A maioria das febres em criança se resolve rápido… Mas e quando isso não acontece? A febre de origem indeterminada NÃO É igual a febre sem sinais localizatórios!
Não ter origem determinada significa que não sabemos de onde vem, e se não tem sinais localizatórios, também não sabemos de onde vem… Vish. Que bom que vocês não vão confundir isso, né? A FSSL é um quadro agudo, que dura menos de uma semana, e tem sua investigação orientada pela faixa etária. Bora saber mais?
A febre de origem indeterminada é um quadro febril prolongado. Dependendo da referência, a duração da febre deve ser maior que 8 dias, ou maior que 2 semanas. Para ser considerada indeterminada, além da anamnese e exame físico não darem muitas pistas, os exames laboratoriais iniciais também não nos orientam muito.
Investigação preliminar para crianças com febre de origem indeterminada |
Hemograma completo Reações de fase aguda (velocidade de hemossedimentação e proteína C-reativa) Urina tipo I e urocultura Hemoculturas Radiografia de tórax Reação de Mantoux Provas de função hepática e renal |
Marques HHS, Sakane PT. Pediatria: Infectologia. 2nd rev. ed. Barueri, SP: Manole; 2017. 3, Febre de origem indeterminada e febre recorrente em pediatria; p. 29
A etiologia da maior parte dos casos de febre de origem indeterminada é infecciosa, e geralmente são manifestações atípicas de infecções comuns.
As outras principais causas são doenças reumatológicas, e neoplasias. Há várias outras doenças que podem causar febre. E, às vezes, ela cessa e não entendemos de onde veio, pra onde foi, onde mora, o que come.
Principais causas de febre de origem indeterminada em crianças | |||
Infecções | Colagenoses | Neoplasias | Miscelânea |
Virais: CMV, EBV, HBV, HCV, HIV Infecções crônicas de vias aéreas Infecção do trato urinário Abscessos profundos Endocardite Osteomielite Doença da arranhadura do gato Outras: tuberculose, toxoplasmose, brucelose, leishmaniose | Artrite reumatóide juvenil (idiopática) Lúpus eritematoso Febre reumática | Leucemias Linfomas Neuroblastoma Sarcomas | Enterite regional Doença inflamatória intestinal Displasia ectodérmica Sarcoidose Doença de Kawasaki Febre por drogas Diabetes insípido Síndrome hemofagocítica |
Marques HHS, Sakane PT. Pediatria: Infectologia. 2nd rev. ed. Barueri, SP: Manole; 2017. 3, Febre de origem indeterminada e febre recorrente em pediatria; p. 27
Aquela frase batida lá de trás quando começamos a ver pacientes: a gente nunca pode abrir mão de uma boa anamnese e exame físico. Diante de uma criança com uma febre que vem sabe-se lá da onde, reviramos ela de ponta cabeça.
A história tem que ser bem detalhada, para determinarmos nossa febre de origem indeterminada. Além das queixas que a família trás, temos que perguntar sobre alterações sistêmicas, específicas. E até umas coisas que podem parecer estranhas: Tem gato, cachorro, pomba em casa? Fez alguma viagem recente? Brincou em algum lugar diferente? Machucou o pé recentemente? Usa alguma medicação, vitamina, chás? Tem contato com inseticida, repelente, fumacê da dengue passou na rua? Costuma tomar leite cru?
No exame físico, não é recomendado virar a criança de ponta cabeça (prevenção de acidentes é algo muito importante na pediatria), mas é quase esse o espírito da coisa. Além do exame físico completíssimo que já é hábito na pediatria, tem que olhar cabelo, dente, umbigo, dedinhos do pé. E caçar muito ativamente linfonodomegalias, até naquelas cadeias que a gente nem lembra (tipo epitroclear – na parte de dentro do cotovelo).
Lembram que a gente falou ali em cima das causas reumatológicas? As articulações devem ser avaliadas, procurar sinais de inflamação, avaliar dor…
O leque de possibilidades aqui é gigante – e uma boa história e exame físico ajudam muito a direcionar!
E aí, aparecendo algo que direcione a origem da sua febre de origem indeterminada… corre atrás! Mas, e quando não aparece?
Não achamos pistas na anamnese e exame físico, e exames iniciais não ajudaram muito. Na investigação, a internação deve ser considerada! Será que é febre mesmo? Será que não tem algum sinal durante a febre que possa dar alguma pista?
Pelo menos três dias de observação são recomendados. Se o paciente não tá com uma carinha boa, vem piorando… melhor internar para investigar!
Vale lembrar que existe a Síndrome de Munchausen por procuração (acontece até no Netflix, não vai acontecer na vida?).
Se foram excluídas as causas mais comuns, começamos a pensar em zebra. Aí abre o mundo… Para pensar em diagnóstico diferencial, tem que estudar! Então não deixem de dar uma lida em tuberculose, lúpus, leucemia…
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Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.