Na área da Medicina, existem alguns assuntos pouco explorados na rotina de estudos e na prática clínica. Porém, nem por isso, eles deixam de ser interessantes. Pensando nisso, o que você conhece sobre a hepatite E?
Que tal aprender sobre essa doença que faz parte de um dos mais importantes conjuntos de patologias infecciosas da Medicina, as hepatites virais? Continue lendo para compreender mais sobre o que é hepatite E e quais são as principais consequências.
A hepatite é uma dos cinco tipos conhecidos de hepatite viral humana, provavelmente, a causa mais comum de hepatite aguda do mundo. Em países desenvolvidos, ela é incomum, mas, nos últimos anos, cada vez mais casos de infecção foram relatados. Ainda que esporádicos, eles chamam a atenção.
A transmissão fecal-oral favorece a disseminação da infecção nos países em desenvolvimento, onde a contaminação dos reservatórios de água mantém a cadeia de transmissão da doença. A transfusão de sangue ainda é uma rota potencial, mas rara, de transmissão do HEV, o vírus da hepatite E.
Inicialmente descrita em 1980, foi identificada como “hepatite epidêmica, não A, não B”: transmitida de forma semelhante à hepatite A, ou seja, de transmissão hídrica, causada por um vírus novo, que somente foi identificado e visualizado anos mais tarde, por meio de microscopia eletrônica, pelo virologista russo Mikhail Balayan.
O genoma viral foi sequenciado posteriormente, após isolamento em amostras experimentalmente infectadas de bile de macacos Cynomolgus. A melhor caracterização do RNA do HEV possibilitou o desenvolvimento de ensaios para anticorpos anti-HEV.
Afinal, por que é importante saber sobre hepatite E? Ela é a causa de inúmeras doenças que aparecem cotidianamente na prática clínica, como: insuficiência hepática aguda, hepatite crônica, cirrose e doença hepática terminal.
O causador da hepatite E é um pequeno vírus sem envelope, com um genoma de RNA de fita simples. A estrutura genômica é única e contém detalhes genéticos interessantes que definem a família Hepeviridae, da qual foi o primeiro membro a ser identificado (gênero Hepevirus).
O vírus se replica no citoplasma, com um RNA subgenômico, produzindo proteínas do capsídeo. O RNA genômico completo codifica proteínas não estruturais e serve como molde para a replicação. Existem quatro genótipos identificados, capazes de gerar infecção, que se encaixam em dois grupos principais.
Os genótipos 1 e 2 são vírus humanos identificados como causadores de hepatite epidêmica, associados à transmissão fecal-oral pela água. Os genótipos 3 e 4 são vírus suínos e parecem infectar humanos como um hospedeiro acidental.
A forma epidêmica é comum em países em desenvolvimento, associada à disseminação pela água, à doença aguda grave e à infecção com os genótipos 1 e 2.
A forma endêmica ou autóctone ocorre em países desenvolvidos, associada à disseminação zoonótica e alimentar leve, à doença subclínica e à infecção com os genótipos 3 e 4.
É importantíssimo dizer que há neutralização cruzada entre os quatro genótipos do vírus da hepatite E, indicando que eles pertencem a um único sorotipo, apesar das diferenças clínicas e epidemiológicas.
Recentemente, pesquisas demonstraram que eventos de recombinação do genoma viral, com inserções de sequência humana no RNA do HEV, podem alterar a capacidade replicativa, a especificidade do tecido e a patogenicidade do HEV, o que torna esse agente único entre os vírus da hepatite humana.
Agora que já explicamos o que causa hepatite E, como ela foi descoberta e quais são as principais características do vírus causador, podemos falar um pouco a respeito do diagnóstico da doença.
Como já dissemos, em países em desenvolvimento, a hepatite E ocorre esporadicamente como doença epidêmica. Ela é autolimitada e pode apresentar formas clínicas graves, principalmente em gestantes (hepatite E fulminante).
Clinicamente, a fase de incubação varia entre três e oito semanas, com uma fase prodrômica curta e um período de sintomas que dura dias ou várias semanas. Geralmente, a resolução da hepatite E, espontaneamente ou com terapia, é seguida pela remissão dos sintomas neurológicos.
Na forma autóctone (de surgimento local), o quadro clínico costuma ser mais grave que em na forma epidêmica, incluindo um amplo espectro de graves complicações, como insuficiência hepática “aguda sobre crônica” (sinais de insuficiência hepática, ascite e encefalopatia em pessoa com doença hepática preexistente), distúrbios neurológicos e hepatite crônica.
As manifestações extra-hepáticas relatadas da hepatite E incluem artrite, pancreatite e anemia aplásica ou complicações neurológicas, como polirradiculopatia, síndrome de Guillain-Barré, paralisia de Bell, ataxia e confusão mental.
Laboratorialmente, como em outras formas de hepatite viral, a viremia surge durante o período de incubação da hepatite E. No início das manifestações clínicas, os anticorpos (IgM e IgG) imediatamente precedem elevações nos níveis séricos de transaminases.
A recuperação é marcada pela eliminação viral, pelo aumento nos títulos de IgG e pela diminuição nos níveis de IgM. Todo esse processo é bastante variável em tempo, mas, em geral, o anticorpo IgM anti-HEV permanece detectável por apenas 3 a 12 meses, enquanto o anticorpo IgG anti-HEV persiste por anos ou toda a vida.
O HEV também está presente nas fezes, geralmente, durante o período de incubação, infecção ativa e parte inicial da recuperação.
Para diagnóstico laboratorial, estão disponíveis testes para anticorpos anti-HEV, mas, estatisticamente, ainda há uma imensa variação de dados sobre a sensibilidade e a especificidades dos testes. Isso é consequência das discrepâncias consideráveis entre as taxas publicadas de anticorpos anti-HEV em várias populações.
Testes de HEV-RNA no soro ou nas fezes são confirmatórios, mas ainda experimentais. Inicialmente, acreditava-se que, assim como a hepatite A, a hepatite E causava apenas infecções agudas e autolimitadas — o que ocorre na maioria dos casos.
Portanto, imaginem a surpresa quando os casos de hepatite E crônica foram descritos, ainda que identificados quase que exclusivamente em pessoas imunocomprometidas.
Alguns pacientes desenvolvem doença hepática progressiva com fibrose ou cirrose. O transplante de órgãos sólidos mostrou-se fonte bastante expressiva da infecção crônica. A redução do nível de supressão imunológica levou à eliminação viral espontânea em um terço dos pacientes em estudos realizados.
Quanto ao tratamento, ainda há muito que ser estudado, principalmente quando falamos de infecção aguda! Quanto à infecção crônica, relatos de casos individuais e pequenas séries de casos mostraram que peginterferon, ribavirina ou uma combinação dos dois agentes leva à depuração viral na maioria dos pacientes e à resposta sustentada em uma alta proporção de pacientes.
A ribavirina tem sido estudada para hepatite E aguda grave com resultados promissores. Em resumo: o tratamento da hepatite E ainda é experimental. Diretrizes não foram formuladas, nem a ribavirina nem o peginterferon foram aprovados para esse uso. A maioria dos casos, ainda que grave, é tratada com terapia de suporte.
Exatamente por isso, a prevenção da ocorrência é fundamental! Por ser uma zoonose, a contenção de animais é uma das principais medidas. Aliado a isso está o reforço das recomendações para o cozimento completo da carne de porco e a evitação de mariscos crus, principalmente para pacientes imunocomprometidos.
A hepatite E ainda pode ser prevenida por vacinação. Segundo estudos controlados, a vacina pode chegar a mais de 95% de eficácia com proteção cruzada contra diferentes genótipos de HEV.
Agora que você conheceu mais a respeito da hepatite E e as principais formas de manifestação, aproveite para acompanhar mais conteúdos como este aqui, no nosso blog. Assim, você melhora seu aprendizado e dá um passo à frente no caminho para a aprovação!
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Nascida em Franca/SP, em 92, formou-se em medicina pela PUC-Campinas, em 2018. Especialista em Clínica Médica pela UNICAMP e completamente apaixonada por essa área cheia de detalhes e interpretações. Filha de professora e de um ávido leitor, cresceu com muito amor pelo ensino também, unindo essa paixão à medicina.
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