Fala, pessoal! Hoje vamos falar sobre Esteatorreia em Pediatria, um sintoma que não é tão comum na prática clínica, mas que merece atenção da nossa parte!
Antes de mais nada, sugiro que você confira o nosso texto sobre diarreia crônica em pediatria para entender melhor o que vamos conversar hoje!
Os pacientes com diarreia aparentando conter gordura, ou seja, com fezes fétidas (odor “rançoso”), que habitualmente “grudam” e boiam no vaso, podendo parecer espumosas, devem ser investigados para determinar a má absorção de gorduras e a presença de gordura nas fezes, ou seja, a esteatorreia.
Indireta e inicialmente podemos avaliar a deficiência de absorção de gorduras dosando vitamina D sérica (vitamina lipossolúvel) e TP com INR (dependente de vitamina K, também uma vitamina lipossolúvel).
Os testes diagnósticos para determinação da ocorrência de esteatorreia, por sua vez, estão descritos abaixo. Entenda:
Se liga: a acurácia de ambos testes varia diretamente com a suspeita clínica de esteatorreia!
A esteatorreia pode ser consequência de insuficiência pancreática, de insuficiência de sais biliares no lúmen intestinal e de doenças da mucosa intestinal que evoluem com síndrome disabsortiva.
Se a esteatorreia é confirmada com os testes diagnósticos mencionados (ou mesmo se temos uma alta suspeição pela clínica), devemos, em primeiro lugar, excluir doença celíaca, que é a causa mais comum de síndrome disabsortiva e, consequentemente, esteatorreia!
Os exames iniciais são IgA sérica (para excluir deficiência de IgA) e anticorpo anti-transglutaminase tecidual IgA (IgA-tTG). Demais testes podem ser solicitados ou não conforme o contexto clínico.
Excluída a doença celíaca pela frequência de ocorrência, o passo seguinte é investigar causas específicas de insuficiência pancreática, em especial fibrose cística e síndrome de Shwachman-Diamond.
Fibrose cística: doença pulmonar, failure to thrive, infecções de repetição, insuficiência pancreática e outros sintomas mais. Solicite o teste de cloro no suor para confirmação.
Síndrome de Shwachman-Diamond: síndrome caracterizada por neutropenia ou pancitopenia, insuficiência pancreática exócrina, anormalidades esqueléticas. Solicite testes indiretos da função pancreática exócrina (redução da elastase fecal e/ou da quimiotripsina fecal; teste de secretina).
Outras causas mais raras de insuficiência pancreática incluem: pancreatite crônica ou recorrente (auto-imune ou hereditárias); e algumas síndromes genéticas raras (Síndrome de Pearson; Síndrome de Johanson-Blizzard; deficiência de lipase pancreática; e deficiência de colipase). Nesses casos, devemos avaliar a função exócrina (mencionada acima) e endócrina (glicemia de jejum, hemoglobina glicada) do pâncreas.
A insuficiência de sais biliares no lúmen intestinal também cursa com má digestão de gorduras, como em pacientes com inflamação ou ressecção de íleo terminal, o que depleta o pool de ácidos biliares. Por exemplo: a doença de Crohn é uma causa comum de inflamação de íleo terminal.
Outro exemplo: a insuficiência de ácidos biliares, causada pela desconjugação de sais biliares no intestino, que ocorre no super crescimento bacteriano de delgado. Isso pode ocorrer em contextos diferentes (ex: doenças de motilidade intestinal, na doença de Hirschsprung, após ressecções intestinais).
Pensando ainda em síndromes disabsortivas, e já excluída doença celíaca, outras doenças causadoras incluem ressecções prévias de intestino delgado, em especial se for um paciente com síndrome do intestino curto, doença de Crohn extensa de delgado e isquemia mesentérica.
A avaliação dos casos de insuficiência de sais biliares no lúmen intestinal e de síndromes disabsortivas deve ser realizada pela história clínica, exames de imagem e endoscópicos, a depender do contexto.
É isso, pessoal! Esperamos que tudo tenha ficado claro e que você tenha compreendido o conteúdo!
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Nascida em Campo Grande-MS, mas praticamente uma nômade! Tem o Rio de Janeiro como sua cidade de coração, onde também começou sua relação de amor com a medicina, graduada em 2016 pela UERJ. No 4º ano da faculdade, foi viver por 14 meses em Dundee, na Escócia, onde fez intercâmbio em Neurociências na Universidade de Dundee. Morou também em Botucatu, onde fez 3 anos de Residência Médica em Pediatria no HC FMB UNESP. Residência também em Gastroenterologia e Hepatologia Pediátrica no ICr do HC FMUSP. Considera a oportunidade de ensinar o seu momento de maior aprendizado.