Há quem diga que a consulta é um setting e tem um roteiro a ser seguido. Há quem não siga modelos e esteja em uma busca constante por uma maneira própria de fazer medicina. São muitas possibilidades! Você ainda não sabe como melhorar a efetividade das consultas? Então, conheça o MCCP!
Embora existam vários modelos para o desenvolvimento de uma consulta, com pontos fortes e limitações, o Método Clínico Centrado na Pessoa, conhecido como MCCP, é um favorito, especialmente entre os médicos de família.
A relação entre um médico e uma pessoa é uma atividade central na medicina e merece nossa atenção. Não estamos aqui para dizer o que é certo e errado, mas esperamos que, ao fim da leitura, você tenha conhecido uma estratégia que busca bom manejo do cenário e organização da consulta médica.
O método MCCP envolve uma investigação integrada e apropriada das queixas de pessoas que sentem e experimentam dores e sensações, do físico ao psicossocial. Você deve se perguntar: mas toda consulta não é centrada na pessoa?
Pode parecer básico demais, mas, em geral, as consultas têm como enfoque central a doença. Entretanto, esse método clínico da medicina é uma construção ampla da relação médico-paciente. Para ser verdadeiramente centrado na pessoa, o médico precisa ser capaz de dar poder a quem divide a consulta com ele.
É muito importante dizer que o MCCP não minimiza as competências técnicas do médico, pelo contrário, é um dos aspectos que garante a confiança nessa relação. A construção do vínculo, embora seja uma habilidade técnica, permite afetividade e cumplicidade. Confira abaixo como funciona.
Precisamos definir “disease” e “illness”. Compreender que saúde é um conceito subjetivo e individual, e que doença (“disease”) e experiência da pessoa com essa doença (“illness”) são coisas diferentes é fundamental para a prestação de um cuidado integral efetivo.
Certamente você já vivenciou na sua prática médica pessoas assintomáticas com doenças graves que não se sentem doentes e pessoas assintomáticas e sem doenças, mas que se sentem muito doentes.
Quando exploramos a experiência da doença por meio do MCCP, estamos menos propensos a investigar desnecessariamente alguma patologia, realizar tratamentos inadequados, entre outras potenciais iatrogenias.
Pergunte ao seu paciente: “O que mais está preocupando você?”. Faça questionamentos abertos e deixe a pessoa falar sem interrupções por cerca de dois minutos. Com isso, obterá praticamente tudo o que precisa saber para manejar o problema daquela consulta.
Além disso, outro método clínico centrado na pessoa é o SIFE — Sentimentos, Ideias, Funcionamento de vida, Expectativas —, acrônimo para explorar a experiência da doença. É um assunto importante para ser explorado com foco na melhoria da abordagem de pacientes.
Esse componente pode ser resumido em uma palavra: integralidade. A continuidade do cuidado é uma aliada nesse sentido. Aos poucos, o médico de família passa a conhecer a pessoa, a família, as crenças e todo o entorno que influencia o cuidado.
Com todo esse conhecimento, é possível prevenir e dimensionar problemas inerentes às etapas do ciclo de vida. Busque entender em que ponto do ciclo vital essa pessoa e essa família estão e construa um genograma, um elemento visual dinâmico que permite planejamento de intervenções.
Muitas vezes ficamos frustrados, pois os pacientes relutam nas nossas condutas. Não entendemos a dificuldade de seguir uma receita. Aos hiperutilizadores, então, recaem muitas denominações.
A não adesão pode ser só a manifestação de uma discordância sobre o plano de tratamento. Discordância aqui não se refere ao embasamento técnico do paciente para discordar do médico. Trata-se, na verdade, de um plano de cuidados cujas possibilidades não foram discutidas e esclarecidas em conjunto. Portanto, não fará sentido para a pessoa que irá executar.
Busque definir um problema a ser manejado. Entender que seus sintomas têm um nome ajuda a pessoa a compreender o processo.
Não podemos confundir os conceitos. Relação remete a relacionamento terapêutico. Na continuidade do cuidado, busca trabalhar em conjunto em prol de melhorias para o paciente.
Cada contato pode ser usado para construir a relação entre a pessoa e o médico. Para se aprofundar nisso, sugerimos destrinchar um pouco sobre transferência e contratransferência.
Não precisamos de consultas longas para construir relacionamento terapêutico. Ao contrário, embora possa parecer vantajoso, consultas longas não necessariamente são produtivas. O tempo deve ser administrado conforme a necessidade de cada caso.
Um estudo conduzido por Zolnierek e DiMatteo (2009) avaliou 106 estudos sobre as variáveis de comunicação e o resultado da adesão das pessoas, e mais 21 estudos sobre o treinamento para a comunicação e os resultados para a saúde.
Os 106 estudos realizados concluíram que havia um risco 19% maior de não adesão das pessoas cujo médico era um mau comunicador.
Agora você sabe mais sobre o MCCP! Então, confira outros conteúdos que publicamos no blog e aproveite para conferir a Academia Medway. Por lá, disponibilizamos diversos conteúdos gratuitos sobre diversas práticas de Medicina de Emergência.
Capixaba desde 1992. Formada pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Residência em Medicina de Família e Comunidade pelo querido Conça (Grupo Hospitalar Conceição), no Rio Grande do Sul. Residência em Cuidados Paliativos também pelo GHC. Trocar experiências amplia e ultrapassa qualquer fronteira. Ensinar é aprender junto! Entusiasta de cuidado e de pessoas!