Fibrilação ventricular: conceitos, sintomas e tratamento

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Você já parou pra pensar que existem arritmias “benignas” e “malignas”? Traçando um paralelo com as neoplasias, existem tumores benignos — ainda são doenças, porém não exercem um efeito ameaçador direto à vida — e tumores malignos que, em muitos casos, podem ser letais. A fibrilação ventricular, tema do post de hoje, é um desses casos malignos.

As arritmias benignas geralmente causam sintomas leves, sem perda de consciência e/ou critérios de instabilidade hemodinâmica, com tratamento focado em controle de sintomas ou reversão através de manobras “inofensivas” ou medicação por via oral — mas você não escolhe qual arritmia irá aparecer no seu plantão! 

Por esse motivo, hoje vamos te ajudar a lidar com a fibrilação ventricular, pra você nunca mais esquecer! Vamo lá?

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Pra começar, o que é a fibrilação ventricular?

Eletrocardiograma demonstrando traçado em ritmo sinusal na parte superior e fibrilação ventricular (FV) na parte inferior.
Eletrocardiograma demonstrando traçado em ritmo sinusal na parte superior e fibrilação ventricular (FV) na parte inferior (Créditos: American Heart Association)

Por definição, a fibrilação ventricular é uma desorganização completa da despolarização ventricular. Esta situação promove contração ventricular caótica que não é capaz de gerar débito cardíaco. A partir do momento em que é deflagrada e mantida por circuitos de reentrada, nenhuma estrutura anatômica cardíaca desempenha a sua função. Sacou? É o caos eletromecânico instalado no aparelho cardiovascular!

Se a fibrilação ventricular não for tratada de maneira adequada e precoce, pode culminar em morte súbita ou dano neurológico significativo dentro de 3 a 5 minutos. A apresentação inicial imediata pode ser como perda de consciência, crise convulsiva, apneia e parada cardiorrespiratória (PCR).

Fibrilação ventricular idiopática acontece em aproximadamente 1 a 8% dos indivíduos. Pode ser secundária, mais comumente associado à doença isquêmica cardíaca (em contexto agudo ou crônico). A taquicardia ventricular polimórfica ou monomórfica sustentada que se degenera para fibrilação ventricular é uma causa comum de parada cardíaca que se inicia fora do hospital.

Pode ser decorrente também de cardiomiopatia pré-existente; miocardite; vasoespasmo coronariano; síndromes genéticas; hipóxia; distúrbios metabólicos; intoxicações e/ou uso de drogas; fibrilação atrial em portadores de síndrome de pré-excitação ou até mesmo após cardioversão elétrica indicada por outras taquiarritmias.

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E como reconhecer a fibrilação ventricular no eletrocardiograma?

Você está de plantão num Hospital terciário e te ligam da enfermaria de Clínica Médica por uma Parada Cardiorrespiratória. A vítima não responde, tem respiração agônica (gasping), sem pulso central. Após iniciar manobras de reanimação e realizar a checagem de ritmo, qual traçado vai aparecer?

A eletrocardiografia da fibrilação ventricular mostra um ritmo completamente assíncrono, caótico e irregular. Não discernimos onda P, segmento ST, onda T e nem mesmo complexos QRS organizados. Pode se apresentar, com relação à amplitude das ondas, num padrão de traçado “fino”, “intermediário” ou “grosso”. Geralmente ocorre com frequência cardíaca acima de 200 batimentos por minuto.

Fibrilação ventricular grosseira (A) e intermediária (B).
Fibrilação ventricular grosseira (A) e intermediária (B) (Fonte: GEICPE)

Aqui não dá pra reconhecer as ondas no eletrocardiograma! Diferente de taquicardia ventricular em que geralmente você enxerga onde está localizado o complexo QRS e a onda T e, por vezes também a onda P. Outra característica da TV é a regularidade dos complexos e a amplitude das ondas nas fases positivas e negativas. Na fibrilação ventricular NADA está evidente. Segue abaixo dois exemplos de TV: monomórfica e polimórfica! Ambas podem se degenerar em FV!

TV polimórfica.
TV polimórfica (Fonte: HypeScience)
TV monomórfica.
TV monomórfica (Fonte: BiblioMed)

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E como é feito o manejo da fibrilação ventricular?

O manejo indicado na fibrilação ventricular compreende o algoritmo de BLS / ACLS. Imediata desfibrilação (choque não sincronizado) assim que o aparelho estiver disponível é o tratamento recomendado, seguido por compressões torácicas, sem alguma administração de medicamentos, nem mesmo sedativo!! É rápido, imediato, “manda bala”. Quanto mais breve o choque for administrado, maior será a taxa de sucesso ao retorno do ritmo sinusal e melhor será o prognóstico neurológico.

Figura 5 - Esquema demonstrando o principal tratamento da FV: Desfibrilação.
Figura demonstrando o principal tratamento da FV: desfibrilação.

Em aparelhos monofásicos, utilizar 360J. Em dispositivos bifásicos utilizar a recomendação do fabricante (entre 120-200J) ou a carga máxima!

Após o disparo de um choque, recomenda-se manobras de ressuscitação cardiopulmonar. A principal razão para esta conduta é que mesmo retornando o ritmo sinusal, o ventrículo ainda se encontra atordoado e incapaz de gerar contração efetiva e débito cardíaco apropriado.

Obviamente, caso haja um paciente sobrevivente à fibrilação ventricular, este deve ser avaliado o mais precocemente possível com relação ao implante de um cardiodesfribrilador implantável (o famoso CDI!), além do início de  drogas de manutenção por via oral que sejam capazes de prevenir recorrência. Também é mandatória a investigação adequada da causa que tenha deflagrado uma fibrilação ventricular!

Lembre-se: a história familiar deve ser investigada! Não pode deixar essa oportunidade passar. Uma história de morte súbita cardíaca na ausência de doença cardíaca estrutural aparente está associada a um risco aumentado de morte súbita, especialmente em familiares de primeiro grau.

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Bom, é isso!

Esperamos que você tenha gostado de se ligar nessas dicas sobre fibrilação ventricular, e que tenha aprendido algo com elas que possa ser útil no futuro! Este não é um tema fácil e, em diversas ocasiões, enfrentaremos um ambiente de muito estresse ao socorrer uma vítima de fibrilação ventricular.

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DhiegoCampostrini

Dhiego Campostrini

Nascido em 1990. Médico graduado em 2014. Formado em Clínica Médica pelo Hospital Santa Marcelina-SP. Residência em Cardiologia da UNIFESP-EPM. Ex-preceptor, médico concursado do Hospital do Servidor Público Municipal - SP. Apaixonado por aprender e ensinar; fascinado pela Medicina.