A doença falciforme é um grupo de “síndromes falcêmicas” composto por patologias que promovem alteração genética e hereditária no gene da β globina, sendo a anemia falciforme a de maior prevalência, com apresentação em homozigose (HbSS) e traço falcêmico heterozigoto (HbAS).
Só para refrescar sua memória, vale lembrar que na anemia falciforme, ocorre um afoiçamento das hemácias, levando à hemólise, oclusão microvascular e inflamação sistêmica que afeta os vasos de todos os calibres. Tais alterações provocam anemia e outros sintomas graves que tendem à recorrência quando não conduzidos da maneira correta e consequentemente com um desfecho pouco favorável ao paciente, inclusive o óbito.
Presumo que você já sabia de tudo que eu falei acima e mais um pouco, mas hoje vamos conversar sobre um tema pouco discutido e que nem por isso deixa de ser importante na prática médica: a relação entre a doença falciforme e resistência à malária. Afinal, você já tinha ouvido falar nesse tema? E o principal, se sim, quando você leu conseguiu entender? Se a sua resposta é não para alguma dessas perguntas, este artigo veio para te ajudar!
A malária é uma doença comum de países tropicais, atingindo milhões de pessoas por ano. É uma doença infectocontagiosa causada por parasitas protozoários do gênero Plasmodium e transmitida aos humanos por picadas de mosquitos infectados do gênero Anopheles.
Desse modo, devido à sua ancestralidade e alta prevalência, o genoma humano sofreu algumas alterações como forma adaptativa – principalmente os eritrócitos, que possuem participação importante no ciclo de vida do parasita.
Figura 1 – Ciclo evolutivo da malária. (A) desenvolvimento sexual (gametogonia) na fêmea do mosquito Anopheles. 1: a: gametócito ingerido com o sangue humano; b: gametas (azul: macrogameta; vermelho: microgameta); c: fecundação; d: zigoto; e: oocineto; f: oocisto; g: esporocisto; h: esporocisto maduro; i: esporozoítos na glândula salivar; 2A: Anopheles transmitindo esporozoíto pela picada; 2B: esporozoíto isolado. (B) desenvolvimento pré-eritrocítico (esquizogonia) no hepatócito (3-7). (C) desenvolvimento eritrocítico (esquizogonia sanguínea): 8-9-10: trofozoítos em anel do P. falciparum; 11: esquizonte com divisões em merozoítos; 12: merozoítos liberados da hemácia; 13: gametócitos; I: Plasmodium vivax: a: trofozoíto em anel; b: esquizonte; c: roseta; d: gametócito masculino; e: gametócito feminino. II: Plasmodium malariae.
Decidimos trazer uma ilustração do ciclo de vida do parasita para que você possa compreender melhor o assunto com um todo. Não vamos deixar lacunas! Assim, a sua compreensão e aprendizado serão efetivos.
Se o eritrócito possui tal relevância para o desenvolvimento da malária, patologias que alteram a estrutura ou a funcionalidade desta célula presumidamente provocam uma resistência à implantação e disseminação do Plasmodium sp.
Das doenças falciformes, a que tem apresentado comprovação científica de proteção contra a malária é o traço falciforme (HbAS). Portanto, depois de muitos estudos, foram encontrados alguns mecanismos responsáveis por essa resistência. Vamos falar um pouco sobre os principais.
A doença falciforme é uma enfermidade ligada à descendência de populações originárias principalmente da África Subsaariana, onde coincidentemente tem alta prevalência das espécies P. vivax e P. falciparum, sendo esta última a responsável pelas formas graves da malária.
Porém, apesar dessa relação, a maioria dos indivíduos infectados não desenvolvem complicações da doença, o que difere da realidade mundial, onde a malária segue com altas morbidades e mortalidades.
Sim, outras patologias que acometem o eritrócito também possuem mecanismo de defesa contra a malária. Algumas delas são:
Por hoje é só! E aí, curtiu saber sobre a relação da doença falciforme com a malária? Continue acessando o blog da Medway!
MACHADO, P. et al. A contribuição dos polimorfismos humanos do eritrócito na proteção contra a malária. Revista Pan-Amaz Saude, v. 1, n. 4, p. 85-96, 2010.
PEDROSA, A. R. R. S. Hemoglobinopatias e Malária: obstáculos com potencial futuro. Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, 2015/2016;
SANTOS, G. R. et al. Deficiência de GPD, anemia falciforme e suas implicações sobre a malária. Revista Bionorte, v. 6, n. 2, jul. 2017.
SOUZA, L. V. Relação entre portadores da Hb S e a resistência ao Plasmodium sp.: uma revisão. São José do Rio Preto, 2017.
VERONESI. Tratado de infectologia. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atheneu, 2015.
*Colaborou: Anna Rita de Cascia Carvalho Barbosa
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.