Estado do mal epiléptico: saiba como é o manejo clínico

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O estado do mal epiléptico é uma emergência comum na prática clínica. A importância de uma avaliação e um tratamento imediato impacta diretamente a morbidade e a mortalidade do paciente, fazendo com que o domínio do estado clínico seja fundamental.

Como o estado de mal epiléptico é definido?

Afinal, o que é mal epiléptico? Os guidelines definem o mal epiléptico como uma única crise epiléptica com duração maior que 30 minutos ou uma série de crises epilépticas. Durante 30 minutos dos episódios, a função não é recuperada.

Por se tratar de uma emergência, a definição de 30 minutos não é prática nem apropriada no contexto clínico. Uma vez que as convulsões persistam por mais de alguns minutos, deve-se iniciar o tratamento.

É importante lembrar que o  principal objetivo do tratamento do estado do mal epiléptico é interromper a atividade convulsiva. O manejo do paciente em estado de mal epiléptico está baseado nesses quatro pilares:

  • obter a história do evento;
  • assegurar vias aéreas, respiração e circulação;
  • parar a convulsão e evitar traumas adicionais;
  • reverter etiologias potencialmente reversíveis para mal epiléptico

Reconheça rapidamente o status epilepticus

Tenha em mente que o diagnóstico de estado de mal epiléptico é clínico. A confirmação ocorre quando a crise convulsiva é generalizada e sem remissão, com duração superior a cinco minutos ou várias crises convulsivas bilaterais sem retorno ao nível basal de consciência.

Faça uma avaliação direcionada com urgência

Devido à limitação do paciente, buscar uma história com o acompanhante permite descobrir pontos importantes, que vão auxiliar no manejo dos sintomas de estado de mal epiléptico. Então, questione sobre:

  • uso pré-hospitalar de benzodiazepínicos e medicamentos anticonvulsivantes;
  • história do paciente de epilepsia;
  • fatores precipitantes antes da convulsão;
  • medicamentos atuais.

No exame físico, atente-se a sinais de traumatismo craniano, sepse, anisocoria ou meningite, assim como às características da convulsão, tentando buscar a etiologia.

Promova o suporte imediato

Os cuidados de suporte devem ocorrer simultaneamente à administração imediata de medicamentos anticonvulsivantes. Todos os pacientes devem ter monitoramento contínuo dos sinais vitais.

Via aérea e respiração

Administre oxigênio a 100%, tendo como meta de saturação oxigênio > 92%. A tabela seguir mostra as principais situações em que a realização da intubação é necessária:

  • via aérea desprotegida; 
  • depressão respiratória;
  • estado mental deprimido;
  • duração do estado de mal epiléptico ≥30 minutos.

Atenção: os bloqueadores neuromusculares não tratam a atividade convulsiva, sendo obrigatório o monitoramento de eletroencefalografia para saber se o estado de mal epiléptico foi resolvido. Em relação à circulação, é importante realizar o acesso venoso e de suporte hemodinâmico.

Correção da hipoglicemia e dos distúrbios metabólicos

A respeito das sequelas do estado de mal epiléptico, a hipoglicemia é um precipitante de convulsões. Então, é muito importante realizar a medição de açúcar no sangue.

Caso o teste indique açúcar no sangue inferior a 80 mg/dL em adultos e ≤ 40 mg/dL em crianças, administre 100 mg de tiamina e 50 mL de solução de dextrose a 50%. Se o acesso não estiver disponível, uma possibilidade é realizar o glucagon intramuscular.

Tratamento de emergência do estado de mal epiléptico

O tratamento inicial consiste na administração de um benzodiazepínico, medicamento anticonvulsivante de ação prolongada. Nada de esperar pelo eletroencefalograma, afinal, tempo é vida. O atraso no tratamento está associado ao aumento da morbidade e da mortalidade.

Tratamento pré-hospitalar

Os benzodiazepínicos são as principais opções terapêuticas no ambiente pré-hospitalar, por constituírem o tratamento de primeira linha no estado de mal epiléptico. Com eles, é possível controlar as convulsões rapidamente.

Nesse cenário, o acesso intravenoso pode ser desafiador. Sendo assim, a administração pode ser realizada por diversas vias, como:

  • retal;
  • intramuscular;
  • sublingual;
  • intraóssea.

Tratamento hospitalar

O primeiro passo é o tratamento com benzodiazepínicos. Abaixo, colocamos duas tabelas com os principais benzodiazepínicos, a via de administração e a dose na população adulta e infantil.

Tabela 1: principais benzodiazepínicos utilizados no tratamento do estado de mal epiléptico na população adulta.

Medicamento Via de administraçãoDose
Midazolam Intramuscular10 mg
Lorazepam Intravenosa 4 mg
Clonazepam Intravenosa1 mg 
DiazepamRetal 0,2 mg/kg até 20 mg
Midazolam Nasal 5 mg/0,1 mL

Tabela 2: principais benzodiazepínicos utilizados no tratamento do estado de mal epiléptico na população infantil.

MedicamentoVia de administraçãoDose
MidazolamIntramuscular 5 mg para crianças de 13 a 40 kg e 10 mg para > 40 kg
Lorazepam Intravenosa 0,1 mg/kg
MidazolamIntranasal 0,2 mg/kg 

Se as convulsões continuarem por dez minutos após, pelo menos, duas injeções de benzodiazepínicos, o segundo passo é a administração dos anticonvulsivantes com ação prolongada. Nesse cenário, os principais anticonvulsivantes indicados são:

  • valproato;
  • levetiracetam;
  • fenitoína;
  • fostenitoína.

Na população infantil, o tratamento preferível é feito com levetiracetam 60 mg/kg, podendo ser realizado intravenoso ou intraósseo.

Tabela 3: principais anticonvulsivantes utilizados no estado de mal epiléptico.

MedicamentoVia de administraçãoDose 
FenitoínaIntravenosaDose de ataque de 20 mg/kg e infundida de 25 a 50 mg/minuto.
FosfenitoínaIntramuscularDose de ataque de 20 mg  e (PE)/kg infundida de 100 a 150 mg
Ácido valproico IntravenosaDose de ataque de 40 mg/kg e infundida a uma taxa de 10 mg/kg
Levetiracetam IntravenosaDose de ataque de 60 mg/kg infundida durante 15 minutos.

Estado de mal epiléptico refratário

O estado de mal epiléptico refratário ocorre quando há atividade convulsiva persistente que não respondeu a uma dose inicial de benzodiazepínicos e a uma droga antiepiléptica não benzodiazepínica de segunda linha.

Nesse caso, é necessária a terapia farmacológica adicional, uma terceira terapia, com infusão contínua de midazolam ou pentobarbital. Nessa situação, são indicados o manejo definitivo das vias aéreas, a  consulta com a neurologia e a transferência para uma unidade de terapia intensiva.

A maioria dos pacientes com estado de mal epiléptico se recupera entre 10 a 20 minutos após as convulsões generalizadas. Durante o período de recuperação pós-inicial, lembre-se de repetir um exame neurológico completo. Os pacientes que não recuperam a responsividade nesse período requerem avaliação adicional com eletroencefalografia.

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AmandaMazetto

Amanda Mazetto

Formação em Medicina na Universidade Nove de Julho pelo FIES. Pesquisa no Instituto do Coração de São Paulo da Faculdade de Medicina da USP.