Hipocalcemia para você dominar de vez

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Galera, o post hoje é sobre hipocalcemia! O objetivo aqui é saber as principais causas e como manejar cada situação. Mas antes de tudo, vamos revisar e solidificar alguns conceitos.

O que é o cálcio?

O cálcio é um elemento químico. Um metal da família dos alcalino-terrosos (e refere a observação de que quando solubilizados em água esses óxidos têm caráter básico)

Por que o cálcio é importante?

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Voltando ao nosso tema, o cálcio é necessário para que ocorra estes processos intracelulares:

  • contração dos músculos (mm) esqueléticos
  • é um intermediário da resposta celular a vários hormônios (adrenalina/glucagon/vasopressina (ADH)…)
  • é necessário para a condução do sistema nervoso central (SNC)
  • cascata de coagulação sanguínea.

Existem 2 tipos de cálcio: qual a diferença entre eles?

1. Cálcio iônico (livre): forma fisiologicamente ativa (ou seja, sujeito a transporte para as células) – 50% do cálcio corporal. 
Valor de referência: 4,64 a 5,28 mg/dL*

2. Cálcio total: forma ligada às proteínas, principalmente à albumina.
Valor de referência: 8,8 a 10,4 mg/dL*

Fórmula de correção do cálcio total pela albumina:
[Ca total + 0.8 x (4 – albumina do paciente)]

*Pode variar conforme idade, laboratório e condições clínicas subjacentes. 

Apesar disso, 99% do cálcio corporal está nos ossos (em forma de cristais de hidroxiapatita)

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No dia a dia, qual idealmente dosar?

Cálcio iônico! Porque o cálcio no soro liga-se às proteínas, certo? Sendo assim, as concentrações de albumina vão interferir no resultado do cálcio sérico total. Sendo assim, o cálcio iônico (ou livre), por ser a forma fisiologicamente ativa, é mais fidedigno. Tendo essas informações básicas em mente, vamos ao principal!

Hipocalcemia

Relembrando… valores de referência:

  • Cálcio iônico: 4,64 a 5,28 mg/dL;
  • Cálcio total:  8,8 a 10,4 mg/dL.

Qual a definição de hipocalcemia? Níveis de cálcio sérico abaixo do limite inferior do laboratório vigente. 

E quais são as causas de hipocalcemia? Vamos explicar de maneira simples:

1. Pouco cálcio entrando no sangue (mais comum)
2. Muito cálcio saindo do sangue
3. Falsa/pseudo hipocalcemia: distúrbios que alteram a albumina (ex: o cálcio total varia na sobrecarga de volume, doença crônica, desnutrição e síndrome nefrótica). A concentração sérica de cálcio cai 0,8mg/dL a cada 1g de redução da albumina sérica… 0,8mg : 1g lembre assim.

PTH BAIXO hipoparatireoidismoPTH ALTO hiperparatireoidismo   
O PTH estará baixo quando houver DESTRUIÇÃO das glândulas paratireoides. A mais comum aqui é a CIRÚRGICA.PTH aumentado em resposta às baixas concentrações de cálcio (tentativa de mobilizar cálcio dos RINS e OSSOS e aumentar produção de vit. D ativa.
Destruição das paratireoides (cirúrgico; autoimune; hemocromatose; dça de Wilson; neoplasias)
Deficiência ou resistência de Vitamina D 
Desenvolvimento anormal das paratireoides (Sindrome de Digeorge)Doença renal crônica – estágio final (para de produzir 1,25 di-hidroxivitamina D) 
Hiperfosfatemia (cálcio depositado principalmente no osso)
Metástases osteoblásticas (mama ou próstata)
Pancreatite aguda / Sepse ou doença grave /Sindrome choque tóxico 

Não relacionado ao PTH

  • Alcalose respiratória aguda (aumenta ligação do cálcio pela albumina, diminui cálcio ionizado sanguíneo);
  • Hipomagnesemia (Mg < 1 mg/dL) facilita a resistência ao PTH por feedback negativo (magnésio cai, cálcio cai).

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Quadro clínico e exame físico da hipocalcemia

Sinal de Chvostek: contração dos músculos ipsilaterais provocados pela palpação/batida do nervo facial anterior à orelha. Espera-se contração do lábio e, nos casos mais graves, espasmo de todos os músculos faciais

Sinal de Chvostek, parte do exame físico da hipocalcemia.
Fonte: Up To Date.

Sinal de Trousseau: espasmo do músculo carpal. Infla-se o manguito do esfigmomanômetro 20mmHg ACIMA da pressão sistólica do paciente, por 3 minutos. A artéria braquial será ocluída e o espasmo ocorrerá, se houver hipocalcemia. 

Sinal de Trousseau, parte do exame físico da hipocalcemia.
Fonte: Up To Date.

Tratamento da hipocalcemia

A forma de reposição do cálcio vai depender dos sintomas!

Sintomas leves

Sintomas inespecíficos ou cálcio corrigido entre 7,5 e 8,6 aprox.

  • Carbonato de cálcio 500mg VO 8/8h (separado das refeições!)

Sintomas graves

Espasmo do carpo, tetania, convulsões, intervalo QT prolongado, arritmias, insuficiência cardíaca. Ou cálcio corrigido < ou igual a 7,5 mg/Dl.

  • Ataque: Gluconato de cálcio 10%  20ml +  pode ser com SG5% ou SF 0,9% – 50mL EV, correr em 20 min.
  • Manutenção: Gluconato de Cálcio 10% 110mL + SG5% ou SF 0,9% 890mL EV – correr 50ml/hora em 24h. 
  • Se disfunção renal, deficiência de vitamina D e/ou hipoparatireoidismo:
    Calcitriol (forma ativa da vitamina D) 0,25-0,5 mcg VO 12/12h por 4-12 semanas.

Atenção aos outros distúrbios hidroeletrolíticos

Fazer o diagnóstico dos principais distúrbios hidroeletrolíticos e seu manejo emergencial, é fundamental para qualquer médico. Por isso, fique atento aos distúrbios abaixo e, para mais uma ajudinha, dê uma olhada no nosso e-book gratuito Desmistificando a gasometria: distúrbios hidroeletrolíticos, que vai te mostrar como identificar os principais distúrbios hidroeletrolítico, suas principais etiologias e como manejá-los no dia a dia.

  • Magnésio: se baixo, corrigi-lo primeiro. Sulfato de Magnésio 10% – 20mL EV em 10 min (diluir em 100mL de SF 0,9%)
  • Fosfato: se alto devido a síndrome de lise tumoral, tratamento específico deve ser feito com hemodiálise.

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JoãoVitor

João Vitor

Capixaba, nascido em 90. Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e com formação em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e Administração em Saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Apaixonado por aprender e ensinar. Siga no Instagram: @joaovitorsfernando