Erisipela: você sabe como reconhecer?

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Provavelmente, você já ouviu falar de celulite e erisipela, seja nas aulas de Dermatologia, seja atendendo um paciente que te diz já ter tratado de “zipela” no passado. Porém, você sabe reconhecer essas entidades? 

É comum deixar esses diagnósticos passarem. Pensando nisso, preparamos este artigo com diversas informações para você compreender como essa condição pode se manifestar em pacientes. Aproveite a leitura!

O que é erisipela?

Na Medicina a “celulite” é diferente daquela do senso comum. Não é aquela relacionada à gordura no subcutâneo, mas a uma infecção na região. A celulite e a erisipela são dois espectros da mesma doença, que se manifestam com um eritema na pele, associado a calor e edema.

Elas decorrem da entrada de bactérias via algum comprometimento da barreira cutânea. Dependendo do caso, pode ser difícil encontrar essa porta de entrada, por ser sutil ou por estar relativamente distante do local onde a lesão se desenvolve. 

Você sabe o que é erisipela? A condição envolve a derme superior e os linfáticos superficiais. Já a celulite envolve a derme profunda e a gordura subcutânea. A celulite pode se apresentar com ou sem purulência, já a erisipela não é purulenta. 

Na erisipela, existe uma clara demarcação entre a área acometida e a não acometida. A celulite frequentemente ocorre em indivíduos de meia-idade e mais velhos, enquanto a erisipela se manifesta em crianças, jovens e adultos mais velhos. Ambas têm predileção pelos meses mais quentes.

Como a celulite e erisipela se comportam na derme.
Como a celulite e erisipela se comportam na derme. Fonte da imagem: UpToDate.

Fatores de risco

Ao examinar uma paciente com vermelhidão no corpo, principalmente, nas extremidades, fique atento aos seguintes fatores de risco para o desenvolvimento dessas infecções. Encontrá-los na história ou no exame físico, corrobora ainda mais para um diagnóstico de erisipela e celulite.

  • Perda de continuidade da barreira da pele, como escoriações, feridas penetrantes, úlceras de pressão, úlceras venosas, picadas de insetos ou uso de drogas injetáveis;
  • Inflamações cutâneas, como eczemas, psoríases ou radioterapia;
  • Edema decorrente de algum comprometimento da drenagem linfática ou devido à insuficiência venosa;
  • Obesidade;
  • Imunossupressão (incluindo o HIV e a diabetes);
  • Quebra de barreira entre os dedos, principalmente dos pés, como um intertrigo interdigital;
  • Infecção cutânea pré-existente, que pode servir de predisposição para o desenvolvimento de uma infecção secundária.

Quem são os culpados por essas infecções?

Afinal, o que causa erisipela? A maioria das erisipelas, podendo chegar até a 70%, é causada por Streptococcus beta-hemolíticos de vários grupos, porém, mais comumente do grupo A, o Streptococcus pyogenes.

O Staphylococcus aureus é um possível agente, porém menos comum. Devemos sempre lembrar dele quando há outras características associadas, como erisipela bolhosa ou associação com um abscesso cutâneo, condições que aumentam a chance dele ser o causador.

Há possibilidade de etiologia devido a bacilos gram-negativos, porém isso é mais raro. Algumas características lembram os anaeróbios, como celulite com crepitações ou associação a mordidas de animais. Os anaeróbios são constituintes da flora da boca.

Quais são as manifestações clínicas da celulite e da erisipela?

Como já mencionado, é esperado encontrar rubor, calor e edema na região acometida, quase sempre unilateral. A região mais acometida são as extremidades inferiores. 

O acometimento bilateral deve nos chamar atenção para causas alternativas e diagnóstico diferencial. Febre e outras manifestações sistêmicas de infecção podem ou não estar presentes, como leucocitose e aumento de reagentes de fase aguda, como a PCR e o VHS.

Na imagem acima temos um exemplo de erisipela no membro inferior, notem que o eritema é vermelho intenso, claramente demarcado, com edema e endurado. Fonte da imagem UpToDate.

Pacientes com celulite tendem a ter um curso mais indolente, com o desenvolvimento dos sintomas locais em dias, enquanto os sintomas iniciais da erisipela são mais agudos e comumente apresentam manifestações sistêmicas, como febre, calafrios, mal-estar e cefaleia.

Outras manifestações incluem linfangite e aumento de linfonodos na região responsável pela drenagem linfática. Quando ocorre em região envolvendo folículos pilosos, o edema pode formar depressões pontuais na pele. A hemorragia cutânea pode ocorrer em um contexto de intensa inflamação da pele.

Possíveis complicações da erisipela

Complicações que podem decorrer de casos de erisipela incluem: bacteremia, endocardite, artrite séptica, osteomielite e sepse. Quando a infecção acomete o terço médio da face, ainda há a possibilidade de trombose séptica do seio cavernoso, que drena a região e encontra-se no crânio.

Tratamento

O diagnóstico é clínico e pode ser feito por meio da história, do exame físico da lesão e da identificação dos fatores de risco. Por tratar-se de uma infecção com possível acometimento, o tratamento é feito com uso de antibioticoterapia sistêmica baseado em epidemiologia.

Conforme citamos, os principais agentes responsáveis são os germes de pele, os cocos gram positivos, sendo o Streptococcus o responsável. Nesse caso, uma boa alternativa são as cefalosporinas de primeira geração.

Diagnósticos diferenciais da erisipela

Por fim, ressaltamos o que não pode passar batido nesses pacientes. Alguns diagnósticos diferenciais devem ser lembrados por terem consequências clínicas importantes e tratamento diferente. 

Fasciíte necrotizante

Trata-se de uma infecção profunda, com destruição progressiva do músculo e da fáscia. A área afetada pode ser eritematosa, edemaciada, quente e bastante sensível, com dor acima da proporção esperada. O diagnóstico é estabelecido cirurgicamente, com a visualização dos planos da fáscia.

Gangrena gasosa e mionecrose

Deve sempre ser suspeitada no contexto de febre e dor importante em uma extremidade, particularmente, com um histórico de cirurgia recente ou trauma. Lembre-se da importância da palpação na procura de crepitações que indicam gás na região.

TVP

Toda suspeita de celulite envolvendo a extremidade inferior também deve levar à suspeita e à investigação de trombose venosa profunda (TVP), com um ultrassom com doppler venoso.

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AmadeuCarvalho

Amadeu Carvalho

Goiano, nascido em Rio Verde, interior do estado, em 1994. Meio mineiro, formado pela Universidade Federal de Uberlândia em 2018, com residência em Clínica Médica pelo Hospital de Clínicas da USP em Ribeirão Preto, término em 2021. Super curioso, apaixonado em aprender e ensinar.