Fala galera! Hoje vamos falar de hepatite B, doença viral que acomete o fígado e tem um amplo espectro de sintomas — desde assintomático a hepatite aguda e cirrose hepática. Não é à toa que gera tantas dúvidas no dia a dia. Bora simplificar o assunto então!
Vem comigo!
Tudo começa com o indivíduo contraindo o vírus, é claro. A transmissão pode ser sexual, vertical (durante a gestação e parto) ou por meio de contato com sangue contaminado, como em transfusões (apesar de raríssimo, já que há testagem nos bancos de sangue), acidentes com material perfurocortante, uso de drogas endovenosas e compartilhamento de seringas.
O vírus então entra no organismo e começa a se replicar e em cerca de 30% dos casos teremos um quadro de hepatite B aguda sintomática. Vamos voltar nesse assunto logo mais, já que o foco aqui é justamente esclarecer os sintomas da hepatite B.
Mas agora, vamos seguir com o curso da doença. Alguns pacientes, portanto, desenvolvem o quadro agudo, enquanto outros permanecem assintomáticos. O fato é que até 80% dos indivíduos adultos contaminados vão desenvolver resposta imunológica suficiente para eliminar o vírus e apresentam cura espontânea. Mas cuidado! Essa porcentagem cai consideravelmente nos neonatos, que têm maior chance de evoluir para cronificação – daí toda a preocupação com a transmissão vertical da hepatite B.
Esse menor percentual de pessoas que não elimina o vírus desenvolve a hepatite B crônica. Aí a coisa começa a ficar confusa… aparece aquela sopa de letrinhas das sorologias: HbsAg, antiHbs, antiHbc, HbeAg, antiHbe, temos hepatite B crônica ativa, inativa, replicação viral ou não, com aumento ou não de transaminases… é normal se perder aqui!
De forma simples. A pessoa pegou hepatite B, não eliminou o vírus e desenvolveu hepatite B crônica.
Primeiro, ela passa por uma fase de imunotolerância, em que o vírus se replica, mas ainda não há dano hepático (as transaminases são normais). Essa fase pode durar de 10 a 30 anos! Teremos o antígeno s positivo e o antígeno e, marcador de replicação viral, também positivo. A carga viral é elevada, mas não há aumento de transaminases.
Aí, novamente, podemos ter 2 caminhos no organismo. O sistema imunológico vai tentar combater o vírus, entrando na fase de imunoclearance. Ele pode ter sucesso ou não. E aí o próprio sistema imunológico começa a causar dano hepático, levando a aumento das transaminases! Alguns, no entanto, conseguem controlar a replicação viral pelo desenvolvimento de anticorpos. O vírus fica lá, mas está inativo. É a hepatite B crônica inativa. É marcada pela viragem sorológica do antiHbe – o anticorpo contra o antígeno e. O organismo controla a replicação e a carga viral fica baixa:
Essa fase também pode durar anos, até a vida toda! Mas uma baixa na imunidade do indivíduo ou mutação do vírus pode quebrar esse equilíbrio e o vírus volta a ficar ativo. E aí temos a hepatite B crônica ativa, que é quem vai causar problema. Aqui ocorre replicação viral com dano hepático, podendo levar a complicações como cirrose hepática e carcinoma hepatocelular! Nos exames, temos novamente replicação viral, marcada pelo HbeAg positivo e carga viral elevada, além do aumento das transaminases.
Só cuidado com um detalhe aqui: os indivíduos que voltam a ter replicação viral por mutações no vírus vão continuar com o antiHbe positivo e HbeAg negativo (o vírus burla esse anticorpo), mas com carga viral e transaminases altas!
Agora que você já entendeu as fases que a hepatite B pode passar, vamos conhecer o quadro clínico.
Lembra que prometi a você que detalharíamos esse quadro mais à frente? Bora lá! Os principais sinais e sintomas são:
Esses sintomas podem durar algumas semanas e, raramente, ocorre evolução para hepatite fulminante. Há também alterações nos exames laboratoriais, marcadas por:
Aqui os sintomas são um pouco diferentes… na realidade, boa parte vai ser assintomática! Aqueles que cursam com replicação viral na fase crônica podem desenvolver cirrose hepática, com todas as suas manifestações:
O próprio vírus B, pelas suas características de replicação, é fator de risco para carcinoma hepatocelular (CHC), independente da presença de cirrose.
Por fim, a hepatite B tem algumas manifestações extra-hepáticas, sendo as mais típicas a poliarterite nodosa e a glomerulonefrite membranosa.
Antes de falarmos sobre o diagnóstico da hepatite B, quero aproveitar para te contar que você pode saber mais sobre como lidar com a cirrose e suas complicações, de forma prática, no nosso e-book Cirrose hepática e suas complicações, que traz as principais informações que você precisa saber na hora de diagnosticar e manejar um paciente hepatopata. Clique AQUI para fazer o download gratuito!
O diagnóstico é feito pela sorologia e quantificação da carga viral. Aí não tem jeito, precisa saber interpretar os diferentes antígenos e anticorpos — e para isso é importante entender o curso natural da doença! Para facilitar, dá uma olhada na tabela abaixo:
HbsAg | AntiHbs | AntiHbc | HbeAg | AntiHbe | Carga viral | |
Curada | Negativo | Positivo | Positivo (IgG) | Negativo | Positivo | Indetectável |
Vacinação | Negativo | Positivo | Negativo | Negativo | Negativo | Indetectável |
Aguda | Positivo | Negativo | Positivo (IgM) | Positivo | Negativo | Elevada (>1000 cópias) |
Crônica inativa | Positivo | Negativo | Positivo (IgG) | Negativo | Positivo | Baixa ou indetectável |
Crônica ativa ou imunoclearence | Positivo | Negativo | Positivo (IgG) | Positivo | Negativo | Elevada (>1000 cópias) |
Crônica ativa por mutação viral (pré-core) | Positivo | Negativo | Positivo (IgG) | Negativo | Positivo | Elevada (>1000 cópias) |
O tratamento dos casos agudos é de suporte e controle dos sintomas! Nos raros casos que evoluem para hepatite fulminante, pode ser indicado transplante hepático. O tratamento para os casos crônicos é um assunto à parte… em geral são indicados antivirais (tenofovir, entecavir ou interferon) quando há dano hepático, coinfecções com HIV ou HCV, sintomas extra-hepáticos, CHC ou história familiar de CHC.
Espero que tenha gostado da revisão! A hepatite B tem um quadro clínico bem inespecífico e muitas vezes é assintomática! Por isso, sempre que investigando um quadro de icterícia, hepatite aguda ou cirrose, inclua as sorologias para hepatite B — que agora você já sabe interpretar!
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Pra cima, galera!
Nascida em Franca/SP, em 92, formou-se em medicina pela PUC-Campinas, em 2018. Especialista em Clínica Médica pela UNICAMP e completamente apaixonada por essa área cheia de detalhes e interpretações. Filha de professora e de um ávido leitor, cresceu com muito amor pelo ensino também, unindo essa paixão à medicina.