Gestão e pesquisa na Medicina (Papo de Clínica)

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Fala, galera! Hoje vamos falar sobre gestão e pesquisa na Medicina, de acordo com a entrevista realizada no podcast Papo de Clínica, com o médico anestesiologista e intensivista João Manuel Silva Júnior, que trabalha como diretor e supervisor da residência médica do Departamento de Anestesiologia do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual SP.

Ele também atua em outros locais, como o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e o Hospital Albert Einstein.

Continue lendo e saiba mais detalhes sobre o assunto por meio das experiências de João Manuel Silva Júnior! 

Por que escolher a carreira de gestão na Medicina?

João achava que a área de gestão seria muito burocrática e gostava mais da área assistencial, mas um colega explicou algumas vantagens que ele teria caso optasse por gestão.

Depois da adesão de João, outros médicos também aderiram ao projeto do anestesiologista, que já tinha muita experiência com pacientes de alto risco.

Sua expertise era uma referência para os jovens médicos que precisavam de orientações. Veja alguns motivos para abraçar a carreira de gestão em Medicina:

Autonomia e impacto

A gestão proporciona mais autonomia para efetuar ações que o profissional acredita serem importantes para o tratamento dos seus pacientes.

Assim, o médico pode ter um maior impacto maior na vida de mais pessoas do que se tratasse cada paciente de forma individual.

Desenvolvimento de habilidades

O gestor em Medicina precisa de habilidades como liderança, comunicação, organização e resolução de problemas — elas são valiosas tanto para a carreira profissional quanto para a vida pessoal.

Inovação e aprendizado constante

A área da saúde está em contínua transformação, e a gestão permite que o médico se envolva nas inovações, aprendendo sempre sobre modernas tecnologias e novos tratamentos.

Contribuição para a melhoria do sistema de saúde

A gestão em Medicina permite a contribuição do profissional para melhorar o sistema de saúde como um todo, tornando-o mais eficiente e acessível para a população.

Possibilidade de conciliar a gestão com a assistência

É possível conciliar a carreira de gestão com a assistência aos pacientes, ou seja, o médico continua a ter contato direto com os pacientes e a aplicar seus conhecimentos clínicos na prática. 

Oportunidades de carreira

Há muitas oportunidades de carreira na gestão da saúde, tanto no setor público quanto no privado. É possível trabalhar em hospitais, clínicas, empresas de saúde e em órgãos governamentais.

Como iniciar uma carreira em gestão na Medicina?

João se tornou coordenador depois que sua atuação passou a servir como referência para os residentes em Anestesiologia. Também atuava na UTI e queria manter os dois trabalhos. Para isso, dava continuidade aos cuidados do paciente na UTI no fim do dia e os acompanhava até quando recebiam alta e deixavam a UTI.

Para alcançar a gestão, João levou dez anos — foi uma longa jornada que envolveu trabalho e dedicação. 

O caminho tradicional para quem deseja seguir nesse ramo envolve a realização de cursos de pós-graduação em Administração Hospitalar, Gestão em Saúde ou áreas correlatas. Há ainda cursos livres e programas de MBA focados em gestão em saúde.

É necessário ter experiência clínica para compreender os desafios e as necessidades do ambiente hospitalar. Vale ainda buscar oportunidades em áreas administrativas dentro de clínicas ou hospitais, como coordenador de equipe, gerente de projeto ou analista de qualidade. Entre as habilidades mais requisitadas para um gestor em Medicina, destacam-se:

·         liderança;

·         comunicação;

·         negociação;

·         resolução de problemas;

·         gestão de projetos.

É importante saber que existem oportunidades de especialização em gestão em saúde em universidades famosas no exterior. Assim, programas de intercâmbio e estágios em hospitais internacionais podem ampliar a visão e o networking. João também dá as seguintes dicas:

·         a paixão pela área da saúde e a vontade de contribuir para melhorar o sistema de saúde são fundamentais;

·         buscar mentores e profissionais experientes para orientação e networking;

·         participar de eventos e congressos para se manter sempre em dia sobre as novidades em gestão em Medicina.

Como a pesquisa pode ajudar na carreira em gestão?

João afirma que a pesquisa e suas experiências abriram muitas portas no mundo profissional. De acordo com seu pensamento, a pesquisa pode ser uma ferramenta para a gestão em Medicina. Assim, a gestão e pesquisa são aliadas entre si e funcionam de forma complementar para:

·         identificar questões e possibilidades que afetam a administração hospitalar, como a melhoria dos processos, a redução de despesas e a melhoria da qualidade do atendimento;

·         decidir com base em evidências, já que as informações obtidas em pesquisas podem oferecer dados concretos para tomar decisões;

·         melhorar o perfil profissional por meio do engajamento em pesquisas e da publicação de artigos científicos, tornando-o mais competitivo no mercado de emprego.

A pesquisa também é muito relevante para o gestor em Medicina, pois desenvolve habilidades e dá acesso a inovações. 

Como funciona a pesquisa acadêmica na Medicina no Brasil?

Dedicar-se à pesquisa acadêmica no Brasil não é muito fácil, pois não há muitos incentivos e recursos materiais e financeiros.

As pessoas precisam trabalhar e encontrar tempo para os estudos, sendo necessário, muitas vezes, bancar seu projeto. É preciso enfrentar situações burocráticas desde o início.

Por isso, João defende que é importante investir em ações melhores, passar ideias promissoras para os pesquisadores, ajudá-los com pesquisas plausíveis e que tenham potencial para oferecer boas soluções. Algumas orientações que podem ajudar são:

  • identificar seus interesses;
  • buscar orientação de um orientador experiente;
  • aprimorar suas habilidades de leitura crítica e escrita científica;
  • desenvolver habilidades de análise de dados e estatística.

Pesquisa no Brasil x exterior

Mas e no exterior? Vale a pena investir? Para João, estudos multicêntricos permitem a criação de redes (network) que ativam pesquisas mais potentes. Além disso, no exterior, assistência, pesquisa e ensino são divididos. Assim, os estudantes rodam nas áreas em períodos separados, tendo momentos para pesquisar, prestar assistência e estudar. 

Quando o estudante vai para o exterior, ele se dedica exclusivamente à pesquisa, e aqui, ele tem que dividir sua dedicação à pesquisa com vida pessoal e profissional.

Dessa forma, as possibilidades de a pesquisa funcionar no exterior são maiores, pois a dedicação é exclusiva. Além disso, é uma oportunidade de conhecer outra cultura.

Para entender melhor as diferenças entre pesquisa no Brasil e no exterior, vamos apresentar as vantagens e as desvantagens de cada uma:

Brasil

Vantagens:

  • pesquisa no Brasil costuma ser mais barata do que no exterior;
  • proximidade com a família e amigos;
  • a barreira linguística não é um problema;
  • o Brasil apresenta uma alta incidência de doenças tropicais, o que oferece um campo fértil para pesquisa em áreas como Infectologia, Parasitologia e Medicina Tropical;

Desvantagens:

  • o financiamento à pesquisa no Brasil é menor do que em muitos países desenvolvidos;
  • a burocracia pode ser complexa e demorada;
  • nem todas as instituições de pesquisa do país possuem infraestrutura moderna;
  • salários mais baixos.

Exterior

Vantagens:

  • países desenvolvidos costumam investir mais em pesquisa científica;
  • as instituições de pesquisa no exterior costumam ter infraestrutura moderna e equipamentos de alta tecnologia;
  • salários mais altos;
  • o ambiente de pesquisa no exterior é altamente competitivo, o que pode estimular a excelência científica;
  • oportunidade de intercâmbio cultural.

Desvantagens:

  • custo de vida alto;
  • necessidade de saber o idioma local;
  • distância da família e amigos;
  • dificuldade em obter visto.

Como começar uma carreira de pesquisador?

Pesquise as opções de mestrado e doutorado disponíveis e escolha aquela que melhor se alinha aos seus objetivos de pesquisa.

O mestrado pode ser importante, pois dá experiência em pesquisa e na parte acadêmica, ajuda a desenvolver habilidades importantes para o doutorado e para trabalhar na área em que o médico vai seguir.

É importante também entrar em um doutorado, pois aquilo será sua marca no futuro. É possível fazer diretamente o doutorado, mas se falta experiência, é importante fazer um mestrado antes e seguir todos os passos.

Além disso, participe de cursos e workshops voltados para o desenvolvimento de habilidades de pesquisa em Medicina. Cursos de especialização ajudam muito para quem deseja desenvolver pesquisa acadêmica. Outras dicas que podem contribuir são:

  • buscar bolsas de pesquisa em diferentes instituições;
  • participar de eventos científicos, que são ótimas oportunidades para conhecer pesquisadores famosos, apresentar seus trabalhos e buscar oportunidades de colaboração.

Por que integrar a prática assistencial com a pesquisa?

João considera que não existe pesquisa sem assistência. Quando o pesquisador também é atuante em sua profissão ele terá curiosidades a respeito de certas doenças e vai procurar formas de ajustar o tratamento.

Um pesquisador puro pode ter dificuldades de compreensão do dia a dia do médico com o paciente, e trazer soluções para o paciente faz toda diferença.

Pesquisa laboratorial e clínica, embora sejam importantes, não alcançam a ponta. Por isso, João manteve pesquisa e ensino, aproveitando as curiosidades que apareciam na rotina.

João estimula os estudantes a atuarem na área de gestão e pesquisa na Medicina, integrando a pesquisa à assistência para melhorar o cenário da saúde por meio de:

  • estudos clínicos que testam novos tratamentos para avaliar sua segurança e eficácia;
  • implementação de protocolos para diferentes doenças;
  • benefícios para os pacientes, já que a integração entre a prática assistencial e a pesquisa pode levar a melhores resultados para os pacientes, como maior sobrevida, melhor qualidade de vida e menor risco de complicações.

Quais os benefícios de ser pesquisador?

O pesquisador pode oferecer soluções para melhorar as condições do paciente, e elas podem alcançar o grande público, beneficiando uma quantidade maior de pessoas. Podemos destacar os benefícios seguintes:

  • a prática assistencial permite aos profissionais de saúde identificar problemas e necessidades que podem ser investigados por meio da pesquisa;
  • a pesquisa pode gerar novas soluções para problemas de saúde, como novos medicamentos, terapias e procedimentos;
  • a pesquisa pode ajudar a melhorar a qualidade da assistência, ao fornecer evidências para a tomada de decisão clínica.

Agora você já sabe como é a carreira de gestão e pesquisa na Medicina!

Agora, você entende como funciona a carreira de gestão e pesquisa na Medicina, compreende os desafios que envolvem essa área e as vantagens que ela oferece ao sistema de saúde.

Essa é uma opção para o médico que gosta de pesquisa e, ao mesmo tempo, deseja se dedicar à área administrativa e à assistência direta aos pacientes, contribuindo com seus conhecimentos e sua experiência para melhorar a qualidade da saúde no Brasil. Aproveite e veja a entrevista que deu origem a este post na íntegra! Ela está disponível no canal do Papo de Clínica no Youtube e no Spotfy.

DanteRaglione

Dante Raglione

Formado em Clínica Médica e Medicina Intensiva pela USP-SP, cofundador do Papo de Clínica e professor de Medicina Intensiva do Extensivo R3CM.