E aí, pessoal! Tudo certo? Hoje nosso tema vai abordar uma condição clínica relativamente comum, a maioria das vezes assintomática, que costuma aparecer na sua prova de residência como um exame de imagem. É isso mesmo, hoje vamos falar um pouco sobre a hérnia hiatal!
Serão um total de três textos para abordar essa patologia, e nesse aqui vamos destrinchar o que é hérnia hiatal e seu quadro clínico.
A hérnia de hiato ocorre quando o estômago, que deveria estar na cavidade abdominal, se encontra parte ou totalmente na cavidade torácica. Ele faz essa troca de região se insinuando (ou seja, formando uma hérnia) pelo hiato do diafragma por onde o esôfago desce para entrar no abdome.
Dessa forma ilustrada aqui:
Abaixo podemos ver as duas formas de hérnia hiatal:
Vale ressaltar que essa patologia por rolamento é a mais grave, pois pode cursar com isquemia e necrose do estômago em 1% dos casos por ano, além de poder ser precursora de volvo gástrico (já tem texto disso aqui no blog, se não souber o que é, dêem uma pesquisada!).
Além disso, não é só o estômago que hernia por esse espaço. Há relatos de baço, colon, intestino delgado, omento e pâncreas migrando para cavidade torácica também.
Ainda não se sabe ao certo porque essas hérnias acontecem, porém alguns estudos sugerem:
Dessa forma, os fatores de risco para desenvolver hérnia hiatal são idade (de preferência acima dos 50 anos), ser mulher e estar acima do peso.
Agora que você já sabe o que é, precisa saber como suspeitar que seu paciente tenha hérnia de hiato. A maioria desse tipo de doença é assintomático, sendo apenas achados de exames, como o da imagem a seguir:
Quando sintomático, tem apresentação muito inespecífica, com dor no peito principalmente após as refeições, problemas para engolir, arrotos frequentes, gosto ruim na boca, vômitos, respirações curtas (pela compressão do pulmão pelo estômago). Mas o mais importante deles é a associação com doença do refluxo gastroesofágico e seus sintomas.
Antigamente, achava-se que hérnia hiatal era igual a refluxo gastroesofágico, e as cirurgias de correção do refluxo eram unicamente a solução. Porém, com o avanço dos exames, foi visto que a patologia não era uma condição necessária para ter o refluxo, ou seja, pessoas sem hérnia de hiato tinham refluxo e os pacientes com essa alteração não tinham refluxo.
O que acontece é que pacientes com hérnia hiatal por deslizamento tem a mucosa esofágica mais exposta ao suco gástrico, o que favorece a irritação da mucosa do órgão e o aparecimento do refluxo. Mas apenas a presença da doença não tem influência na competência do esfíncter esofageano inferior e na junção gastroesofágica.
Também é bom lembrar que, se dor forte e intermitente no peito e na região epigástrica, ou sangramentos exteriorizados, podemos estar frente a isquemia e necrose da hérnia hiatal, que podem estar sendo causadas por compressão do hiato sob o parênquima do órgão ou por uma torção (volvo).
Bom, dessa primeira parte é isso galera. No próximo texto a gente vai falar mais sobre como diagnosticar a hérnia de hiato, então não perca nossos próximos texto do Blog da Medway!
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Até mais!
Referências
Greenfield’s surgery : scientific principles and practice / editors, Michael W. Mulholland, Keith D. Lillemoe, Gerard Doherty, Gilbert R. Upchurch, Jr., Hasan B. Alam, Timothy M. Pawlik ; illustrations by Holly R. Fischer. Sixth edition. | Philadelphia : Wolters Kluwer, [2017]
Sabiston – Tratado de Cirurgia – Townsend, Courtney; Beauchamp,Daniel – 2 Volumes – 18ª Ed. Cirurgia Vascular: Doenças Vasculares Periféricas, 4ª edição, volume 01 e 02 Maffei, Lastória, Yoshida, Rollo, Giannini, Moura.
Médica pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro com residência em Cirurgia Geral pela Unifesp.