Pessoal, hoje vamos destrinchar um tema super nebuloso para a maioria dos médicos não hematologistas (e talvez alguns hematologistas, hein?), porém, até o final deste post vocês serão capazes de dominar os temerosos fatores de coagulação.
O que é hemostasia primária e secundária? Como funciona a cascata de coagulação? Como agem os anticoagulantes orais? Essas são dúvidas comuns e podem implicar na rotina clínica mesmo dos não especialistas.
Então segura firme e vamos lá!
A hemostasia é o processo normal de coagulação in vivo que objetiva cessar um sangramento (seja ele um sangramento fisiológico, cirúrgico ou patológico).
Quando a parede de um vaso sanguíneo é lesada a resposta deve ser precisa: rápida, efetiva e cuidadosamente balanceada. A hemostasia funciona como uma perfeita balança, cujo equilíbrio depende de elementos específicos (e aí entram os fatores de coagulação!), e quando disfuncional, pode levar ou ao sangramento excessivo ou ao evento trombótico. A hemostasia é um processo dinâmico, mas pode ser didaticamente dividida em fases para o melhorar nosso entendimento.
Vamos na sequência?
A hemostasia primária entra em ação logo imediatamente após a lesão endotelial. A lesão do endotélio expõe elementos antes protegidos (principalmente o colágeno e o fator de Von Willebrand) que, por sua vez, recrutam as plaquetas e levam a sua resposta funcional em três processos diferentes:
E se forma, então, um frágil tampão plaquetário que necessita agora da formação da fibrina para estabilizar o coágulo gerado.
Mas antes… vamos falar um pouco sobre os fatores de coagulação? A primeira descrição dos fatores de coagulação foi descrita em 1905 pelo Doutor Paul Morawitz que publicou a existência do que, naquela época, eram considerados os quatro fatores da coagulação (fibrinogênio, trombina, tromboquinase e cálcio). E daí em diante foram sendo descobertos outros fatores da coagulação sendo numerados, em algarismos romanos, na ordem de descoberta.
A clássica cascata da coagulação, todavia, foi inicialmente descrita em 1964 por Macfarlane, Davie e Ratnoff, sendo até hoje mundialmente estudada (aquela cheia de números romanos que dá um nó na cabeça). Tal proposta descreve a Hemostasia Secundária que didaticamente é dividida em via extrínseca, via intrínseca e a via comum, que em última instância provoca a formação da fibrina (coágulo insolúvel, produto de toda a cascata). Vamos tentar entender a cascata pensando em números arábicos, mais palatável ao nosso dia a dia.
Quando nos deparamos com sangramentos intra-articulares, musculares, profundos e tardios (lembrem-se: sangramentos que envolvem a hemostasia primária, em geral, são imediatos, superficiais e predominantemente cutâneo-mucosos!);
A via extrínseca é avaliada pelo exame laboratorial Tempo de Protrombina (o famoso TP!) e quando apenas ele está alterado pensamos que há deficiência no fator 7.
A via intrínseca é avaliada pelo Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPa) e sua alteração está presente nos clássicos casos de hemofilia (deficiência do fator 8 ou 9).
O TTPa pode estar alterado sem que isso reflita aumento do risco de sangramento no caso de deficiência do fator 12, da pré calicreína e do cininogênio de alto peso molecular (e lembrem da presença do anticoagulante lúpico que prolonga o TTPa e pode estar relacionado com risco de trombose).
Os fatores da coagulação são majoritariamente produzidos no fígado e os fatores 2, 7, 9 e 10 são dependentes da vitamina K para desempenharem sua atividade.
Na colestase (quando há redução da absorção de vitamina K), no uso de antibióticos (redução da produção de vitamina K por bactérias entéricas) ou no uso de varfarina (antagonista da vitamina K) temos redução da atividade destes fatores favorecendo fenômenos hemorrágicos.
Pois a meia vida do fator 7 é menor comparado aos demais.
Se quiser saber mais sobre um assunto relacionado à hemostasia, fique ligado nos textos que já rolaram por aqui sobre TVP e TEP!
Mas, no geral, é isso! Agora que você está mais informado sobre os fatores de coagulação, confira mais conteúdos de Medicina de Emergência, dá uma passada na Academia Medway. Por lá disponibilizamos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos! Por exemplo, o nosso e-book ECG Sem Mistérios ou o nosso minicurso Semana da Emergência são ótimas opções pra você estar preparado para qualquer plantão no país.
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Bons estudos!
Graduação pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), Medicina Interna pela UNICAMP. Hematologia pela USP-SP.
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