Tratamento da hipercalemia, conceito e sintomas

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Cara, você já viu alguma hipercalemia na vida acadêmica ou hospitalar? Não? Impossível! Certamente já viu e se importou com isso, mas pode ser que não saiba lidar com ela. Mas relaxa, que é exatamente sobre o tratamento da hipercalemia que vamos falar hoje, com base em um caso clínico! Bora lá?

Entenda o porquê do tratamento da hipercalemia
Crédito: Reproução/Labpedia

O que é a hipercalemia?

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Você sabe tudo sobre o tratamento da hipercalemia?
Crédito: Reprodução/Osmosis

Voltando ao assunto, a hipercalemia é quando o nível de potássio na corrente sanguínea está acima do normal. Distúrbios ligado ao potássio são muito comuns em unidades de emergência, enfermarias e UTIs. A importância da hipercalemia, em específico, vem do fato de que ela é potencialmente fatal, mas possui tratamento amplamente disponível.

O potássio é um íon predominantemente intracelular e participa ativamente dos processos metabólicos, estabelecendo gradientes elétricos que são responsáveis por garantir a ordem nas células excitáveis. Adquirimos potássio em nossa dieta convencional. A manutenção de uma faixa normal na corrente sanguínea, geralmente entre 3,5 – 5 mmol/L, é vital para uma boa saúde.

No nosso e-book Desmistificando a gasometria: distúrbios hidroeletrolíticos falamos mais sobre esse e outros distúrbios hidroeletrolíticos, incluindo como identificá-los, suas etiologias e como manejá-los no dia a dia então, antes de seguirmos falando sobre os sintomas da hipercalemia, já faz download e fica com ele salvo para poder expandir seus conhecimentos depois, que tal?

Quais os sintomas da hipercalemia?

Mudanças no ECG no tratamento da hipercalemia
Crédito: Reprodução/Medicowesome

Geralmente valores séricos acima de 6 mmol/L promovem efeito despolarizante no potencial de membrana de repouso e facilitam a condutância dos canais de potássio, levando a alterações eletrocardiográficas clássicas, como:

  • apiculamento de ondas T;
  • efeitos na repolarização ventricular;
  • encurtamento do intervalo QT;
  • perdas de ondas P; alargamento do QRS; e
  • arritmias cardíacas.

E o que a hipercalemia pode causar? Já entre alterações clínicas causadas pela hipercalemia, podemos destacar achados como:

  • paralisia muscular;
  • fraqueza generalizada;
  • tremores;
  • redução da motilidade intestinal.

Outra coisa importante: as células podem ser um “abrigo” deste íon ou mesmo uma “fonte”, em diferentes situações, sendo a sua redistribuição por estes compartimentos (intra e extracelular) a primeira linha de tratamento.

Antes de iniciar o tratamento da hipercalemia, saiba diferenciar a gravidade da doença

Antes de partirmos para a análise do nosso caso clínico, é importante que você saiba diferenciar a gravidade da hipercalemia.

  • Hipercalemia leve: um paciente com concentração plasmática de potássio < 6 mEq/L e sem anormalidades no ECG.
  • Hipercalemia moderada ou até grave: o potássio sérico está entre 6 e 6,5 mEq/L. Nesses casos o paciente necessita de maior atenção.

Claro que o tratamento vai se adaptar à situação clínica de cada um, mas de forma geral, nos casos moderados a graves é necessário um tratamento mais agressivo. Mas relaxa, que a se a sua dúvida é justamente no tratamento da hipercalemia, você está no lugar certo. Vamos te explicar, com detalhes, qual conduta tomar em diferentes casos dessa doença.

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Pegou tudo? Bora pro caso clínico então!

Imagine o seguinte: você está em seu Departamento de Emergência e chega um paciente com tremores, fraqueza muscular, ECG com onda T apiculada em parede anterior, QRS largo e intervalo PR de 220 ms. Queixa-se ainda de palpitações, eventualmente. Confirmada hipercalemia, K 7,1. Paciente está sem alteração de sinais vitais.

E aí? Estamos diante de uma hipercalemia sintomática e com manifestações eletrocardiográficas. Dá pra confiar que vai ficar tudo bem? NÃO. O paciente deve ser monitorizado e devemos agir com precisão.

A emergência hipercalêmica implica em maior atenção da nossa parte, além de conduta ágil e assertiva, como o uso do cálcio e da glicoinsulina em que abordaremos a seguir, sobre o tratamento da hipercalemia.

Hipercalemias, especialmente quando acima de 7 mmol/L, em associação a sintomas e sinais clínicos e/ou eletrocardiográficos devem ser manejadas com prioridade!

Da mesma forma, precisamos de atenção em relação a possíveis fatores causais e reversíveis de hipercalemia. Corrigir hipovolemia, suspender medicamentos que aumentam o potássio sérico – p. ex. AINE, IECA/BRA e Espironolactona – são medidas tanto quanto importantes.

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Tratamento da hipercalemia

Temos duas formas de tratar a hipercalemia, ou seja, “abaixar” esse potássio: eliminando-o do organismo ou mobilizando-o para o meio intracelular.

1. Eliminando o K+ do organismo

  • Diuréticos de alça – A furosemida aqui desempenha um papel fundamental! O paciente está urinando? Possui função renal normal ou moderadamente comprometida? Então vamos usá-la. Essa classe de medicamentos promove a diminuição de potássio por meio da eliminação renal. Status volêmico também é importante e podemos associar solução salina isotônica em pacientes euvolêmicos ou hipovolêmicos para manter o fluxo e a distribuição distal de sódio, aumentando a eficácia. Doses habituais de 40 mg EV a cada 12 horas, utilizados de maneira NÃO ISOLADA, podem nos ajudar bastante. 
  • Poliestirenossulfonato de Cálcio – O famoso Sorcal® 30-60g* associado com manitol 100 ml por VO até de 4/4 horas, como administração rotineira se o trânsito intestinal estiver adequado, podendo ser feito até mesmo por via retal em pacientes selecionados. Resinas de troca atuam a fim de transferir o K+ para a luz intestinal e posterior excreção pelas fezes. Embora não consiga eliminar o potássio precocemente e fazer, sozinho, o tratamento da hipercalemia, é importante, em conjunto com as outras medidas.
  • Terapia Renal Substitutiva (Hemodiálise) – Paciente se encontra com comprometimento renal grave, possui via de acesso e as medidas impostas anteriormente não deram certo? Neste cenário vamos “apelar” para retirar o potássio “na marra!”

2. Mobilizando o K+ no organismo

  • “Glicoinsulina” – Batizada ainda de “solução polarizante”, trata-se de um composto preparado com 50g de GH 50% + 10 UI de insulina regular, que é administrado em aproximadamente 30-60 minutos. É recomendado que a glicose sérica seja monitorada durante a terapia. Promove translocação do K+ extra para o intracelular provisoriamente, com pico de ação entre 30 minutos e 1 hora. Caso o paciente se apresente com a glicemia superior a 250 mg/dL, a insulina pode ser administrada isoladamente.
  • Agonistas ß2 adrenérgicos – Aumentam a atividade da bomba N+/K+/ATPase no músculo esquelético — assim como a glicoinsulina — conduzindo o potássio para o meio intracelular. Possui início de ação em 30 minutos, com pico em 90 minutos e geralmente utilizamos o salbutamol inalatório 10-20mg (5mg/ml) associado a SF 0,9% 5-10 ml em aproximadamente 10 minutos. A dose utilizada para tratamento de hipercalemia é cerca de 4-8x maior do que no broncoespasmo, portanto, atente para o surgimento de taquicardia e em uso nos cardiopatas e portadores de coronariopatia. 
  • Bicarbonato de Sódio – Pelo mecanismo “tampão”, ao aumentarmos o pH sanguíneo, ocorre a liberação de hidrogênio das células, em troca pelo íon de K+ com o fim de manter a eletroneutralidade. Inteligente, não?! Porém, o “bic” não é recomendado como terapia isolada, principalmente em pacientes sem acidose. Em portadores de cardiopatia ou nefropatia poderemos ocasionar hipernatremia, sobrecarga volêmica, hipocalcemia, e até mesmo, tetania! Usamos a apresentação na concentração de 8,4% associado à solução hipotônica – p. ex. SG 5% ou água destilada, a fim de garantirmos a isotonicidade da infusão. O início de ação é em aproximadamente 15-30 minutos com efeito transitório e questionável.

Veja quais exames são fundamentais para dar início ao tratamento da hipercalemia

Exames Físicos

  • Frequência cardíaca: 108 bpm;
  • Frequência respiratória: 20 irm;
  • Pressão arterial: 188 x 121 mmHg;
  • Descorado ++/4+, hidratado, anictérico, acianótico;
  • SaO2: 95%;
  • Aparelho respiratório: MV+, EC bibasais;
  • MMII: pulsos +, edema ++/6+;
  • Aparelho cardiovascular: 2 BRNF, sem sopros;
  • Trato gastrintestinal: plano, flácido, RHA+, sem visceromegalias e massas palpáveis;

Exames Laboratoriais

  • Na: 132 mEq/L;
  • K: 6,7 mEq/L;
  • Hb: 8,9 mg/dL;
  • Ht: 26,2%;
  • Ureia: 156 mg/dL;
  • Creatinina: 5,2 mg/dL;
  • Plaquetas: 300.000/mm3;
  • ECG: ondas T apiculadas;
  • Leucócitos: 6.500, com 55% de neutrófilos e 39% de linfócitos;
  • Radiografia de tórax: apresentando congestão pulmonar.

Voltando ao nosso caso clínico…

Ufa! É muita informação, mesmo!

Lembra do nosso paciente? O que faltou como medida inicial e prioritária em relação ao tratamento da hipercalemia? Claro, o cálcio! A hipercalemia com manifestações eletrocardiográficas demanda o uso urgente da terapia para estabilizar os efeitos elétricos na excitação cardíaca.

Gluconato de Cálcio 10% – 10 ml em uma solução de glicose 5% – 100 ml ou Cloreto de Cálcio 10% – 3-4 ml em SG 5% – 100 ml, administrados em 3-5 minutos são as nossas opções. Gluconato de Cálcio sempre é preferível em relação ao Cloreto por ser mais bem tolerado em administração com veia periférica.

Este último possui 3x mais a quantidade de cálcio do que a nossa outra opção e pode induzir irritação local e necrose tecidual se ocorrer o extravasamento do acesso. Não custa lembrar: nenhum é eficaz em diminuir níveis de potássio, possuem efeito inicial breve — duram cerca de 30-60 minutos — e podem ser repetidos.

Viu?! Não é tããão difícil assim!

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Falamos tudo sobre o tratamento da hipercalemia!

Conhecendo e entendendo a dinâmica das medidas para tratamento da hipercalemia, reconhecimento eletrocardiográfico das anormalidades e a indicação precisa do cálcio, certamente fica muito mais fácil.

Agora você vai ficar mais confiante quando precisar fazer o tratamento da hipercalemia em um paciente como esse, que chega até você precisando da sua ajuda. Dessa forma, ele não vai evoluir mal. 

Ah, e como nós vimos, a hipercalemia é causada quando o nível de potássio na corrente sanguínea está acima do normal. Se você quer conferir mais um conteúdo rico acerca de distúrbios de potássio, por que não confere o nosso canal do Youtube? Por lá, rolou um vídeo super interessante que trata desse assunto. Tá im-per-dí-vel!

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JoséRoberto

José Roberto

Paulista, nascido em 89. Médico graduado pela Universidade de Santo Amaro (UNISA), formado em Clínica Médica pelo HCFMUSP, Cardiologista e especialista em Aterosclerose pelo InCor-FMUSP. Experiência como médico assistente do Pronto-Socorro do InCor-FMUSP.