O estado do mal epiléptico é uma emergência comum na prática clínica. A importância de uma avaliação e um tratamento imediato impacta diretamente a morbidade e a mortalidade do paciente, fazendo com que o domínio do estado clínico seja fundamental.
Afinal, o que é mal epiléptico? Os guidelines definem o mal epiléptico como uma única crise epiléptica com duração maior que 30 minutos ou uma série de crises epilépticas. Durante 30 minutos dos episódios, a função não é recuperada.
Por se tratar de uma emergência, a definição de 30 minutos não é prática nem apropriada no contexto clínico. Uma vez que as convulsões persistam por mais de alguns minutos, deve-se iniciar o tratamento.
É importante lembrar que o principal objetivo do tratamento do estado do mal epiléptico é interromper a atividade convulsiva. O manejo do paciente em estado de mal epiléptico está baseado nesses quatro pilares:
Tenha em mente que o diagnóstico de estado de mal epiléptico é clínico. A confirmação ocorre quando a crise convulsiva é generalizada e sem remissão, com duração superior a cinco minutos ou várias crises convulsivas bilaterais sem retorno ao nível basal de consciência.
Devido à limitação do paciente, buscar uma história com o acompanhante permite descobrir pontos importantes, que vão auxiliar no manejo dos sintomas de estado de mal epiléptico. Então, questione sobre:
No exame físico, atente-se a sinais de traumatismo craniano, sepse, anisocoria ou meningite, assim como às características da convulsão, tentando buscar a etiologia.
Os cuidados de suporte devem ocorrer simultaneamente à administração imediata de medicamentos anticonvulsivantes. Todos os pacientes devem ter monitoramento contínuo dos sinais vitais.
Administre oxigênio a 100%, tendo como meta de saturação oxigênio > 92%. A tabela seguir mostra as principais situações em que a realização da intubação é necessária:
Atenção: os bloqueadores neuromusculares não tratam a atividade convulsiva, sendo obrigatório o monitoramento de eletroencefalografia para saber se o estado de mal epiléptico foi resolvido. Em relação à circulação, é importante realizar o acesso venoso e de suporte hemodinâmico.
A respeito das sequelas do estado de mal epiléptico, a hipoglicemia é um precipitante de convulsões. Então, é muito importante realizar a medição de açúcar no sangue.
Caso o teste indique açúcar no sangue inferior a 80 mg/dL em adultos e ≤ 40 mg/dL em crianças, administre 100 mg de tiamina e 50 mL de solução de dextrose a 50%. Se o acesso não estiver disponível, uma possibilidade é realizar o glucagon intramuscular.
O tratamento inicial consiste na administração de um benzodiazepínico, medicamento anticonvulsivante de ação prolongada. Nada de esperar pelo eletroencefalograma, afinal, tempo é vida. O atraso no tratamento está associado ao aumento da morbidade e da mortalidade.
Os benzodiazepínicos são as principais opções terapêuticas no ambiente pré-hospitalar, por constituírem o tratamento de primeira linha no estado de mal epiléptico. Com eles, é possível controlar as convulsões rapidamente.
Nesse cenário, o acesso intravenoso pode ser desafiador. Sendo assim, a administração pode ser realizada por diversas vias, como:
O primeiro passo é o tratamento com benzodiazepínicos. Abaixo, colocamos duas tabelas com os principais benzodiazepínicos, a via de administração e a dose na população adulta e infantil.
Tabela 1: principais benzodiazepínicos utilizados no tratamento do estado de mal epiléptico na população adulta.
Medicamento | Via de administração | Dose |
Midazolam | Intramuscular | 10 mg |
Lorazepam | Intravenosa | 4 mg |
Clonazepam | Intravenosa | 1 mg |
Diazepam | Retal | 0,2 mg/kg até 20 mg |
Midazolam | Nasal | 5 mg/0,1 mL |
Tabela 2: principais benzodiazepínicos utilizados no tratamento do estado de mal epiléptico na população infantil.
Medicamento | Via de administração | Dose |
Midazolam | Intramuscular | 5 mg para crianças de 13 a 40 kg e 10 mg para > 40 kg |
Lorazepam | Intravenosa | 0,1 mg/kg |
Midazolam | Intranasal | 0,2 mg/kg |
Se as convulsões continuarem por dez minutos após, pelo menos, duas injeções de benzodiazepínicos, o segundo passo é a administração dos anticonvulsivantes com ação prolongada. Nesse cenário, os principais anticonvulsivantes indicados são:
Na população infantil, o tratamento preferível é feito com levetiracetam 60 mg/kg, podendo ser realizado intravenoso ou intraósseo.
Tabela 3: principais anticonvulsivantes utilizados no estado de mal epiléptico.
Medicamento | Via de administração | Dose |
Fenitoína | Intravenosa | Dose de ataque de 20 mg/kg e infundida de 25 a 50 mg/minuto. |
Fosfenitoína | Intramuscular | Dose de ataque de 20 mg e (PE)/kg infundida de 100 a 150 mg |
Ácido valproico | Intravenosa | Dose de ataque de 40 mg/kg e infundida a uma taxa de 10 mg/kg |
Levetiracetam | Intravenosa | Dose de ataque de 60 mg/kg infundida durante 15 minutos. |
O estado de mal epiléptico refratário ocorre quando há atividade convulsiva persistente que não respondeu a uma dose inicial de benzodiazepínicos e a uma droga antiepiléptica não benzodiazepínica de segunda linha.
Nesse caso, é necessária a terapia farmacológica adicional, uma terceira terapia, com infusão contínua de midazolam ou pentobarbital. Nessa situação, são indicados o manejo definitivo das vias aéreas, a consulta com a neurologia e a transferência para uma unidade de terapia intensiva.
A maioria dos pacientes com estado de mal epiléptico se recupera entre 10 a 20 minutos após as convulsões generalizadas. Durante o período de recuperação pós-inicial, lembre-se de repetir um exame neurológico completo. Os pacientes que não recuperam a responsividade nesse período requerem avaliação adicional com eletroencefalografia.
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Formação em Medicina na Universidade Nove de Julho pelo FIES. Pesquisa no Instituto do Coração de São Paulo da Faculdade de Medicina da USP.