Fala pessoal, todo mundo bem? Espero que sim, porque o tema de hoje é bacana demais, tanto pela frequência com a qual nos deparamos com a asma, quanto pela atualização constante que o GINA, a “Enciclopédia” da Asma no meio médico, nos traz, anualmente. E vem comigo que tem até um “bate-bola” sobre Covid-19 no paciente asmático, no final! E aí, pronto pra descobrir o que mudou no GINA 2021?
E antes de continuarmos, saiba que temos um artigo recente com as atualizações do GINA 2024. Então, corre lá para dar uma olhada depois de conferir este aqui!
Asma é uma doença de vias aéreas, especialmente brônquios médios e pequenos (poupa alvéolos), caracterizada por hiper reatividade brônquica, excesso de produção de muco e espessamento/inflamação da parede dessas vias. E aqui temos um detalhe essencial: como doença de caráter inflamatório, todo esse processo é variável, ou seja, após exposições mais ou menos específicas, o paciente pode apresentar piora de sintomas, caracterizando as exacerbações, que são as chamadas crises de asma, além de manter um estado basal, que também é flutuante em intensidade de sintomas e de comprometimento obstrutivo de via aérea.
Esse comprometimento é dito obstrutivo porque com estímulos para contração da musculatura lisa peribrônquica, com o muco abundante e com as paredes mais espessas, as vias aéreas passam a ter muita resistência ao fluxo aéreo.
Como a inspiração é um momento ativo da respiração e a expiração, em condições normais, é passiva, é justamente a expiração do ar a grande prejudicada em caso de obstrução, visto que não há, a princípio, uma “força motriz” para jogar o ar para fora, como a contração diafragmática na fase inspiratória.
E uma vez entendida essa “base” (que não mudou) fica fácil compreender o diagnóstico da asma, suas manifestações e, por tabela, entender o que mudou no GINA 2021.
Está aqui porque acredita que esse assunto vai cair nas provas de residência médica que você vai prestar? Muito bem! Estudar com direcionamento para as provas que você quer prestar é fundamental na sua jornada rumo à aprovação na instituição dos seus sonhos, e com os Extensivos 2023 você tem todos os recursos para uma preparação direcionada e completa para ser aprovado nas principais residências médicas do País! Quer conhecer na prática a didática e os recursos que fizeram parte dos estudos de quase metade dos aprovados na USP e na Unifesp em 2022? Então teste grátis o Extensivo Medway por 7 dias!
Os principais sintomas que devem motivar suspeição clínica são tosse seca, intolerância ao exercício, dispneia, dor torácica, sibilância, podendo apresentar desconforto respiratório e dessaturação durante crises. Agora, bora aplicar o que já vimos!
Em espirometria, avaliamos a expiração, o grande “alvo da obstrução”, de algumas formas, mas as duas mais relevantes são (de modo simplifiado):
Tenho certeza que você já domina esse conceito:
A relação entre VEF1/CVF (Índice de Tiffeneau), quando < 0,70 pós broncodilatação, define um distúrbio ventilatório como obstrutivo.
Por que? A obstrução não prejudica a expiração, que é passiva? É só pensar que a exalação do ar depende basicamente do recolhimento elástico do pulmão, da caixa torácica e do diafragma, todos distendidos, pelas forças da inspiração. Esse recolhimento seria mais intenso no 1º segundo (toda estrutura distendida de forma máxima), o que gera alta velocidade de fluxo inicial, no 1ºs (VEF1), se tudo estivesse normal.
Como temos obstrução, é a velocidade que seria gerada por esse pico de força elástica (“tudo bastante tenso e distendido, querendo voltar ao basal”) a grande impactada e, por ter resistência ao fluxo, a CVF também é afetada. Porém, ainda que o paciente consiga exalar por mais tempo (por isso aumento do Texp), essa dificuldade resulta em um volume total exalado menor que o normal, mas com queda proporcional menor que a queda do VEF1. Por isso VEF1/CVF cai, sacou?
E o detalhe final do diagnóstico: a obstrução de fluxo na asma é variável ! Isso é definidor de asma e também não mudou!
Para caracterizar essa variação, também chamada de “reversibilidade”, temos que observar aumento de VEF1 pós Broncodilatação, em relação à pré-broncodilatação.
Cuidado! Paciente asmático tem uma doença inflamatória! Se você faz o exame desse indivíduo em momento de baixa atividade de doença, a prova de função pulmonar pode ser normal. Aí, lançamos mão de medicações que induzem broncoespasmo, na chamada prova broncodilatadora, como metacolina, que deve fazer o VEF1 cair ≥ 20 %, para fecharmos diagnóstico, por exemplo.
Beleza, diagnóstico feito, vamos tratar.
Antes de te apresentar o que mudou especificamente no GINA 2021, preciso te dizer o que foi uma quebra de paradigma recente, já presente no GINA 2019.
Agora, antes de partirmos para o diagnóstico, já deixo a dica do nosso e-book Crise de asma: da Clínica Médica à Pediatria, em que falamos mais sobre o essencial do manejo de uma crise asmática – tanto na população adulta quanto na população pediátrica, incluindo fatores desencadeantes, tratamentos e classificação da gravidade e um guia de consulta rápido para o PS. Clique AQUI e baixe agora.
Desde 2019, recomenda-se que todo paciente com asma receba corticoide inalatório de alguma maneira. Isso está relacionado a resultados de estudos com uso de apenas Beta2-agonista de curta duração (SABA), naqueles pacientes com sintomas esporádicos (1-2 vezes ao mês), que mostraram piores desfechos, maior risco de exacerbações e maior uso de corticoide oral (com suas consequências), mesmo nos casos mais leves.
Assim, até para pacientes que usam medicação sob demanda, nos ≥ 12 anos, recomenda-se uso de Corticoide inalatório mesmo nas aplicações para alívio de sintomas, associado a Beta2-agonista de longa duração, nos pacientes que só usam sob demanda. Esse era o conceito básico até 2020, válido para o famoso “Bud-form”, pois é a combinação CI + LABA usada nos estudos.
E o tratamento de resgate para todos, de forma geral, seria CI + LABA.
Só revisando o que também foi proposto em 2020, cada step é indicado, no momento de início do tratamento, da seguinte maneira:
Aqui uma primeira atualização no GINA 2021: há duas “vias possíveis” para resgate em ≥ 12 anos:
Percebeu? O objetivo é não deixar o paciente sem CI, pelo menos em alguma das modalidades (alívio ou manutenção), do tratamento.
Com essas duas vias, outra mudança, nos parâmetros de quando começar cada Step:
Pelo GINA 2021:
Podemos sumarizar essa alteração do GINA 2021 como tendo sido feita uma condensação de Step 1 e 2 nos casos em que se usa Bud-form e foi deixado mais clara a distinção entre esses mesmos Steps quando usado o resgate CI + SABA!
Lembra que te disse da mudança no Step 5?
Para pacientes que persistem com sintomas apesar de CI – LABA em altas doses, já no acompanhamento com especialista, foi proposto pelo GINA 2021 que:
A indicação de imunobiológicos também foi atualizada, mas acho que é um tema específico demais, beleza?
Para saber mais sobre outras prescrições que resolvem as emergências com as quais você vai se deparar no dia a dia, sugiro dar uma olhada no nosso Guia de Prescrições. Com ele, você vai estar pronto para atuar em qualquer sala de emergência no Brasil, e vai fazer toda diferença tê-lo sempre à mão!
Outras atualizações que também têm algum efeito prático são as definições de asma leve e severa. A primeira é atualmente conceituada como aquela controlada por uso de baixas doses de corticoide inalatório. Mas por depender de tratamento por alguns meses, pelas mudanças atuais nos próprios Steps, e por confusão dos próprios médicos e pacientes, que não raro usam o termo descrevendo uma asma com poucos sintomas, está prevista uma revisão do conceito este ano, pelo GINA.
A asma severa foi definida como aquela que permanece sem controle mesmo com altas doses de CI + LABA, retirando o vínculo entre asma severa e um Step específico. E faz sentido, concorda? Já vimos que estes sofrem mudanças frequentemente, então abre margem para mais confusão.
Novamente, não podemos deixar de ofertar CI de alguma maneira e a medicação de alívio é aqui é o SABA (embora possa ser considerado uso de CI + LABA , o bud – form, especialmente se já usado como manutenção, a partir de Step 3).
Só como última observação antes do esquema, sobre o uso de LABA em < 12 anos, há algum receio sobre taquifilaxia e diminuição do efeito de SABA em crises asmáticas a longo prazo, por isso tende-se a evitar o Beta-2 de longa, embora não seja, de forma alguma, contraindicado.
Dessa forma, teremos:
A maneira de iniciar cada Step nessa faixa etária ficou igual a dos ≥ 12 anos que usam SABA no lugar do LABA nos resgates.
O diagnóstico é mais difícil nessa população, principalmente porque crianças com <6 anos não conseguem fazer espirometria. Mas pode ser feito sim! O diagnóstico será mais pela clínica, com atenção maior ao número de episódios de sibilância num contexto fora de infecções virais, duração dessas sibilâncias por mais de 10 dias, histórico pessoal e familiar de asma e outras doenças relacionadas à atopia.
Nessa faixa etária, não usamos LABA e temos apenas 4 etapas. O Step 1 é atribuído àquelas crianças que têm sibilos predominantemente relacionados a infecções virais ou sintomas muito raros, não necessitando de terapia de manutenção. É como se ainda tivéssemos alguma dúvida sobre o benefício nesse paciente e estivéssemos tentando entender o padrão de sibilância de alguém que até o momento, sibila predominantemente durante infecções. Nos demais passos, já temos o CI como base do tratamento. A medicação de resgate aqui é apenas o SABA.
UFA! Agora, falando de um modo geral, para todas as idades, vale ressaltar que o GINA 2021 reafirma que a quantidade de asmáticos que precisa de CI em altas doses é baixa e que devemos insistir sempre em pontos críticos para o controle da asma, antes de simplesmente aumentarmos a dose de corticoide inalatório.
Antes de progredir Steps, 4 perguntas IMPORTANTÍSSIMAS:
Por fim, antes do assunto COVID-19, uma atualização técnica: para realização de espirometria, recomenda-se a suspensão dos medicamentos de uso crônico da seguinte maneira:
Agora, um “jogo rápido” sobre COVID-19:
Ficou com dúvida sobre como avaliar o controle da asma? Isso não mudou, dá aquela revisada rápida aqui:
Fim da linha, pessoal! Espero que tenham revivido algumas lembranças sobre asma e, ao mesmo tempo, ganhado algo a mais sobre atualizações nesse assunto, além de aprender um pouco sobre o GINA 2021.
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Aquele abraço, valeu!
Mineiro de Uberlândia, nascido em 1995, formado pela Universidade Federal de Uberlândia. Residência em Clínica Médica no Hospital de Clínicas da USP de Ribeirão Preto.
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