Fala galera! Mais uma vez hepatites dando as caras aqui no blog! O foco nosso hoje é falar do tratamento da hepatite C crônica. Muita coisa mudou nos últimos anos e é importante estar atualizado sobre o tema!
Pessoal, acalmem o coração que vai ter artigo quentinho só sobre sintomas e diagnóstico da hepatite C! Então, por ora, vamos só lembrar do que se trata a doença.
A infecção pelo vírus da hepatite C ocorre principalmente por via parenteral e fômites contaminados – compartilhamento de seringas, itens de higiene pessoal, equipamentos médicos e odontológicos. Até o início da década de 90, não era possível a detecção do vírus no sangue, portanto houve muita contaminação em transfusões sanguíneas também! As transmissões sexual e vertical são raras.
Diferente da hepatite B, que discutiremos em outro artigo aqui no blog em breve, a hepatite C evolui com cronificação em até 80% dos casos. O vírus infecta o indivíduo, passa anos assintomático e, em até 20% dos indivíduos, evolui com cirrose hepática.
Então, fiquem ligados:
O ponto chave é diagnosticar esses indivíduos assintomáticos, através de rastreio oportuno e campanhas.
Isso porque, hoje, o Ministério da Saúde, indica o tratamento de TODOS os indivíduos infectados pelo vírus da hepatite C (HCV). É isso mesmo!
Todo mundo cuja sorologia anti-HCV for positiva, vai quantificar a carga viral (HCV-RNA) e, se ela for detectável (>500 UI∕mL), vai receber o tratamento! |
Antes de falarmos sobre como fazer o tratamento da hepatite C, quero aproveitar para te contar que você pode saber mais sobre como lidar com a cirrose e suas complicações, de forma prática, no nosso e-book Cirrose hepática e suas complicações, que traz as principais informações que você precisa saber na hora de diagnosticar e manejar um paciente hepatopata. Clique AQUI para fazer o download gratuito!
Parece simples né? E, de fato, ficou muito mais fácil e acessível. A escolha do tratamento, no entanto, envolve algumas variáveis e pode gerar certa confusão. Então saca só esse resumo:
Primeiro, é importante saber que o tratamento para HCV é fornecido inteiramente pelo SUS e feito em centros de referência. Existem duas variáveis principais que influenciam na escolha das drogas: o genótipo do vírus C e o estadiamento da doença hepática.
Existem 6 genótipos circulantes da hepatite C – 1 (que ainda é dividido em 1a e 1b), 2, 3, 4, 5 e 6. A escolha da medicação varia conforme o genótipo, por isso é tão importante encaminhar o paciente para um centro de referência onde a genotipagem esteja disponível. Parece que complicou muito? 6 tratamentos diferentes? Fica tranquilo que os esquemas são semelhantes e existem alguns “coringas”.
Os detalhes desse tratamento, inclusive, cabe ao especialista, que, frequentemente, vai consultar o manual para saber qual droga usar. Por isso, é importante mesmo saber o esquema básico (o coringa que eu mencionei):
Sofosbuvir + daclatasvir ± ribavirina |
A ribavirina deve ser acrescentada ao tratamento em:
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Bom, aí depende também do estágio da doença hepática, como comentei antes:
Além da genotipagem, o paciente deve ser avaliado quanto à presença ou não de cirrose. Isso pode ser feito de algumas formas:
São índices que estimam o grau de fibrose hepática. O APRI usa o valor de AST e plaquetas e o FIB-4 usa ALT, AST e plaquetas.
Os escores são simples, acessíveis e bem validados.
Ultrassonografia especial que permite a identificação do estágio de fibrose hepática. É não invasivo, rápido e também bem validado para hepatite C.
Ainda é o padrão ouro para avaliação do grau de fibrose. No entanto, dada a disponibilidade de métodos menos invasivos, fica reservado para situações especiais, como em caso de dúvida diagnóstica.
Além disso, todo paciente que for cirrótico deve ter calculado o escore de Child-Pugh e avaliado quanto à presença de complicações.
Já estratificamos nosso paciente e agora voltamos ao tempo de tratamento.
Novamente, existem detalhes aqui que o próprio especialista necessita consultar o manual do Ministério da Saúde. Vamos nos ater ao básico:
Bom, esse é o esquema mais básico, que pode ser usado para qualquer genótipo, em pacientes virgens de tratamento e que não se encaixam em nenhuma outra situação especial. É importante saber, no entanto, que, em alguns casos, o tratamento vai mudar um pouco:
Devem ser compatíveis com a TARV. A associação de ribavirina e zidovudina, por exemplo, deve ser evitada, pelo risco de anemia.
Caso haja indicação de tratar a hepatite B deve ser iniciado o tratamento de forma concomitante ou antes do início da terapia para HBV.
O sofosbuvir deve ser usado com cautela se a taxa de filtração glomerular < 30 mL/min/1,73m². São opções esquemas com elbasvir/grazoprevir ou glecaprevir/pibrentasvir.
O tratamento é teratogênico e não possui segurança na gestação. A gravidez deve ser evitada durante o período e, se confirmada, o tratamento deve ser suspenso.
Devem ser usados esquemas especiais a depender de cada caso e do genótipo.
Quando indicar, esquema padrão, tempo de tratamento e reconhecer as situações especiais? Vamos em frente então!
Os novos medicamentos ocasionam bem menos efeitos colaterais, no entanto, não são isentos deles. Portanto, os pacientes devem ser monitorizados de perto.
Todos devem coletar função renal, hemograma e função hepática no início do tratamento.
Pacientes em uso de ribavirina devem coletar função renal e hemograma nas semanas 4, 8 e 12, pelo risco de anemia. Pacientes cirróticos devem ter função hepática coletada periodicamente. Demais exames serão indicados conforme necessidade, baseado em sinais e sintomas clínicos.
Primeiro, cabe aqui que a resposta ao tratamento com as novas drogas antivirais é excelente! O objetivo do tratamento é a resposta virológica sustentada (RVS), e ele é atingido em mais de 90% dos casos!!
Para avaliar a RVS, solicitamos o exame de RNA-HCV (carga viral) na 12ª ou 24ª semana após o fim do tratamento. Caso indetectável, consideramos como RVS.
Agora, fique esperto… o tratamento não confere imunidade!
O paciente pode, sim, ser reinfectado pelo vírus C e deve ser orientado quanto a isso e aos cuidados necessários! Além disso, pacientes cirróticos devem ser acompanhados.
Já não se sente mais perdido quando o assunto são as novas drogas para o tratamento da hepatite C? Esse é o objetivo aqui! Claro que algumas particularidades ficam para quem trabalha nos centros de referência e o tratamento pode ser bem complexo.
Pulo do gato:
Mais importante, novamente, é saber que todos têm indicação de tratar, que existe um esquema coringa para quando não temos a genotipagem e que situações especiais devem ser tratadas de forma especial!
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Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.