Ao falar sobre a fratura exposta de colo do fêmur, devemos entender sua localização e relações anatômicas, além do significado da fratura exposta. O fêmur é o osso encontrado nos membros inferiores e considerado o maior do corpo humano. Sua vascularização é rica devido ao seu amplo envoltório muscular. Assim, ao se pensar em uma fratura exposta nesta região, deve-se associar com suas complicações de partes moles e vasculares, além da questão óssea.
A fratura exposta acontece quando há comunicação com o meio externo e estão associadas com traumas de grande energia, sendo assim, são uma realidade das salas de emergência. Seu prognóstico está intimamente relacionado com a extensão e acometimento de partes moles, neurovasculares e o grau de contaminação do local. Por isso, a importância de saber suas causas, manejos, tratamentos e complicações.
As principais causas de fratura exposta do fêmur são os traumas que envolvem grande energia cinética.
Já as fraturas de fêmur fechadas incidem mais na população feminina acima dos 60 anos pelas questões hormonais que levam a fragilidade óssea, aumento a propensão de traumas mais graves espontâneos ou com energia não tão significativa.
Para melhor manejo e entendimento, utiliza-se a Classificação de Gustilo e Anderson, que se baseia no acometimento de partes moles e vascularização do Fêmur:
Tipo da Lesão | Descrição |
I | Lesão <1cm com mínimo comprometimento de partes moles |
II | Lesão >1cm com mederado comprometimeto de partes moles |
III A | Extensa laceração e comprometimento de partes moles Ou retalhos com cobertura de pele íntegra sobre osso fraturado Ou trauma de grande energia independentemente do tamanho da lesão |
III B | Extensa lesão de partes moles com desnudamento periosteal e exposição óssea, usualmente associada a extensa contaminação |
III C | Lesão óssea associada a lesão vascular que requer reparo |
O manejo dessa condição requer um bom cuidado com tecido ósseo e partes moles, por isso, a limpeza do sítio e até em condições cirúrgicas devem ser realizadas. Contudo, deve-se atentar as partes moles, tendo uma manipulação cuidadosa, já que é responsável pela vascularização e defesa do organismo. Assim, além da imobilização necessária, o uso de antibioticoterapia mostra resultados animadores na diminuição de incidência de infecções ao decorrer da internação.
Ossos longos fraturados devem ser alinhados e imobilizados, sempre checando a função neurovascular do membro antes e após cada manipulação. De maneira simplificada, quando se fala de manejo da infecção e do tratamento definitivo, baseiam-se na classificação de Gustilo e Anderson.
Utilização de Antibioticoterapia
Classificação | Primeira opção | Outra opção |
I e II | Cefalosporina de 1° geração | |
III A, B e C | Cefalosporina de 1° geração + aminoglicosideo | Cefalosporina de 3° geração |
Área rural, campo e fazenda | Cefalosporina de 1° geração + aminoglicosideo + penincilina | Cefalosporina 3° geração |
Ainda para prevenção da infecção nesse local, leva-se o paciente ao centro cirúrgico sob anestesia, para realizar o desbridamento. Retira-se todo tecido desvitalizado com exceção do feixe neurovascular.
O tratamento definitivo da fratura exposta de fêmur leva em conta a experiência do cirurgião ortopédico, porém também seguirá padronização dependendo do grau e extensão da lesão.
Utilizam-se a fixação interna com haste intramedular (definitiva) e fixação externa, sendo que quando se opta pela última após 2 semanas da lesão à necessidade de transformar em uma fixação definitiva.
O tratamento na urgência, deve seguir a classificação de Gustilo e Anderson. Assim, grau I e II podem ser tratados com fixação definitiva na urgência já que há baixa chance de contaminação e perda de partes moles. Já quando há uma classificação grau III e opta pela fixação externa, para após o tratamento das partes moles, realizar tratamento definitivo.
Tratamento de acordo com classificação de Gustilo e Anderson
Classificações | Opções | Melhor opção |
I | Fixação com haste intramedular e fixação com estabilidade absoluta com placa e parafusos | Fixação interna com haste intramedular. |
II | Fixação com haste intramedular e fixação com estabilidade absoluta com placa e parafusos | Fixação interna com haste intramedular. |
III | Fixação com haste intramedular e fixação com estabilidade absoluta com placa e parafusos | Após fixação externa e bom tratamento das partes moles, Fixação interna com haste intramedular. |
As complicações das fraturas expostas envolvem acidente vasculares, tromboembolismo que podem evoluir para tromboembolismo pulmonar, dificuldade de deambulação e evoluir para amputação.
Os embolismos tem causa principal a embolia gordurosa, devido ao trauma ósseo que libera trombos gordurosos na circulação do paciente, podendo levar ao tromboembolismo pulmonar, uma emergência recorrente e, muitas vezes, pouco diagnosticada que pode evoluir para óbito do paciente,
As amputações ocorrem quando há a desvitalização do feixe vascular. Quando no doppler observa-se disfunção vascular e a perda das extremidades saudáveis, o paciente deve ser submetido à amputação.
Nos idosos, as fraturas expostas de fêmur requerem uma atenção maior, já que há um risco cirúrgico e tromboembólico maior. Em comparação com os jovens, idosos tendem a ter repercussões tardias mais frequentemente, como acidente vascular encefálico e Tromboembolismo pulmonar.
Assim, sabe-se que a fratura exposta de fêmur é uma realidade nas salas de emergência e, por isso, é necessário seu bom entendimento, manejo e tratamento, para que o paciente evolua para bom prognóstico. A utilização de boa antibioticoterapia, com cuidados com a infecção e sábia escolha de tratamento são fundamentais.
A boa condução do caso, frente ao bom acompanhamento, tendem a ter respostas satisfatórias do paciente. Contudo, sua má avaliação e tratamento podem aumentar a morbidade e mortalidade no primeiro ano do trauma.
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.