HIV/AIDS: tudo que você precisa saber

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Você sabia que há mais de 37 milhões de pessoas convivendo com HIV/AIDS no mundo? No ano de 2020, segundo a OMS, mais de 1,5 milhões de pessoas contraíram a doença. 

Devido à magnitude da doença, é importante que você, médico não especialista, residente ou estudante saiba o que é HIV/AIDS. Para isso, preparamos um resumo completo com os principais pontos de atenção. Continue a leitura para dominar esse assunto!

O que é o HIV?

O HIV é um vírus de replicação lenta, considerado um retrovírus que pertence à família dos lentivírus. Por esse motivo, os pacientes que adquirem a infecção permanecem assintomáticos por um período médio de dez anos até desenvolverem a imunodeficiência mais severa.

O HIV tem duas cepas principais: HIV 1 e HIV 2. A primeira é a mais prevalente no mundo, sendo a mais patogênica também. Ambas advêm de um vírus chamado SIV (Simian Immunodeficiency Virus), que acomete primatas não humanos (em especial, os chimpanzés). 

Historicamente, há evidências de que as transmissões esporádicas do HIV para humanos ocorrem desde 1900. Algum leitor cinéfilo pode pensar: “tem algo errado! Eu vi o filme Filadélfia, com o Tom Hanks, o do Cazuza, e Somos tão Jovens, do Legião Urbana, em que todas as histórias são da década de 80! Tenho certeza que o HIV é muito mais recente”. 

Mesmo havendo transmissão de HIV desde 1900 nas tribos africanas, o vírus só começou a chamar a atenção da ciência em 1980. O que aconteceu foi uma explosão de casos de imunodeficiência e infecções oportunistas inexplicáveis nos homens homossexuais. Esses surtos se iniciaram nos centros urbanos de grandes metrópoles, mas, na época, não era fácil identificar e sequenciar um novo vírus. 

Por isso, a identificação do vírus do HIV levou mais de dois anos. Antes disso, a comunidade desconhecia a causa dessa doença terrível que levava à morte por pneumocistose, criptococose, tuberculose e outras complicações. Atualmente, graças à melhoria das técnicas de biologia molecular e às novas técnicas de sequenciamento genético, a identificação de espécies ficou muito mais rápida.

Como o vírus do HIV age?

O vírus invade os linfócitos, os monócitos e os macrófagos por meio de receptores CD4 presentes na superfície dessas células. O HIV liga-se nos co-receptores CCR5 e CXCR4 pela proteína do envelope viral, chamada env. Cada subtipo viral pode ter tropismo mais acentuado por um ou outro co-receptor. 

A título de curiosidade, se um paciente nasce com a ausência do receptor CCR5 e infecta-se com um vírus com 100% de tropismo pelo receptor CCR5, o vírus não invade a célula. 

Depois que o HIV está na célula, libera o RNA no citoplasma. Esse material genético vai passar por um processo chamado transcrição reversa, intermediado por uma enzima chamada transcriptase reversa. Nessa fase, agem os medicamentos chamados de inibidores da transcriptase reversa (zidovudina, lamivudina, tenofovir, emtricitabina, nevirapina, efavirenz e outros).

Essas medicações atuam impedindo o processo de transcrição reversa. Portanto, não permitem a formação do DNA viral, necessário para o vírus formar o complexo de pré-integração. Sem a formação do DNA, o vírus não consegue misturar o próprio material genético com o material genético contido no núcleo celular.

O que acontece se o vírus integrar-se?

Se o vírus conseguir passar pelo processo de integração, será capaz de integrar-se ao conteúdo genético do núcleo celular do hospedeiro e replicar-se. Esse processo ocorre por uma enzima denominada integrase. Nesse ponto, a terapia medicamentosa usa inibidores da integrase, drogas que impedem a integração do DNA viral ao núcleo celular, como dolutegravir e raltegravir.

Hoje, as bases da terapia antirretroviral (TARV) são a utilização concomitante de inibidores de integrase (dolutegravir) com inibidores de transcriptase reversa (tenofovir + lamivudina). 

Existem inibidores de integrase mais recentes, como o bictegravir, uma medicação injetável mensal ou bimestral. Em uma comparação com outros medicamentos, ele se assemelha a um acetato de medroxiprogesterona. 

Imagina que maravilha fazer tratamento injetável mensal intramuscular para o HIV. Com isso, diversos pacientes poderiam ser beneficiados, como os que apresentam doenças psíquicas, drogadição ou estão em situação de rua. Apesar disso já ser realidade, ainda não acontece no Brasil. 

Quadro atual do HIV

Nos dias atuais, a maioria dos jovens possui vida sexual ativa, sentem-se saudáveis e com alto sexy appeal. Somado a isso, todos possuem smartphones com vários aplicativos para encontros casuais e nem sempre se previnem. Isso é refletido no aumento dos casos de HIV na população entre 18 e 25 anos, especialmente, no público LGBTQI+, mais precisamente nos homens homossexuais.

Como podemos mudar essa situação?

O único meio de diagnosticar e controlar a propagação é pela testagem em massa. Ou seja, é preciso rastrear os indivíduos frequentemente para diagnosticá-los o mais breve possível e iniciar o tratamento antes da evolução para o quadro de síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA/AIDS). O intuito é interromper o ciclo de transmissão o mais rápido possível.

Para isso, as estratégias de prevenção de HIV estão em constante evolução. A chamada PREP (profilaxia pré-exposição) consiste no uso de medicamentos orais (tenofovir + emtrecitabina) de forma profilática. Outra estratégia cada vez mais divulgada é a PEP (profilaxia pós-exposição), medicamentos para prevenir o contágio após uma exposição de risco.

Como as estratégias de prevenção funcionam?

Assim como todo remédio, a PREP possui efeitos colaterais, como o risco de insuficiência renal e a perda de massa óssea. Além disso, aqueles que usam PREP devem seguir com a coleta trimestral de sorologias, já que a estratégia é eficaz contra o HIV, mas não contra outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como hepatite C, sífilis, clamídia e gonorreia. Portanto, a PREP não pode e nem deve substituir a utilização da camisinha.

Já os remédios da PEP são os mesmos utilizados para iniciar a terapia antirretroviral (TARV) nos pacientes diagnosticados com a doença. Conforme mencionado anteriormente, os medicamentos são tenofovir + lamivudina (inibidores da transcriptase reversa) e dolutegravir (inibidor da integrase). 

O tempo é crucial na hora de indicar a profilaxia. A PEP deve ser iniciada em até 72h após a exposição. Quanto antes, melhor a eficácia.

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AnuarSaleh

Anuar Saleh

Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.