixa pediátrica é de 85%, especificidade de 95%. Já nos adultos, a sensibilidade cai para 63%, devido a menor presença de mucosa gástrica.
Quando a cintilografia está normal no adulto e o paciente tem sangramento ativo ou intermitente, realiza-se a arteriografia para detectar o foco de sangramento ou anomalia vascular.
A ultrassonografia é usada principalmente na emergência e em processos inflamatórios, pois evidencia a ausência de peristalse e diferencia o divertículo de Meckel das alças intestinais adjacentes. Se usado com Doppler colorido, é possível detectar a hiperemia da parede do divertículo inflamado.
Auxiliam no diagnóstico e na exclusão de outras doenças: exames baritados para obstrução, tomografia computadorizada para inflamação ou obstrução e colonoscopia ou endoscopia digestiva alta em casos de hemorragia.
Os diagnósticos diferenciais do abdome agudo na criança são: apendicite aguda (principal), estenose hipertrófica de piloro, hérnia inguinal encarcerada e intussuscepção intestinal.
SANGRAMENTO COLÔNICO(95%) | SANGRAMENTO DO INTESTINO DELGADO(5%) |
Doença diverticular | Angiodisplasias |
Doença anorretal | Doença de Crohn |
Isquemia | Divertículo de Meckel |
Colite Infecciosa | Erosões/úlceras induzidas por AINEs |
Neoplasia | Enterite por radiação |
Pós polipctomia | Linfoma |
Doença Inflamatória Intestinal | Doença metastática |
Angiodisplasia | Fístula Aortoentérica |
Colite/proctite por irradiação |
O tratamento é cirúrgico. Quando há complicações, a videolaparoscopia ou a laparotomia exploradora são simultaneamente o diagnóstico e tratamento da diverticulite de Meckel. Sendo assim, nos casos de hemorragia, diverticulite e neoplasia é realizada a remoção do divertículo (diverticulectomia), quando não há envolvimento de alças adjacentes ou ressecção ileal segmentar. Esse procedimento é realizado com anastomose término-terminal,
Já o tratamento para o divertículo de Meckel de achado incidental e assintomático é controverso. Em crianças, durante uma laparotomia, são ressecados. Porém, no adulto, ainda é polêmico. Alguns estudos defendem a ressecção devido ao potencial de transformação maligna e outros demonstram que as complicações pós-operatórias são maiores que os benefícios da retirada.
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Espero que esse artigo tenha te ajudado! Até a próxima!
* Colaborou Isabela Yamane Faitaroni, graduanda do 6° ano de medicina na USF (Universidade São Francisco)
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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