Líquido ascítico quiloso: conceito, etiologias relacionadas e tratamento

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Você acha que sabe tudo sobre ascite e líquido ascítico quiloso? Olha só: atendimento no plantão e você já identifica clinicamente o acúmulo de líquido na cavidade peritoneal! Realiza a paracentese diagnóstica e — opa! O líquido ascítico é leitoso e, além disso, o bioquímico te liga para falar que a concentração de triglicérides é maior do que 200 mg/dl.

E aí, você pensaria em líquido ascítico quiloso? Sabe quais as etiologias relacionadas? Sem estresse, pois hoje vamos tirar todas as suas dúvidas!

Hoje vamos te falar tudo que você precisa saber sobre líquido ascítico quiloso?

Primeiro: o que é líquido ascítico quiloso?

O líquido ascítico quiloso, ou ascite quilosa, é uma condição RARA, que se caracteriza por líquido ascítico leitoso e rico em triglicerídeos (>200 mg/dl). Sua fisiopatologia está relacionada à presença de linfa (líquido intersticial, que drena para o sistema linfático) torácica ou intestinal na cavidade abdominal. 

Pegou o conceito? Hora de discutir as etiologias relacionadas!

  • Malignidade: se o paciente tem ascite quilosa, a primeira coisa que eu tenho que pensar é em malignidade. Aqui, o líquido ascítico quiloso é resultado da obstrução e invasão dos canais linfáticos — e o linfoma é o principal culpado! Para não ser injusto, consideremos também outros potenciais responsáveis pelo acúmulo de líquido cavitário: CA de mama, esôfago, pâncreas e cólon;
  • Cirrose: menos de 1% dos pacientes cirróticos apresentam líquido ascítico quiloso, e se ocorre, normalmente de forma tardia e relacionado ao carcinoma hepatocelular (olha o link com malginidade, hein?);
  • Infeccioso: um coringa em qualquer discussão de caso clínico, com qualquer staff! Quando temos um paciente com ascite, sempre temos que pensar em tuberculose, e na ascite quilosa não é diferente: tuberculose e filariose são as principais causas infecciosas;
  • Congênito: criança com ascite quilosa? Um pouco mais específico, né? Mas para o resumo ficar completo, anota aí: pensar anormalidades linfáticas congênitas como Hipoplasia Linfática Primária e Síndrome de Klippel-Trenaunay;
  • Inflamatório: processos inflamatórios que cursam com fibrose, obstrução ou compressão dos vasos linfáticos como radioterapia, pancreatite ou pericardite constritiva podem estar relacionados à líquido ascítico quiloso;
  • Pós-operatório/traumático: mesmo raciocínio: rompimento, aderências (as famosas bridas) e compressões dos vasos linfáticos pós procedimento cirúrgico ou mesmo trauma, podem resultar em formação de líquido ascítico quiloso.

Mas vocês falaram em paracentese diagnóstica? Cadê a análise do líquido?

Fiz o diagnóstico de ascite quilosa, todas essas etiologias estão na minha cabeça… mas por onde eu começo? 

Ué, ainda é uma ascite, não é? Então vamos analisar esse líquido ascítico quiloso já pensando nas principais etiologias que discutimos acima, ok?

CORLeitoso e turvo
NÍVEL DE TRIGLICERÍDEOSAcima de 200mg/dl
CONTAGEM DE CÉLULASAcima de 500 (predominância de linfócitos)
PROTEÍNA TOTALEntre 2,5 – 7,0 g/dl
ALBUMINA SORO/ASCITEAbaixo de 1,1 g/dl
COLESTEROLBaixo (proporção ascíte/soro <1)
LACTATO DESIDROGENASEEntre 110-200 UI/L
CULTURAPositiva em casos selecionados de tuberculose
ADENOSINA DESAMINASEElevado em casos de tuberculose
CITOLOGIAPositivo em malignidade
GLICOSEAbaixo de 100mg/dl
AMILASEElevado (>40U/L) em casos de pancreatite aguda ou crônica

Precisa pedir exame de imagem ao analisar líquido ascítico quiloso?

Sim! Os exames de imagem podem auxiliar a identificar a etiologia! 

A tomografia é útil para avaliar presença de neoplasias, linfonodos intra-abdominais suspeitos e identificar lesões dos ductos linfáticos. Mas a linfangiografia é o exame padrão-ouro para identificar as obstruções e locais do vazamento, podendo ser, além de diagnóstica, terapêutica quando é realizada a embolização desses locais de vazamento.

Por fim: orientações e cuidados com o paciente

E o manejo? Além do tratamento com base na etiologia, os pacientes podem se beneficiar de:

  • Dieta rica em proteínas;
  • Dieta com baixa ingesta de gorduras;
  • Suplementação de triglicerídeos de cadeia média.

O nome líquido ascítico quiloso e a raridade do quadro podem te deixar inseguro, mas não aqui! Vem na revisão que não tem erro: 
Tem ascite → TG >200 mg/dl → Análise do líquido ascítico quiloso → TC/Linfangiografia → Tratar causa base  

Beleza, galera? Agora pode ter certeza que esse débito leitoso em uma paracentese não vai te deixar confuso, pois estamos craques! Definição, etiologia, diagnóstico e cuidados… tudo na ponta da língua!

Mas antes de você ir, só mais uma dica! Se você ainda não domina o plantão de pronto-socorro 100%, temos um material que pode te ajudar com isso: o nosso Guia de Prescrições! Com ele, você vai estar muito mais preparado para atuar em qualquer sala de emergência do Brasil.

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Grande abraço e até a próxima!

* Colaborou Amanda Rodrigues Vale, graduanda do 5º ano de Medicina na Universidade Federal de São Carlos

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AnuarSaleh

Anuar Saleh

Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.