Fala, galera! Vamos falar sobre a leptospirose, doença que preocupa em época de chuvas e enchentes. Em 2023 (até o dia 7 de fevereiro) já temos 19 casos confirmados da famosa “doença do rato” no estado de São Paulo.
Vale a pena relembrar que no início desse ano tivemos enchentes, principalmente no litoral norte do estado. Até no TikTok a leptospirose ficou famosa, depois do relato da jovem que se contaminou em um festival de rap. Sendo assim, não precisamos nem salientar a importância desse assunto… Bora lá!
A leptospirose é uma zoonose causada por uma bactéria espiroqueta chamada Leptospira interrogans e tem nos roedores (principalmente ratos) o seu hospedeiro natural. A doença do rato, apelido carinhoso, é uma doença infecciosa febril aguda, sendo transmitida pelo contato com urina de animais infectados ou água e lama contaminadas com a espiroqueta.
Essa bactéria penetra na pele por lesões cutâneas, ou pela pele íntegra em contato prolongado com água contaminada, ou contato com mucosas.
Bom, galera, vamos entender como o paciente se apresenta e quando vamos desconfiar da leptospirose. A primeira coisa que temos que ter em mente é que essa doença tem quadro clínico variável, podendo ser assintomática ou muito grave.
O período de incubação pode ser de 1 a 30 dias. Vamos dividir as apresentações clínicas da leptospirose em duas fases: precoce e tardia. Foca aí!
Na fase precoce a leptospirose se manifesta com febre de início súbito, mialgia, náuseas e vômitos, podendo ocorrer diarreia, artralgia, hiperemia conjuntival e até mesmo exantema. Lembra bastante uma “virose” e melhora em 3 a 7 dias, sendo autolimitada.
Como é uma doença muito parecida com outras síndromes febris, temos que saber alguns achados característicos da leptospirose: sufusão conjuntival e mialgia intensa, principalmente nas panturrilhas.
A sufusão conjuntival pode ser observada em cerca de 30% dos pacientes e nada mais é do que hiperemia e edema da conjuntiva. Acontece que nenhum desses sinais clínicos são muito sensíveis ou específicos da leptospirose.
Por isso, é muito importante colher uma boa anamnese e perguntar exposição a enchentes, lama ou urina de animais contaminados. Desconfiou de leptospirose, tem que notificar em até 24 horas!
Aqui temos a evolução para formas graves da doença, podendo ocorrer em 10-15% dos casos. Talvez você já tenha ouvido falar ou lido aqui no nosso blog sobre a síndrome de Weil.
Pois é, essa é a manifestação clássica da leptospirose grave, caracterizada pela tríade: icterícia, insuficiência renal aguda (normalmente com hipocalemia) e hemorragias (principalmente pulmonar).
A primeira tarefa é pedir exames laboratoriais gerais para o paciente. Na leptospirose podemos ter hipocalemia, AST e ALT aumentadas (até 500 UI/dl), aumento de bilirrubina direta, neutrofilia com desvio a esquerda e CPK aumentada.
Para fins diagnósticos, vamos usar os métodos sorológicos: ELISA-IgM e a microaglutinação (MAT).
O tratamento da Leptospirose é feito com antibióticos. A antibioticoterapia pode ser iniciada em qualquer período da doença, mas quanto mais cedo, melhor.
Lembram da reação de Jarisch-Herxheimer? Tudo bem, é rara, então vamos relembrar: é uma reação de início súbito, com febre, calafrios, cefaleia, mialgia e piora de exantemas, por conta da abundante quantidade de toxinas liberadas pela morte das espiroquetas após o início do antibiótico.
Tudo isso para dizer que mesmo com essa reação, o antibiótico deve ser mantido!
Na fase precoce vamos prescrever Amoxicilina: 500 mg, via oral, 8/8h, por 5 a 7 dias ou Doxiciclina 100 mg, via oral, 12/12h, por 5 a 7 dias. Nas formas graves precisaremos usar medicamentos intravenosos (IV): Penicilina G Cristalina 1,5 milhões UI, IV, de 6/6 horas, ou Ampicilina 1 g, IV, 6/6h, ou Ceftriaxona 1 a 2 g, IV, 24/24h ou Cefotaxima 1 g, IV, 6/6h.
Agora você conhece mais sobre a leptospirose! Então, confira outros conteúdos que publicamos aqui no Blog. Eles foram feitos especialmente para você mandar bem no seu plantão e ficar por dentro dos mais variados assuntos.
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Sou uma médica com muito interesse em pesquisa, extensão e ensino. Residência em Clínica Médica pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e formada em Medicina pela Universidade Federal do Paraná. Já fui bolsista CAPES pelo programa de intercâmbios Ciências Sem Fronteiras, de 2015-2016, e cursei Medicina na "Università Degli Studi di Roma La Sapienza", em Roma, Itália. Muito feliz em fazer parte da equipe Medway!